Grãos: Clima nos EUA deve intensificar volatilidade na CBOT no fim de março

A safra 2017/18 de grãos dos Estados Unidos já começou e agora todos os olhos passam a se voltar para o quadro climático no país e em quais condições essa nova temporada irá se desenvolver. Até este momento, com o plantio do milho e do trigo de primavera já iniciado em algumas áreas, as previsões ainda não são completamente convergentes. 

"Este pode ser um ano complicado para os grãos. Tem sido um inverno bastante estranho este ano e, por isso, podemos ter um clima adverso durante o verão. Já se fala em tempo mais seco no Sudoeste, mas bom em todo o restante do país neste momento", diz o vice-presidente da Price Futures Group, Jack Scoville.

Segundo o meteorologista do portal norte-americano AgWeb, Mike Hoffman, a maior preocupação neste momento é o clima invernal que se estende até março. No entanto, diz que com a chegada do mês de abril, todo o país já poderá começar a registrar temperaturas acima da média. A previsão está em linha com o esperado pelo NOAA, o serviço oficial de clima norte-americano. A agência coloca uma boa faixa dos EUA com temperaturas elevadas além do 'normal' durante a primavera. 

"Esperamos que na maior parte das metades sul e leste dos EUA, nesta primavera, a temperatura fique acima da média", diz o meteorologista do NOAA, Anthony Artusa. O especialista, porém, afirma que ainda é cedo para definir padrões de clima esperados para esta primavera norte-americana e, por isso, ainda é difícil saber também se as condições de clima serão favoráveis para o plantio deste ano. "Isso depende de onde o produtor está", afirma. 

Na região Sudoeste, os produtores poderão esperar condições de tempo mais seco do que o normal, ainda segundo as últimas previsões do NOAA. Do Pacífico Noroeste até a região das Grandes Planícies - passando de Wisconsin a Michigan - podem passar, por outro lado, por condições de mais umidade do que a média para essa época do ano, na primavera.

A imagem a seguir, do site AgWeb, mostra as projeções para a primavera 2017 nos EUA - que vai de março a maio. No primeiro mapa, à esquerda, são indicadas as previsões de temperatura com e há cerca de 40% de possibilidade de temperaturas acima do normal em boa parte do Meio-Oeste americano. Já no mapa da direita, as chuvas deverão ficar, na região produtora, dentro da normalidade. 

El Niño

Se espera ainda que as características de um clima sob o efeito de um El Niño já poderiam começar a aparecer a a partir de julho, segundo alguns modelos climáticos. Porém, para o meteorologista do NOAA, ainda é cedo para definir quais serão seus impactos reais nesta safra. 

Em anos do fenômeno, os EUA contam com temperaturas mais elevadas do que o normal no oeste e norte dos EUA, tempo mais úmido do que a média em partes da Golfo e da Flórida, além de tempo mais seco do que a média nas regiões do Ohio Valley e do Pacífico Noroeste. 

"Pode ser um ano de preocupação com o El Niño, mas ainda é muito cedo saber exatamente", diz o consultor de mercado Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. "Na maioria da vezes, o El Niño não foi bom para a safra dos EUA, mas precisa de acompanhamento, porque também pode ser bom", complementa. 

Fernandes explica ainda que em anos em que o fenômeno se instala, o risco de o mercado ser extremamente volátil é bastante grande. Assim, nos próximos 15 a 20 dias, essa volatilidade deverá estar mais presente, com todos os olhos do mercado internacional voltados para o clima nos EUA e seus impactos sobre a nova temporada. "Ano de El Niño pode ser ano de extremismos". 

"O mercado ainda tem alguns dias arbitrando sobre a safra do Brasil, da América do Sul, e aí sim se volta para a dos Estados Unidos", afirma o consultor. Além disso, chega no próximo dia 31 de março o primeiro boletim oficial de intenção de plantio no país, com informações oficiais sobre a área a ser cultivada na safra 2017/18, o que também deve mexer com o andamento das cotações. 

Seca

Ainda de acordo com o departamento de clima norte-americano, as condições de seca nos Estados Unidos começam a diminuir e, neste momento, a "marca da estiagem pelos EUA, é a menor desde 2011", como explica o chefe do monitoramento climático do NOAA, Deke Arndt, reportado pelo portal AgWeb. Onde a seca ainda persiste, o olhar dos especialistas é bastante cauteloso. 

Enquanto isso, para o curto prazo, as previsões do site norte-americano DTN indicam que os níveis de umidade do solo no Meio-Oeste americano começam a se recuperar neste inverno, após as condições de tempo mais seco e menos chuvas, principalmente na região Sul, durante o último outono. Entretanto, as previsões para os próximos 6 a 10 dias indicam, para o Corn Belt, temperaturas ainda acima do normal e chuvas abaixo.