PSDB deve manter apoio a Temer com "condicionantes" após decisão do TSE
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Principal parceiro do governo, o PSDB deverá manter o apoio ao presidente Michel Temer com "condicionantes" após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolvê-lo no processo que poderia cassá-lo, na avaliação de importantes quadros da legenda ouvidos pela Reuters.
A Executiva Nacional do partido realiza na tarde desta segunda-feira uma reunião para avaliar a situação do governo e decidir se permanece avalizando Temer, que está sob pressão também por ser alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal por suspeita de ter praticado os crimes de organização criminosa, corrupção passiva e obstrução de Justiça.
A avaliação de tucanos é que a absolvição pelo TSE --em processo originalmente movido pelo PSDB-- deu um fôlego para Temer continuar à frente do Palácio do Planalto e seguir na condução da agenda de reformas, tida como principal motivo para o respaldo da legenda ao governo.
Contudo, esse apoio está ligado ao não surgimento de fatos novos que venham a inviabilizar a gestão do peemedebista, segundo critérios desses dirigentes.
Entre as condicionantes, estão tanto o peso das acusações que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fará contra Temer no episódio envolvendo a delação da JBS e uma eventual paralisia na tramitação das reformas no Congresso, em especial a da Previdência, além da possível desidratação do texto dessa reforma para agradar ao restante da base aliada.
Para evitar o rompimento com o governo, medida que tem sido cobrada em sua maioria pelos integrantes mais jovens da legenda, a cúpula tucana faz o seguinte cálculo: o partido quer firmar um pacto de "reciprocidade" com o PMDB, o maior partido do país, a fim de viabilizar uma candidatura presidencial em 2018, seja do governador paulista, Geraldo Alckmin, do prefeito paulistano, João Dória, ou de outro nome da legenda.
Afastar-se dos peemedebistas poderia levar ao isolamento do PSDB em relação a outras legendas que rondam o espectro político do governo, como o DEM e o PPS, com prováveis prejuízos no próximo ano em termos de aliança.
Para o secretário-geral do PSDB, deputado federal Silvio Torres (SP), com a decisão do TSE de manter Temer no cargo, seria "contramão" para a legenda não permanecer apoiando o governo.
"Isso poderia por em risco o que o país conseguiu", advertiu Torres, o principal aliado de Alckmin na atual direção partidária.
"O projeto político do PSDB é lançar uma candidatura a presidente ano que vem e nós temos que avaliar como fazer esse projeto avançar: fazer isso em sintonia com o governo Temer ou isso independente do governo?", questionou o líder do partido no Senado, Paulo Bauer (SC).
"Como partido que deu apoio ao governo no início, não precisaríamos deixá-lo neste momento de crises e problemas", completou.
Apesar do desejo de deputados da legenda de entregarem os quatro ministérios que ocupam, há quem na atual direção partidária seja contra a "saída da Esplanada" com a manutenção do apoio às reformas do governo apenas no Congresso. Argumentam que a medida não teria eficácia porque poderia desobrigar integrantes do partido a apoiar a agenda de reformas.
Há ainda um fator colateral: o apoio do PSDB ao governo peemedebista deve evitar também o avanço do processo de cassação do presidente licenciado do partido, o senador Aécio Neves (MG), também envolvido na delação da JBS. O Conselho de Ética do Senado é comandado pelo PMDB, que dita o rumo do caso.
A tendência é que o partido não tome qualquer decisão sobre permanência ou não na base do governo na reunião desta segunda-feira.
A avaliação é que, no máximo, o partido fixe um prazo limite para que as "condicionantes" sejam cumpridas, do contrário podem deixar a aliança. Dos seis governadores tucanos, no máximo três devem participar do encontro: além de Alckmin, o paranaense Beto Richa e o paraense Simão Jatene.
Essa decisão, no entanto, deve provocar um racha no partido por conta do descontentamento de parlamentares tucanos mais jovens que defendem o desembarque do governo, grupo liderado pelo deputado Daniel Coelho (PE).
Não está descartada, inclusive, a saída de alguns desses deputados do partido, o que pode desfalcar a bancada tucana em entre seis e 10 parlamentares. Aécio já foi informado por aliados desse movimento de "diáspora" na bancada.
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