Odebrecht doou para Marina após encontro em hotel (na FOLHA)

Publicado em 14/04/2017 20:45
e MAIS: ... Odebrecht diz que bancou eventos de 1º de Maio da Força Sindical

Um hotel perto do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, foi o local do primeiro encontro em 2014 entre Marina Silva (Rede), então presidenciável pelo PSB, e Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente da empreiteira.

Quem relata o encontro é Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira. O depoimento integra a delação do executivo à Lava Jato, divulgado na quarta-feira (12).

"A partir daí, houve uma conversa de Marcelo com ela, onde foram colocados posicionamento e valores -valores culturais, não monetários-, e estratégias", diz.

Alencar contou que, após as conversas, a empreiteira acertou doação de R$ 1,25 milhão à campanha, em recursos declarados à Justiça. "Não teve compromisso [com alguma contrapartida]. Nem Marcelo, nem eu [falamos disso]. Foi muito mais uma conversa de aproximação."

Ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Alexandrino era responsável por acertar doações a políticos e a campanhas eleitorais.

Ele conta que, antes de 2010, a empresa "minimizava" os depósitos declarados para não chamar a atenção para o nome do grupo. Mas também relatou que o fato de a empresa passar a depositar às legendas em doações contabilizadas não acabou com a existência do caixa dois.

Em 2014, o executivo teve "atuação bem específica nas doações para as candidaturas da Presidência da República das duas candidatas", Marina Silva e Dilma Rousseff (PT). Marina não é investigada na Lava Jato. Dilma é alvo de inquérito em primeira instância.

Alencar trabalhou no repasse de R$ 7 milhões em doações legais à petista. Os investigadores questionaram a "diferença expressiva" em relação ao montante destinado a Marina.

Segundo Alencar, o "timing" explica a distância entre os valores, "pela história que aconteceu".

"O candidato era o [Eduardo] Campos, e teve esse fato [o acidente aéreo que o matou durante a campanha]. Com Dilma, as conversas já vinham acontecendo. Tinha um relacionamento, digamos, mais antigo."

 

 

 

OUTRO LADO

Por meio de sua assessoria de imprensa, Marina Silva diz que se sua campanha foi procurada pela Odebrecht e que a candidata se reuniu com Marcelo Odebrecht e outros dirigentes em uma sala no Hotel Pullman, em Guarulhos.

No encontro, falaram das "principais propostas para o desenvolvimento sustentável do país".

A ex-senadora diz que não tratou de "nenhum assunto referente a financiamento de campanha". E que o grupo doou R$ 598,5 mil à candidata, além de R$ 600 mil ao diretório do PSB, não direcionados à campanha.

Leia, abaixo, a íntegra da resposta da ex-senadora:

O Comitê de Captação da candidatura presidencial de Marina Silva em 2014 foi procurado pela empresa Odebrecht para conhecer as suas propostas, demanda recorrente de vários setores da sociedade, como empresas, entidades de classe, movimentos sociais, sindicatos e setores ligados à academia.

Houve uma reunião com o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e outros dirigentes, onde foram expostas as principais propostas para o desenvolvimento sustentável do país. A reunião ocorreu no hotel Pullman Guarulhos, em sala ao lado do saguão de entrada, em função da agenda de viagens de Marina Silva. Nessa reunião, não se abordou nenhum assunto referente a financiamento de campanha.

As empresas do grupo Odebrecht realizaram depósitos de R$ 98.574,41 através da empresa Odebrecht Ambiental (2 depósitos) e de R$ 500.000,00 através da empresa Ecosteel Gestão de Águas Industriais para a campanha, conforme consta na prestação de contas apresentadas ao TSE. Durante o período eleitoral, o PSB recebeu doação da Construtora Norberto Odebrecht de R$ 600.000,00 ao Diretório Nacional, que não foram direcionados para a campanha presidencial de Marina Silva.

É importante ressaltar que todos os depoimentos e demais documentos coletados pela operação Lava-jato, como planilhas, mensagens de celular e troca de e-mails estão em posse do Ministério Público Federal que considerou, no cruzamento dessas informações, que não havia elementos que justificassem o pedido de abertura de inquérito ou o encaminhamento às demais instâncias da Justiça.

É necessário reiterar o que Marina Silva expressou em Nota do dia 02 de março de 2017, quando esse assunto veio a público pela primeira vez, que ela confia no trabalho da Justiça e defende a urgência para mudar o sistema político corrompido e viciado que tem maculado a nossa democracia. Qualquer acusação de doações irregulares em eleição, para campanha de quem quer que seja, deve ser rigorosamente investigada para que não paire nenhuma dúvida ou suspeita.

Odebrecht diz que bancou eventos de 1º de Maio da Força Sindical

A empreiteira Odebrecht bancou eventos do Dia do Trabalho organizados pela Força Sindical, central controlada pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força.

O deputado e sindicalista também teria ajudado a Odebrecht a desmobilizar greves de trabalhadores nas regiões Norte e Nordeste em troca de pagamentos.

As informações constam do depoimento de Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, que firmou acordo de colaboração com a Lava Jato.

"Uma das atribuições que eu tinha desde o início da minha carreira profissional era ter ligações com o pessoal dos sindicatos. E, com isso, eu desenvolvi com o próprio Paulinho umas ligações que tinham no início, relações até procurado por ele, de financiar os eventos de 1º de Maio, no Dia do Trabalhador, que ele leiloa automóveis, apartamentos", afirmou o delator.

"É verdade que nós fazemos também isso para a CUT, mas com ele [Paulinho] era mais específico", disse.

Paulinho é investigado em dois inquéritos abertos na semana passada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin.

A Procuradoria Geral da República apontou indícios de que valores não contabilizados recebidos por ele foram em troca de algum favor prestado à Odebrecht.

Os inquéritos apuram supostos repasses não declarados de R$ 1 milhão para a campanha de Paulinho em 2014 e de R$ 400 mil em 2010, além de R$ 500 mil doados oficialmente em 2012, quando ele disputou a prefeitura.

"Aí nós tínhamos um interesse específico, porque estávamos com greves na refinaria Rnet [Abreu e Lima] e estávamos tendo dificuldades expressivas com os trabalhadores das usinas do rio Madeira [...], e a Força Sindical era a central que comandava aquela região", disse o delator.

Segundo Alencar, a atuação de Paulinho "atenuou" as greves e o "quebra-quebra".

Paulinho nega as acusações. "Se teve dinheiro, foi dentro da lei. Nosso partido nem multa tem", afirmou à Folha.

Delator da Odebrecht diz ter pago mesada a presidente do Instituto Lula

  Danilo Verpa/Folhapress  
SÃO PAULO, SP, 07.08.2015: INSTITUTO-LULA - O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante ato contra o ódio e a intolerância em frente da sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, zona sul da capital paulista. Nesta sexta-feira (7), lideranças metalúrgicas, movimentos sociais, sindicais e partidos políticos farão uma série de manifestações contra o ódio e a intolerância, em defesa da democracia e pela apuração e punição dos responsáveis pelo atentado a bomba na sede do Instituto Lula, na noite do dia 30 de julho. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar afirmou em depoimento ao Ministério Público Federal que pagou, durante "cinco ou seis meses", mesada de R$ 10 mil ao presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

Os pagamentos são objeto de um capítulo específico da colaboração de Alencar, que era um dos dirigentes do grupo mais próximos do ex-presidente e da instituição que leva o nome do petista.

Alencar diz ser um dos responsáveis, por exemplo, por ter formulado - ao lado de Okamotto - o modelo das palestras que Luiz Inácio Lula da Silva passou a oferecer depois de deixar o Planalto.

Segundo seu relato, a relação entre ele e Okamotto se estreitou ao final do mandato de Lula. A proximidade fez com ele percebesse que Okamotto "estava com alguma dificuldade financeira".

"Me propus a ajudá-lo durante um período finito, com recursos, e durante cinco ou seis meses, alguma coisa assim, eu dei para ele R$ 10 mil por mês, em espécie."

Nas planilhas, Okamotto tinha o codinome "Tóquio".

Alencar diz que o valor foi acertado com Emilio Odebrecht. "Estou sentindo que o Paulo está com dificuldades e vou tentar ajudar dentro de um valor que não seja ostensivo, que não ofenda", contou ter dito ao patriarca.
"Arbitramos o valor de R$ 10 mil, foi isso o que eu fiz."

"Eu dava pessoalmente para ele. Esses recursos vinham do setor de operações estruturadas", disse aos investigadores. O setor era o responsável na empresa por realizar as operações irregulares.

Alencar afirma que os recursos eram entregues a ele por um funcionário, em espécie - "na minha sala, no escritório" - e depois ele os repassava pessoalmente ao presidente do Instituto Lula quando o encontrava.

O delator afirma que Okamotto nunca pediu os recursos. "Não foi demanda, foi oferta minha, por um período finito", ele insiste.

Os investigadores questionam por que nas planilhas entregues pela empresa para corrobar a acusação os pagamentos aparecem espaçados - o primeiro em julho de 2012 e o segundo apenas em setembro de 2013. Alexandrino repete que os pagamentos eram mensais. "Isso não faz sentido", ele afirma.

PALESTRAS

Ao contar a formulação das palestras, Alencar diz que o grupo pensou na atividade para Lula porque elas seriam um jeito "republicano" de o ex-presidente ter uma remuneração fora da Presidência.

"Achávamos que Lula pudesse ter uma remuneração, pela desenvoltura, pelo carisma, esse lado de palestra seria um lado republicano."

Ele conta também como eles chegaram ao valor de US$ 200 mil por palestra: "Subiram um pouco a régua do Bill Clinton, até porque era um ex-presidente novo, era um novo player no mercado", diz, bem-humorado.

OUTRO LADO

Procurado, Okamotto contestou, por meio da assessoria de imprensa do instituto, as informações prestadas pelo delator em sua colaboração. "Não recebi nenhuma mesada de Alexandrino Alencar." 

 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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