VENEZUELA: Oito pessoas morrem eletrocutadas em assalto a padaria no centro de Caracas

Publicado em 21/04/2017 18:27
Saques e protestos nesta sexta-feira no centro de Caracas aumentam o clima de convulsão social (por FRANCESCO MANETTO, do EL PAÍS)

A tensão entre o Governo de Nicolás Maduro e a oposição levou a Venezuela a um clima de convulsão social. Durante a noite de quinta-feira e a madrugada desta sexta ocorreram confrontos em El Valle, no centro de Caracas, onde oito pessoas morreram eletrocutadas durante o saque de uma padaria. Os moradores informaram pelas redes sociais sobre esses atos de pilhagem, a ação das forças de segurança –que dispersaram os protestos com gás lacrimogêneo– e um ambiente próximo da insurreição popular.

A ministra de Relações Exteriores, Delcy Rodríguez, se referiu a um ataque a um hospital e responsabilizou os “bandos armados contratados pela oposição”. Os líderes oposicionistas, entre os quais Henrique Capriles, do partido Primeiro Justiça e governador do Estado de Miranda, rechaçaram a acusação e denunciaram a repressão policial.

A oposição está determinada a prosseguir com a pressão sobre o Governo nas ruas. Nesta sexta-feira convocou concentrações em bairros, “de avaliação, de motivação e organização para a continuidade da luta pela democracia”. Nesta sexta-feira uma nova passeata tomou as ruas da capital, para recordar as pessoas mortas durante os confrontos com as forças de segurança, e que desde o começo da onda de protestos, há três semanas, foram pelo menos uma dezena. Em meio a especulações sobre ataques, mortes, incursões dos grupos armados vinculados ao chavismo, os episódios de violência se tornaram uma arma arremessada pelas autoridades e os manifestantes.

O Executivo, que só se refere aos protestos em termos de “golpe de Estado”, vincula os distúrbios à oposição. Nicolás Maduro apontou abertamente as forças que integram a Mesa de Unidade Democrática (MUD). Os oposicionistas responsabilizam a polícia. “Outro venezuelano assassinado e família enlutada pela loucura repressiva”, denunciou Capriles em referência à morte nos últimos enfrentamentos, por disparo, de Melvin Guaitan, um “humilde trabalhador” do bairro Sucre Petare.

Na noite de quinta-feira as barricadas passaram da praça de Altamira, no município de Chacao, no Centro da cidade. Entre lançamento de bombas de gás lacrimogêneo e incêndios, foram saqueados dezenas de estabelecimentos comerciais. Oito pessoas morreram eletrocutadas ao tentar saquear uma padaria, segundo pôde confirmar este correspondente no lugar dos fatos. O desabastecimento de comida e remédios obriga milhares de venezuelanos a aguardarem horas, todos os dias, para poder comprar pão e outros produtos básicos.

A essas circunstâncias se somou também a piora das relações entre o Governo e algumas empresas estrangeiras. No mesmo dia em que a General Motors comunicava a suspensão de operações na Venezuela, o presidente Maduro anunciava uma investigação sobre a Movistar, a filial da Telefónica no país. “Pedi uma investigação da empresa Movistar da Venezuela, assim denuncio, porque aderiu à convocatória golpista contra o país, e não é sua função, a empresa Movistar tem de saber, não é sua função”, declarou em um pronunciamento na televisão. “Pedi uma investigação para estabelecer os fatos.”

Noite de protestos e saques na Venezuela deixa 12 mortos (na FOLHA)

Após um dia marcado por protestos contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao menos 12 pessoas morreram durante distúrbios e saques ocorridos em Caracas entre a noite de quinta-feira (20) e a madrugada de sexta.

Em um protesto no bairro Petare, na parte leste de Caracas, Melvin Fernado Guittian Díaz, 26, morreu após ser baleado enquanto voltava para casa. Ele não participava da manifestação.

No outro extremo da cidade, no bairro El Valle, moradores locais montaram barricadas e foram reprimidos pelas forças de segurança. Segundo a imprensa local, 17 estabelecimentos foram saqueados na região à noite. Durante os tumultos, um hospital infantil precisou ser esvaziado após a invasão de homens armados.

Em uma tentativa de saque contra uma padaria, um cabo de energia se soltou e produziu um choque elétrico que matou ao menos oito pessoas.

O proprietário do estabelecimento, chamado Ramón Martínez, morreu após ser baleado. Uma outra vítima baleada no local foi identificada como Kelvin León –as circunstâncias de sua morte não estão claras.

"Parecia uma guerra. A Guarda e a polícia usava gás, civis armados atiravam contra os edifícios. Minha família e eu nos jogamos no chão. Foi horrível. Conseguimos dormir depois que tudo acabou às três da madrugada", contou à agência de notícias AFP Carlos Yánez, 33, morador de El Valle.

A onda de violência na Venezuela ocorre em meio a uma série de marchas convocadas por adversários de Maduro. Nas últimas três semanas, os opositores foram às ruas sete vezes.

Os protestos têm sido marcados por confrontos entre manifestantes e a polícia, os quais deixaram mortos em diferentes cidades. Contando os 11 mortos nos tumultos mais recentes em Caracas, chegou a 20 o total de mortos desde o início da onda de manifestações.

A oposição usa os protestos como uma forma de pressionar Maduro a convocar as eleições regionais, que deveriam ter ocorrido em dezembro, libertar opositores presos, resolver a crise econômica e aceitar ajuda humanitária.

A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, acusou a oposição de "contratar quadrilhas armadas" para provocar os tumultos.

O opositor Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, culpou o governo pela onda de violência. "Queremos enfrentar um governo que, após pôr suas pessoas nas ruas e as armar, agora quer dizer que não eles não são os autores da violência", declarou.

REAÇÃO REGIONAL

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil lançou nesta sexta-feira (21) um comunicado conjunto com outros países da América Latina condenando a violência na Venezuela e pedindo que o governo do país "adote medidas para garantir os direitos fundamentais e preservar a paz social".

"É imperativo que a Venezuela retome o caminho da institucionalidade democrática e que seu governo defina as datas para o cumprimento do cronograma eleitoral, liberte os presos políticos e garanta a separação dos poderes constitucionais", diz a nota.

Além do Brasil, assinaram o documento Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.

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Fonte:
El País + Folha de S. Paulo

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