Em MS, produção de soja é recorde, mas preço ameaça investimentos
O sojicultor sul-mato-grossense está pagando para trabalhar. Longe de ser um exagero, essa é a realidade do produtor rural diante dos baixos preços pagos pela saca de soja de 60 kg em Mato Grosso do Sul nos últimos dias.
Para entender a situação, basta voltar os olhos para a realidade da cidade de Maracaju, por exemplo, principal município produtor de soja do Estado e que alcançou produtividade de 58 sc/ha na safra 2016/2017. Naquela região o produtor que plantou soja RR1 no início do ciclo está obtendo, atualmente, renda líquida de R$ 190,11 por hectare na comercialização do grão, o que significa uma margem extremamente estreita de lucro.
Com receita total de R$ 3.517,12 por hectare para um custo total de produção de R$ 3.323,74, também por hectare, a realidade do produtor é preocupante, ainda mais quando considerado um preço médio ponderado de R$ 60,64 pago pela saca de soja de 60 kg. Essa média é obtida por meio da equação dos valores de venda tradicional e antecipada do grão.
Preocupação real
Isso significa escassez de recursos para investimento em tecnologia, máquinas e insumos na próxima safra, segundo o presidente da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), Christiano Bortolotto.
“Hoje a maior preocupação do setor é a rentabilidade, e é até um contrassenso, mesmo com uma safra recorde e com uma produtividade tão alta, nós falarmos em crise. Mas hoje podemos dizer que o produtor de soja está vivendo uma crise de armazém cheio: colhemos bastante, mas não estamos conseguindo alcançar rentabilidade por conta dos preços baixos”, afirma Bortolotto.
De acordo com o analista econômico Luiz Eliezer, do departamento de economia do Sistema Famasul, o cenário diz respeito a um corte temporal. No dia 20 de setembro de 2016, por exemplo, foi realizado um painel com produtores de Maracaju que marcou o momento do levantamento dos custos de produção mencionados nesta reportagem.
Comparativo
Esse mapeamento considerou o preço pago pela saca de soja naquela época e o custo de produção investido por hectare também naquela época. Assim, no caso da soja RR1, a taxa de retorno ao produtor de Maracaju estava em 21,55% quando considerado o preço médio ponderado de R$ 71,20 daquele momento.
Em outras palavras, em setembro do ano passado, o levantamento realizado no município apontou que preço de venda antecipada, trocas por insumos e venda tradicional e estoque geraram uma média ponderada de R$ 71,20 na venda da saca.
Hoje, essa mesma média ponderada é de R$ 60,64 devido à queda acentuada do preço pago pela saca, deixando a taxa de retorno ao produtor em 5,71%, porcentagem muito baixa para que o sojicultor possa continuar avançando em investimentos no campo. Em relação ao preço médio de venda, hoje o produtor está deixando de receber cerca de R$ 20 por saca.
Expectativa
Essa realidade se repete em outros municípios do Estado, muitos deles com renda líquida ainda mais restrita. “Hoje nós torcemos por preços melhores para que o produtor consiga pagar as suas contas com o produto que ele tem armazenado, mas essa não é uma realidade que depende do agricultor, a melhora dos preços foge das mãos dele. Precisamos de mudança na cotação da commodity no mercado internacional e no câmbio”, analisa Bortolotto.
“O produtor plantou quando o câmbio estava em U$ 3,60, U$ 3,70, mas agora está colhendo e tendo que comercializar num câmbio de U$ 3,10. Isso tirou muito da sua rentabilidade, tirou muita capacidade de pagamento das contas. Nossa expectativa é que realmente o mercado e os preços reajam”, finaliza o presidente.
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