Propriedades usam novas técnicas para garantir produção de café em MG
Nosso cafezinho tem fama nas xícaras de todo o planeta. Ele é um dos principais produtos da agricultura brasileira. O Brasil é grande produtor e grande exportador.
Para continuar na liderança mundial, o cafeicultor precisa ter um olho na lavoura e outro no futuro. O Globo Rural esteve em Minas Gerais para visitar fazendas que estão adotando técnicas que vão fazer a diferença na próxima década.
O Brasil caminha para ter uma das melhores safras de café da sua história: quase 49 milhões de sacas, de acordo com o levantamento do IBGE divulgado na última quinta-feira (7).
Com esse mundão de lavoura, que se espalha por quase 2,3 milhões de hectares, nós somos os maiores produtores do planeta. Tem muito agricultor preparando a plantação para o futuro.
Em áreas planas como no Cerrado Mineiro, cada vez mais a mecanização vem se tornando indispensável nas grandes propriedades.
Na fazenda Santa Helena, no município de Areado, as máquinas dão conta de colher 90% da lavoura. “Uma colheita como a desse ano, com oito mil sacas, que eu teria que ter uns 270 trabalhadores, hoje eu faço com três colhedeiras e vinte e poucas pessoas. A colheita manual é duas vezes e meia mais cara que a mecanizada”, diz Célio Landi Pereira, agrônomo, administrador da Fazenda Santa Helena.
Com dois cilindros de varetas rígidas, a colheitadeira parece pentear o pé de café. Com a ideia de se colher cada vez mais por hectare, o agrônomo Matiello aponta outro aspecto vital para a cafeicultura moderna: a renovação.
“Os nossos avós, os nossos pais queriam cafezal por cem anos. Hoje, tecnicamente, a gente admite aí vinte, no máximo trinta anos, porque vão surgindo novas variedades. Novas tecnologias. Você tem que trocar para colocar uma planta mais produtiva no lugar daquela pouco produtiva”, explica.
A renovação exige a derrubada completa da lavoura, mesmo que ainda produtiva. E está aí a dificuldade de muitos agricultores em aceitar esse manejo.
Em uma área da fazenda Santa Helena, o trator já arrancou vários pés de um talhão de 15 hectares e 28 anos de idade, que acabou de ter sua última colheita. “Aqui já é uma área antiga, a produção vem caindo. A média está em torno de 28 sacas por hectare, e a média geral da fazenda é 38”, comenta Marco Evandro Manoel, gerente da área cafeeira Fazenda Sta. Helena.
A estratégia com esse manejo é elevar a produtividade para 45, 50 sacas por hectare, nos próximos anos. Isso é praticamente o dobro da atual média do Brasil.
“Essa área aqui hoje está com 3.333 plantas. Vamos passar para cinco mil plantas. Ou seja, nós temos hoje em torno de 15 hectares com 50 mil plantas. Nesse novo plantio nós vamos conseguir nos mesmos 15 hectares, 75 mil plantas. É como se a gente tivesse ganhando hoje cinco hectares a mais dentro dos mesmos quinze hectares que a gente tem”, explica o gerente da fazenda.
De todo café produzido no Brasil, 700 mil hectares estão em áreas acidentadas, com declividade que varia de 25 a 50%. É o chamado café de montanha. Se caminhar é difícil, imagine plantar, colher, fazer os tratos culturais. Quando a imagem vai ao longe, revela um cenário bem bonito, mas o dia a dia é bastante complicado.
Em terrenos acidentados, o jeito é pensar em reestruturar a lavoura: seja na produção, seja na melhoria do acesso de máquinas e implementos. É isso que se vê na Fazenda Sertãozinho, no município de Botelhos. A lâmina que rasga o barranco trabalha na construção de terraços, para nivelar as ruas da plantação.
“Dependendo um pouco do espaçamento, nós fizemos 180 quilômetros de terraceamento em linha, como se fosse em linha reta, que dá em torno de 60, 70 hectares. Nós estamos conseguindo trabalhar com tanque pulverizador em áreas que a gente só fazia manual” Lucas Antônio Gonçalves Franco, agrônomo - Fazenda Sertãozinho
Dependendo da declividade do terreno, o custo varia de 15 a 40 horas de esteira por hectare. Até 2018, a fazenda deve adotar os terraços em 80% da sua área. Fora a facilidade da mecanização, os terraços trazem ainda outros benefícios.
“Esse degrau diminui a velocidade da água. A água vem correndo pelo morro e a água passa mais tempo e filtra, até a nascente lá embaixo vai ser beneficiada. O próprio adubo, que não vai escorrer, vai ser melhor aproveitado, para um melhor crescimento e a produção do café”, diz José Braz Matiello, agrônomo.
O café é uma planta que naturalmente produz mais num ano e menos no outro. E uma das últimas tendências no manejo da lavoura busca eliminar a safra menor, para fazer com que a planta só carregue a cada dois anos.
É a chamada poda de safra zero. Depois da colheita do ano bom, o pessoal faz cortes drásticos nas laterais e no ponteiro. Com esse tipo de poda, elimina-se a chamada bienalidade do pé de café.
“A produção alta é cinco vezes maior do que a produção baixa. A gente diz que um ano ela se veste e no ano seguinte ela veste o cafeicultor. A gente quer zerar a safra e deixar só a safra alta. O café com carga é uma safra fácil de colher, seja manual ou mecanizada. Cada saca colhida vai ser muito mais barata”, explica Matiello.
A produção a cada dois anos não é a soma do que ela produziria num ano bom e de um ano de safra menor, é um pouquinho menos, uns 10% menos. Só que a economia é 30, 40, 50% mais”, explica José Braz Matiello, agrônomo.
Em áreas de montanha, os pequenos produtores são os donos da maior parte das propriedades. Para ser competitivo com pouco recurso, é preciso tecnologia, sem esquecer a produtividade. Usar o que ele tem de mais importante que é a mão de obra familiar”, José braz matiello, agrônomo.
O sucesso dos pequenos produtores tem a ver com o trabalho da associação da qual eles fazem parte. A Assodantas é responsável pela comercialização de todo café dos seus 75 agricultores. E só vende através do chamado fair trade, uma certificação internacional de comércio justo que valoriza a produção de pequenas e médias propriedades.
“Enche a gente de orgulho ter hoje um café reconhecido no mercado”, declara João Batista Piva, presidente da Assodantas - Associação dos Agricultores Familiares do Córrego Dantas
Pelo fair trade, a associação negocia com exportadores que enviam café para os Estados Unidos, a Austrália e a Suíça. Por lá, os consumidores pagam mais pelo produto, em contrapartida ao respeito ao meio ambiente e ao estímulo ao desenvolvimento social dos agricultores.
“Esse café que a gente produz tem qualidade de vida. Cada um está ganhando a sua fatia.
Todo mundo cresce junto. Eu falo que uma associação forte é muito bom, mas o melhor é produtor forte”, comenta Piva.
Para ganhar o mundo e também conquistar os exigentes consumidores do mercado interno, o café brasileiro passa por rigorosos processos na pós-colheita. Trabalhar com essa cultura é assim: não basta produzir bem, é preciso saber beneficiar.
Leia a notícia na íntegra no site G1 - Globo Rural.
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