Saída dos EUA do TPP e revisão no Nafta cria cenário ideal para um impulso das exportações

Publicado em 26/01/2017 11:05
Confira a entrevista de Steve Cachia - Analista da Cerealpar
“Vocês estão lendo Trump errado”, (por FELIPE MOURA BRASIL, em VEJA.COM)

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O Brasil pode se beneficiar dessas mudanças se souber promover acordos bilaterais, principalmente com agravamento das relações entre China e EUA

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Nesta semana, as primeiras medidas de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos trouxeram novidades para o cenário geopolítico mundial. Uma delas foi a saída do Acordo Transpacífico (TPP), que englobava 12 países e seria colocado em prática ainda este ano. Com isso, também há a possibilidade de revisão do NAFTA, bloco econômico que envolve Estados Unidos, México e Canadá.

De acordo com Stevie Cachia, diretor da Cerealpar, "a gente tem que partir de que o inesperado está acontecendo". Ele aponta que o mundo vive "mudanças interessantes" geopolíticas, sociais, econômicas e tecnológicas, mas destaca que as medidas de Trump "são mais uma demonstração de força e não necessariamente vão ter impacto imediato".

O TPP não influenciaria diretamente no agronegócio, mas caso haja retaliação por parte dos países participantes, uma guerra comercial poderia surgir e o Brasil ganhar espaço no mercado em torno dessa incerteza. Alguns países, como a China - que não faz parte do acordo - já estão se protegendo e tentando ganhar mais produto ou mais volume, em meio às inseguranças em relação ao comércio com os Estados Unidos.

O Brasil, por sua vez, "não tem nada a perder", como lembra Steve, mas pode aumentar sua participação em alguns países, sendo a China um deles. O México também pode se tornar um importante destino, já que é o segundo maior consumidor de milho e possui 15% das exportações dos DDGs americanos. Ameaçados pela possibilidade de uma construção de um muro dividindo os dois países, o país latino pode abrir suas portas para outros destinos.

Em função dessa incerteza, já houve também um movimento forte por parte de compradores chineses. Mas "não tem nada concreto até então e não dá para entender o que poderá ocorrer".

Cachia lembra também que, em várias regiões, a questão está sendo mais geopolítica, principalmente no que diz respeito à imigração ilegal. Após o Brexit, algumas eleições importantes na França, na Alemanha e na Holanda também podem ditar a tendência desses países para os próximos anos, onde parte da população também está incomodada com a presença de imigrantes. Na medida em que os países se tornam mais nacionalistas e conservadores, há mais interesse em acordos bilaterais e não em blocos econômicos.

Com isso, o Brasil, de acordo com o diretor, deve se tornar mais agressivo na parte comercial, "mostrando o que tem a oferecer". A demanda continua forte e a população mundial só cresce, criando um cenário ideal para um impulso das exportações do país, sobretudo do agronegócio.

Nos Estados Unidos, os produtores do Meio Oeste americano já temem a retaliação por parte dos países do TPP, o que pode trazer a perda de oportunidade de negócios. Na opinião de Cachia, Donald Trump não pode ser 100% protecionista.

“Vocês estão lendo Trump errado”, (por FELIPE MOURA BRASIL, em VEJA.COM)

Marcos Troyjo, diretor do BricLab na Universidade Columbia, respondeu em determinado momento a Diogo Mainardi no Manhattan Connection de domingo (22) apresentando uma análise que, tirando uma ou outra posição pessoal, praticamente coincide neste ponto com a que também lhe apresentei em entrevista na semana passada ao site O Antagonista sobre Donald Trump.

Transcrevo o referido trecho do programa (aos 6min45seg deste vídeo):

Marcos Troyjo: “Eu acho que ele [Trump] vai cumprir tudo que prometeu. A grande questão é em que medida isto vai tornar os Estados Unidos mais isolados, mais insulares, ou se, pelo contrário, ele vai fazer isto como uma forma de ‘trucar’ o mundo, ou seja: da mesma maneira que ele é um negociador, gosta de blefar, gosta de chutar para cima para depois chegar naquilo que ele realmente quer, alguns que querem ver as coisas pelo lado do copo meio cheio entendem que ele está fazendo isto porque ele quer:

– diminuir a influência do capitalismo de Estado na China;
– quer ter uma maior simetria no comércio com o México;
– quer reformar a Otan para que ela possa enfrentar desafios do século 21…

E aqui entre nós: se essas coisas acontecerem, isso não é necessariamente ruim.

Em Davos neste ano, por exemplo, todo mundo estava com os nervos à flor da pele em torno do Trump. Mas o Trump mandou um sujeito que acho que vai ser o diretor de Relações Públicas, o ‘director of public liaison’ [Anthony Scaramucci], que foi muito bem em Davos dizendo o seguinte: olha, vocês estão lendo o Trump errado; o que ele quer é corrigir as assimetrias que os Estados Unidos mesmo criaram quando trocaram por um lado influência geopolítica por benefícios econômicos pontuais. Hoje a China, por exemplo, não precisaria mais desses benefícios, ela já é uma economia de 12 trilhões de dólares, a caminho de se tornar a maior economia do mundo, então é hora de rever essas regras dessa primeira fase da globalização.

Eu torço para que isto aconteça; agora, se você me perguntar se isto vai acontecer, eu acho que não, eu acho que a probabilidade maior é de a gente ver uma espécie de reality show nesses quatro anos…”

Lucas Mendes: “Uma guerra de tarifas?”

Marcos Troyjo: “Pode acontecer uma guerra de tarifas, o que seria muito ruim para empresas americanas, porque nenhum país tem tantas empresas transnacionais como os Estados Unidos. Muito bem: você vai manter aqui postos de trabalho em Ohio ou Indiana. Só que isto vai afetar os custos de produção para as empresas americanas, o que pode se traduzir em inflação aqui nos Estados Unidos, e inflação aqui é inflação no mundo; e, em segundo lugar, isso vai machucar o balanço patrimonial das empresas americanas: vão diminuir os recursos para investir, por exemplo, em marketing, em novas tecnologias, em pesquisa e desenvolvimento…”

Lucas Mendes: “Vai mexer no bolso do acionista…”

Marcos Troyjo: “É lógico… que é o que faz a economia dos Estados Unidos.”

Relembre neste blog o artigo introdutório e a íntegra da minha entrevista sobre esses mesmos temas, na qual também descrevi o perfil de negociador de Trump, sua intenção de corrigir assimetrias nos acordos internacionais, a incerteza geral sobre até que ponto ele vai nas medidas que anuncia inicialmente e as leituras erradas (ou mal-intencionadas) que a imprensa tem feito a seu respeito: AQUI.

Nesta segunda-feira (23), Trump assinou a retirada dos EUA do Tratado Transpacífico; um decreto que congela contratações federais; e uma diretriz que proíbe organizações não-governamentais americanas de receberem financiamento federal para realizarem abortos no exterior.

Começou a faxina do “legado” de Obama.

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Por:
Aleksander Horta e Izadora Pimenta
Fonte:
Notícias Agrícolas

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