Café: Em plena entrada de safra, exportações do Brasil têm pior resultado em dez anos com oferta ajustada no país
Os embarques brasileiros de café estão mais baixos nos últimos meses. Em julho, plena entrada de safra, eles atingiram o menor patamar em mais de dez anos, de acordo com dados do Cecafé (Conselho Nacional dos Exportadores de Café). Essa queda nas exportações do país, segundo analistas, está ligada à oferta ajustada do produto no mercado. Alguns cafeicultores até têm o produto estocado, como mostram dados de comercialização, no entanto esperam melhores oportunidades para retomarem as vendas. Além disso, já temem uma safra menor em 2017.
Em julho deste ano, mês que marcou o início do ano safra 2016/2017, as exportações de café do Brasil totalizaram 1,91 milhões de sacas de 60 kg. Foram 1,57 milhões de sacas de café arábica, 37,36 mil sacas de robusta e o restante dividido entre café solúvel e o torrado e moído, com receita cambial de mais de US$ 297,2 milhões. Segundo o Cecafé, esse é o menor volume em mais de dez anos. Em 2007, por exemplo, em outra realidade mercadológica, foram embarcadas 2,26 milhões de sacas do produto.
"Os estoques do Brasil estão baixos e isso faz com que o mercado fique menos agressivo, mas também pesa sobre as exportações o fato de que a entrada da nova safra está mais lenta. Além disso, o mercado falava em uma safra boa, mas foram registrados alguns problemas, principalmente com o robusta no Brasil", afirma o presidente do Cecafé, Nelson Carvalhaes.
Desde janeiro até julho deste ano, foram embarcadas pelo país, segundo o Cecafé, 18,19 milhões de sacas, com receita de mais de US$ 2,7 bilhões. Já em 2015, quando o Brasil registrou recorde nas exportações do grão, no mesmo intervalo de tempo, os embarques totalizaram 20,64 milhões de sacas e receita cambial de US$ 3,64 bilhões. O balanço das exportações de café do Brasil em agosto deve ser divulgado nos próximos dias e deve esboçar leve recuperação.
A forte queda nas exportações do Brasil já foi sentida nos dados globais de exportações do grão, divulgados pela OIC (Organização Internacional do Café). Segundo a instituição, o volume mundial exportado teve queda de 22% em julho deste ano ante o mesmo período de 2015, totalizando 7,75 milhões de sacas de 60 kg no mês. As exportações da variedade arábica tiveram no período recuo de 19,2% em relação a 2015, para 4,78 milhões de sacas. Já as de robusta caíram 26,2% na comparação anual, totalizando 2,96 milhões de sacas. A OIC estima um consumo global de café de 152 milhões de sacas nesta safra.
De acordo com o analista do Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), Eduardo Carvalhaes, a queda nos embarques brasileiros está ligada à ofertada ajustada do produto no país. "O Brasil tem exportado no ano-safra em torno de 35 milhões a 36 milhões de sacas, o que significaria uma média de 3 milhões de sacas por mês. Estamos no início do ano safra, quando os embarques deveriam estar crescendo, mas os números mostram a dificuldade que o mercado está tendo neste momento", explica Eduardo Carvalhaes salientando que a colheita da safra 2016/17 está praticamente concluída.
Sem muito café no mercado, o exportador tem se abastecido com algumas vendas físicas, que já estavam fixadas para entrega futura, e compram mais um pouco de café no mercado spot. No entanto, a tendência é de que as compras do grão pelos países importadores aumentem nos próximos meses com a chegada do inverno no Hemisfério Norte. "O preço vai depender do interesse do produtor em vender", ressalta Eduardo Carvalhaes.
Para o analista de mercado do café do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP), Renato Garcia Ribeiro, o cenário nos preços internos não deve esboçar muitas mudanças nos próximos dias. "O café já vem se comportando na casa de R$ 490,00 e R$ 500,00 a saca desde junho. Portanto, acredito que esse quadro não deve apresentar mudanças no curto prazo", diz Garcia.
Para Eduardo Carvalhaes, mesmo mais altos, os preços atuais do café no Brasil ainda não refletem a realidade que o mercado vive neste momento. "Se você pegar a desvalorização do dólar nos últimos 30 anos vai ver que esses preços não têm nada de mais", pondera.
A oferta de café está mais ajustada no mercado, no entanto, apesar do preço mais alto nos últimos meses, alguns produtores também seguram o produto cientes da possibilidade de melhora dos preços nos próximos meses. De acordo com estimativa da Safras & Mercado, a comercialização da safra de café do Brasil 2016/17 (julho/junho) está em 37% da produção total estimada, relativa ao final de julho. Já foram comercializadas 20,42 milhões de sacas. No entanto, levando em conta a estimativa da consultoria para a produção do país de 54,9 milhões de sacas, ainda restam 34,48 milhões de sacas para serem negociadas.
"O cafeicultor está reticente em vender sua produção nos preços praticados atualmente. Ele está vendo os custos de colheita e está assustado, também enfrentou aquelas chuvas em maio e início de junho que derrubaram a qualidade média da safra brasileira e ficou com uma porcentagem menor de cafés finos para ser vendido. Além disso, ele sente também que tem um bom produto na mão, que está escasso, e que não tem porque ele entregar isso", explicou Eduardo Carvalhaes ao Notícias Agrícolas.
Essa escassez de café no mercado, principalmente da variedade robusta, que sofreu com as intempéries climáticas no Espírito Santo, fez com que o governo brasileira leiloasse seus estoques de safras passadas em virtude da elevação dos preços do produto. "Em plena entrada de safra, o governo está leiloando café do pequeno estoque que tem, que não dá nem para um mês de consumo interno. Isso nunca aconteceu antes", salienta Eduardo Carvalhaes.
Desde janeiro, o governo brasileiro já comercializou mais de 300 mil sacas de café de um total 1,25 milhão de sacas dos estoques públicos. O valor arrecadado nas vendas até agora foi de mais de R$ 130 milhões. O Paraná já vendeu todo seu estoque. São Paulo e Minas Gerais são os estados que ainda possuem o grão. As operações, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), continuam até o fim do ano.
Apesar da queda nos números de exportação por conta da oferta restrita de café no Brasil, para Nelson Carvalhaes, ainda é cedo para apontar que o mercado de café vive um desequilíbrio entre oferta e demanda. "Estamos no início do segundo semestre, ainda é cedo para ter certeza do resultado no ano. Mas a expectativa é de manutenção dos números do ano passado", afirma.
Com pouco café no mercado e o governo colocando à venda sua produção em estoques, já permeiam entre os envolvidos de mercado dúvidas de como será o mercado no próximo ano. Segundo o presidente do Sincal (Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite), Armando Matielli, a próxima safra de café do Brasil já dá sinais de comprometimento por conta da derriça de folhas acima do normal. Para ele, o Brasil não produzirá nem 40 milhões de sacas na temporada 2017/18, número abaixo da necessidade total de exportação e consumo interno.
A produção de café em todo Brasil neste ano está estimada pela Conab em 49,67 milhões de sacas do produto beneficiado, com um aumento de 14,9% em relação as 43,24 milhões de sacas alcançadas em 2015.
"Normalmente, os cafezais que tem ciclo alto neste ano se esgotam e produzem menos no ano seguinte, o que é chamado de ciclo baixo. Além disso, temos que lembrar que esses cafezais sofreram com dois anos seguidos de seca e uma geada em algumas localidades. A situação tende a ser bastante apertada. Sem chuvas, não teremos uma boa safra e nem os estoques do governo em 2017 para recompor o mercado", acrescenta Eduardo Carvalhaes.
Incertezas também pairam sobre safra 2017/18
A safra 2016/17 de café do Brasil já está próxima do fim. No entanto, com as recentes chuvas no cinturão produtivo, envolvidos de mercado já repercutem as incertezas climáticas em relação à temporada 2017/18, que é de bienalidade negativa na maioria das regiões. Repercutindo essas dúvidas, a Bolsa de Nova York (ICE Futures US), referência para os negócios com arábica em todo o mundo, subiu por oito sessões seguidas até ontem (7) e se aproximou de US$ 1,60 por libra-peso.
De acordo com engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, Alysson Fagundes, ainda é cedo para saber como será a próxima safra. Em todo o Sul de Minas Gerais, apenas 20% das lavouras tiveram floradas, mas ainda não é a principal delas. "A florada chegou mais cedo, quase que na mesma época do ano passado, mas o perigo mesmo é quando a florada está para abrir e fica sem chuvas e não depois de já aberta. Quando ela está florida, ela não tem mais problemas", afirma.
Mapas climáticos mostram que para os próximos dez dias o clima nas principais origens produtoras de café deve ficar mais quente e seco após as recentes chuvas. Devem ser registradas precipitações somente no início da segunda quinzena de setembro.
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