Solos brasileiros estão doentes! Veja como curá-los

Publicado em 04/10/2016 16:12
Acompanhe essa entrevista-aula com o professor Afonso Peche, realizada por João Batista Olivi.

Os solos brasileiros estão doentes, entupidos, pré-enfartados. Como organismos vivos que são, os solos cultivados estão sendo manejados erroneamente. As consequências são visíveis, como degradação, compactação e erosão e afetam diretamente a rentabilidade das propriedades. Essa perda da produtividade se reflete na média brasileira que não consegue ultrapassar 55 sacas (no caso da soja) e atinge cruelmente o produtor, que acaba alijado da atividade. Podemos conseguir alcançar 100 sacas por hectare?

Essa pergunta levamos ao professor Afonso Peche, especialista em mecanização e gestão de solos do Centro de Engenharia e Automação do IAC (unidade de Jundiaí), que dá como resposta uma abordagem diferente a esta questão: "ao invés de cuidarmos das áreas ruins, vamos nos preocupar com as áreas excelentes da propriedade -- para que elas não acabem se transformando em áreas ruins", responde o professor Peche.

Por meio de avaliações de ambientes produtivos, temos de voltar a desenvolver a arte de agricultar, aconselha. Essa abordagem foi reconhecida como a mais inovadora durante o Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, acontecido em Goiânia, na última semana. O objetivo é adoção de uma política agrícola nacional, para transformar os agricultores brasileiros, num futuro imediato, em "construtores de solos agrícolas".

Peche pede atenção para um fato: as paisagens naturais são substituídas por paisagens cultivadas, portanto, não se deve perder o equilíbrio ambiental do ecossistema. Por exemplo: se uma área de produção está localizada no Cerrado, as características específicas deste ambiente devem ser cultivadas de modo que haja uma harmonia entre a planta cultivada e a dinâmica do ecossistema.

O problema, portanto, é que a rentabilidade depende de um solo sadio, que necessita de um manejo especifico. “Antigamente, faltava tecnologia. Hoje, há um problema crônico de uso de tecnologia, que compromete a rentabilidade”, aponta. “Você acessa a tecnolgia e faz má gestão do ambiente. Não adianta ter o melhor fertilizante, a melhor semeadora e colocar em solos compactados”.

Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha

No último Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, realizado em Goiânia, o professor chamou atenção para o fato de que o produtor brasileiro não está manejando bem o solo e, portanto, há uma necessidade de entender como pegar a tecnologia e transformá-la em um agroecossistema. Cada propriedade agrícola pode ter até seis agroecossistemas, mas muitos produtores não sabem quantos ambientes possuem em suas propriedades.

Em seu trabalho “Avaliação de Ambientes Produtivos”, laureado no encontro, Peche destaca que é fundamental para que o produtor realize uma autocrítica em sua propriedade, identifique pontos de atenção e, assim, passe a ter melhor controle sobre a qualidade do seu solo.

Ele lembra que todas as propriedades agrícolas, de certa forma, causaram impacto de ocupação e uso. “Como não temos noção do impacto, temos que generalizar que temos muitos problemas relacionados com manejo de solo nas propriedades”, destaca.

A ideia básica destacada no trabalho é que o agricultor realize uma avaliação com base em técnicas simples de amostragem, parecidas com a do Manejo Integrado de Pragas, que os produtores já sabem fazer. Olhar solo e pegar a experiência de observar se há intempéries como cicatrizes, acúmulo de água ou até mesmo plantas doentes, com feridas, pode identificar os pontos problemáticos.

O plantio direto afeta o solo?

Para o professor, o plantio direto ainda é a melhor das técnicas para o solo tropical, que precisa ser protegido de forma permanente, sendo essa produção verde ou seca. O problema é que esse plantio direto não pode ser feito em solos prejudicados. “Muitos produtores entraram no plantio direto por técnicas econômicas. Avançaram muito em conhecimento, mas, em gestão, muitos ainda não levam a sério a necessidade de se criar ambientes produtivos. Precisamos melhorar, ajustar e sanar os erros”, aponta.

As culturas em faixa podem ser uma solução para transformar os metros quadrados da lavoura em metros quadrados rentáveis, dividindo cerca de 40% a 60% da área, fazendo a rotação efetiva. “O que manda, na agricultura moderna, são os metros quadrados rentáveis. Todas as vezes que a gente simplificar demais o meio, temos um desequilíbrio ambiental”, destaca.

Mecanização

A preocupação com a mecanização não deve estar apenas em máquinas boas, mas em operadores treinados e extremamente capacitados para operar essas máquinas. Dessa forma, aponta-se uma necessidade por parte do produtor para uma evolução nesta área, para que o manejo e o cultivo sejam feitos de forma correta e que o solo não seja prejudicado no processo.
“O agricultor tem o período seco, o úmido e o ótimo no meio. Não devemos plantar apenas no ótimo. Devemos aprender a ter uma estratégia para cada período e entender como a máquina pode agredir menos”, explica.


 

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Por:
João Batista Olivi e Izadora Pimenta
Fonte:
Notícias Agrícolas

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5 comentários

  • Marcelo Luiz Campina da Lagoa - PR

    A física do solo foi abandonada pelos técnicos e agricultores. Nunca vi uma trincheira ser aberta por nenhum consultor ou engenheiro agrônomo. Penetrômetro é mosca branca . Vamos ter que repensar nossos métodos.

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    • Leonardo Wisniewski Carboni Capanema - PR

      Verdade pura! Questão biológica também

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  • Marcelo Luiz Campina da Lagoa - PR

    Sobre a entrevista/aula com o professor Afonso Peche "Solos brasileiros estão doentes! Veja como curá-los! -- Infelizmente temos muita agricultura de precisão e pouca precisão na agricultura. A física do solo foi abandonada pelos técnicos e agricultores. Nunca vi uma trincheira ser aberta por nenhum consultor ou engenheiro agrônomo. Penetrômetro é mosca branca . Vamos ter que repensar nossos métodos....

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Marcelo, antigamente a assistência técnica "batia pano" nas entrelinhas da cultura da soja, hoje circulam pelos carreadores numa velocidade padrão de "matar o inseto que se chocar com o para brisa do veículo. Se matar 3 mariposas de Anticarsia gemmatalis a cada 3 minutos no deslocamento, recomenda-se a pulverização de controle. São os novos tempos...

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  • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

    Uma das melhores entrevistas que já tive a oportunidade de assistir no Noticias Agrícolas. Não conhecia o Prof. Peche, mas pela sua enorme consistência técnica, sabedoria e simpatia, me tornei um Admirador. Parabéns ao João Batista pela iniciativa. Acho que existem muitas pessoas nesse Brasil com um perfil semelhante ao do Prof. Peche dispostos a dar generosamente suas contribuições, entre elas, me permito dizer, o Sr. Paulo Reinsi (que não conheço pessoalmente) mas que costuma postar aqui comentários muito coerentes, típicos de alguém que reúne muita experiência e conhecimento para compartilhar com os demais.

    Trazer ao publico uma personalidade como a do Prof. Peche por mais 1h e 20min, sem a interrupção de comerciais, permitindo ao entrevistado manifestar-se à vontade, inclusive, dizendo verdades que muitos agricultores não estão dispostos ou preparados para ouvir, é algo merecedor de aplausos.

    Não poderia deixar de registrar aqui a satisfação que tenho de ver e às vezes de participar da evolução permanente desse Canal, o nosso Notícias Agrícolas..

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    • Fabio Ribamar Zaparolli Ourinhos - SP

      Sr. Eduardo Lima Porto, a sua citação em relação ao Sr. Paulo Roberto Rensi, fez-me escreve esta mensagem ao Notícias Agrícolas. Conheci o Sr. Paulo quando o mesmo administrava a Fazenda Santa Rita em Santo Antonio da Platina. Eu trabalha com vendas de defensivos agrícolas para uma empresa de Ourinhos. Toda vez que o visitava sempre aprendia algo de interessante, como uma vez que estavam beneficando café e ele convi

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    • wellington almeida rodrigues Sucupira - TO

      Eduardo, assisti toda a entrevista e vejo que tenho muita coisa a aprender, como se diz morreremos aprendendo, não é isto, assim como o professor Peche falou, o que defendo a muito tempo, palha, palha, palha, rotação, rotação, rotação, apesar que no estado de Tocantins é muito difícil fazer esse trabalho, na microrregião que resido devido ao índice pluviométrico que é bem definido, mas vamos em frente que nem diz o João Batista, parabéns João por mais esse feito, essa atitude de sua pessoa em oferecer uma bagagem de grandes nomes igual ao senhor Peche, esse ser humano é um exemplo de como é certo produzir com responsabilidade, sem perder sua poupança da vida que é o solo, cuidar do solo para nós é mesmo que cuidar de uma criança recém nascida, nessa nova fronteira, fica mais fácil, agir com sabedoria, nosso estado tem um problema muito frequente, que está deixando os produtores de cabelo em pé, o alto volume pluviométrico em algumas microrregiões, ontem em Figueirópolis deu uma pancada de 80 mm, essa quantidade de chuva pode carriar todos os elementos do solo de uma só vez, fica determinado nossa falência com nossos solos, vamos encaixar de fato gramíneas que nos vão dar suporte ante erosões, trincas , e outros problemas relacionados com o manejo de nossos solos, vai dar certo, quero ter o prazer de conhecer o professor Peche, juntamente com nossos amigos do NA, à respeito

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    • wellington almeida rodrigues Sucupira - TO

      Continua, à respeito do senhor Rensi, sou fã de carteirinha, um abraço para o senhor Rensi, desejo muito conhece ló pessoalmente, acredito que em breve, abraço ao João, professor Peche , Eduardo e todos amigos do NA, vamos em frente...

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Gostaria de me juntar aos demais, para lhe agradecer essa sua atitude de estimular trocas de ideias sobre assuntos fundamentais ao setor agricola.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Wellington e Sr. Carlo, obrigado de coração pelos sentimentos e, reforço que a reciproca é verdadeira....

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Eduardo, obrigado pelos méritos elencados a meu respeito, sinto-me lisonjeado, ainda mais vindo de uma pessoa de sua estirpe.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Reiterando meus "conceitos"... Sr. Eduardo, comentários coerentes, típicos de alguém que reúne muita experiência e conhecimento para compartilhar com os demais... está na informação da unidade mmoon (acho que assim é que se escreve), usada na China e que corresponde a 600 m2. Quando li artigos traduzidos do Xinhua Daily, essa unidade era muito citada, mas por ignorância não conseguia processar os dados. Tenho convicção que o Sr. vem SOMAR ... e muito nesse espaço !!!

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    • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

      Bom Dia Sr. Paulo, 1mu equivale a 666,66m2. Os módulos médios na China são de 2-3 mus por Agricultor. Existem Cooperativas com áreas ao redor de 100 mus (66,66 hectares). Algumas regiões como Jilin e Heilogjiang estão passando por transformações rápidas onde o Governo tem forçado o "arrendamento" das áreas para grandes empresas estatais, como a Beidahuang que movimenta alguns milhões de toneladas de Soja e Milho.

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    • Paulo Daniel Três de Maio - RS

      Hoje técnico e agrônomo de uma forma ou outra visita o agricultor só quando quer vender produto sem se importar se ele está usando certo o produto, ou se está fazendo o plantio de maneira correta, se realmente está fazendo um trabalho que vem a lucrar no futuro ou se está somente plantando a revelia.

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  • José Walter Meyer Tangará da Serra - MT

    Parabéns Afonso, excelente trabalho. Falo com intimidade por ser colega e contemporâneo de Faculdade. Estudamos juntos na ESAPP. Bons tempos. Fico orgulhoso do seu trabalho.

    José Walter Meyer.

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Batista... eu aqui nas minhas madrugadas, confabulando com minhas verdades, quando cito "minhas verdades", isto quer dizer que é só mais uma mania de um matuto, que está aos poucos perdendo até a sombra.

    Após assistir a entrevista com o Dr. Afonso Peche, muito boa por sinal e, que dá um soco na boca do estômago de muitos consultores, deixando-os sem ar para dar uma resposta à altura de sua tese.

    Mas, vamos a minha visão sobre o assunto: A tese do Dr. Afonso, no meu entendimento tem muito a ver com um dos pilares da Agricultura Biodinâmica criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, onde citava que "toda propriedade agrícola é um ser vivo". As particularidades dos diversos ambientes ecológicos da propriedade, no caso os solos, demonstra a complexidade de se lidar com a vida da propriedade.

    O reducionismo de se focar somente o solo e, esquecer o relevo, a paisagem já se pode prever que outros problemas irão surgir futuramente.

    A estabilidade do solo é condicionada pelos microrganismos de vida livre do solo, responsáveis pela formação dos grumos, estrutura que atua na absorção da água, armazenando-a e, este é o depósito da água no solo que fica disponível para as plantas, quando a microvida do solo diminui pelas práticas agrícolas erradas, tudo vem abaixo e o que sobe são os custos.

    Não tenho pergunta a formular, mesmo porque acredito em tudo que ele falou e, fico feliz em saber que existem pesquisadores preocupados com a herança que os produtores rurais vão deixar para seus descendentes:

    UM SOLO VIVO !!!

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    • Fabio Ribamar Zaparolli Ourinhos - SP

      Sr. Paulo, ainda bem que esse matuto continua projetando sombra e sabedoria.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Fabio, sigo a máxima: Tudo que sei, mais vejo que nada sei...

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    • Fabio Ribamar Zaparolli Ourinhos - SP

      Ah,a ironia socrática. O próprio Sócrates, nos diálogos platônicos, diz que seu destino é investigar, já que a única verdade que detém é a certeza de que na sabe. Interrogava, portanto, para saber e empenhado nessa tarefa, não raro surpreendia as pessoas em contradições, resultantes de crenças aceitas de modo dogmático, de pretensas verdades sem crítica.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Fabio fico feliz ao "reencontro", bons tempos, tempos passados de conquistas, onde cada conquista era saboreada com sabor de vitória... O quê dizer dos tempos de perdas ??? Ficar feliz por ter o que perder ???

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    • Laura Machado Ramos Brasília - DF

      Sensacional está matéria!!!

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