Mercosul invocará cláusula democrática para suspender Venezuela do bloco imediatamente, diz fonte
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Mercosul vai acelerar a adoção da cláusula democrática contra a Venezuela e decidir pela suspensão imediata do país no bloco em uma reunião de chanceleres neste sábado, em São Paulo, disse à Reuters uma fonte que acompanha as negociações.
A intenção inicial era que o processo de suspensão previsto no chamado Protocolo de Ushuaia fosse finalizado apenas no final deste ano. Na presidência pro tempore do bloco, o governo brasileira pretendia cumprir todas as fases previstas no processo durante os próximos meses --as chamadas "consultas" com o governo venezuelano, conversas diplomáticas em que se apontam ao país os problemas democráticos e espera-se uma resposta-- para evitar que a Venezuela alegasse um cerceamento de defesa.
No entanto, o aprofundamento da crise nos últimos dias acelerou o processo. A avaliação foi de que a insistência do governo de Nicolás Maduro em realizar as eleições para a Assembleia Constituinte, apesar das pressões externas, a volta para a prisão de opositores do regime como Leopoldo López e Antonio Ledezma e as denúncias de fraudes nas eleições levaram a Venezuela a um caminho sem volta.
O Mercosul convidou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para uma sessão de diálogo com a oposição do país no Brasil com a intermediação do bloco. A oferta, recusada, já foi considerada como a etapa de consultas, um sinal de que a Venezuela não está aberta a aceitar mudanças no regime.
Na prática, a suspensão pela cláusula democrática não trará grandes mudanças para o país, já suspenso desde dezembro de 2016, mas por descumprir as normas de adesão ao bloco. Não há previsão de expulsão no regramento do Mercosul.
No entanto, na atual situação o país teria de ser readmitido no bloco caso se tenha interesse e resolva adotar as normas econômicas que não cumpriu até hoje. Com a suspensão pela cláusula democrática, a Venezuela só volta ao Mercosul com uma mudança no regime, incluindo eleições avaliadas como democráticas e sinais de que as instituições estão realmente funcionando.
O Protocolo de Ushuaia é mais duro e prevê inclusive o fechamento de fronteiras, do tráfego aéreo e marítimo, a suspensão total ou parcial do comércio e do fornecimento de energia, se os países assim o desejarem.
De um modo geral, isso não deve acontecer. Uma das decisões do bloco é evitar medidas que prejudiquem ainda mais a população venezuelana, que já vive com a escassez de comida, medicamentos e outras necessidades básicas. A aplicação do protocolo seria mais uma mensagem política.
Para que a suspensão ocorra de fato é necessário que haja uma decisão unânime entre os quatro países do bloco --Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai-- o que não deve ser problema desta vez.
Na última reunião do Mercosul, em julho, o governo uruguaio conseguiu baixar o tom da nota sobre a Venezuela, ainda apostando nas negociações. Antes, no entanto, os países do bloco haviam concordado, em abril, com a abertura do processo de aplicação do protocolo.
Questionada sobre a possibilidade do Uruguai relutar agora, a fonte ouvida pela Reuters afirmou ser "improvável".
Em julho, o presidente da Argentina, Maurício Macri, já havia ameaçado a Venezuela com a suspensão definitiva se Maduro mantivesse a criação da Assembleia Constituinte, condenada pela comunidade internacional como uma tentativa de estender indefinidamente o regime chavista.
Nesta quinta-feira, em declaração a uma rádio, em Mar del Plata, Macri voltou a defender a suspensão e disse ser inaceitável o que acontece na Venezuela.
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