Diante do aumento na área cultivada nos EUA e o clima favorável, preços do milho recuam mais de 6% na semana
Pela segunda semana seguida, as cotações futuras do milho negociadas na Bolsa de Chicago (CBOT) despencaram. No balanço dessa semana, as principais posições da commodity acumularam desvalorizações entre 6,41% e 8,19% e se distanciaram ainda mais do nível de US$ 4,00 por bushel. Nesta sexta-feira (1), os vencimentos do cereal exibiram perdas entre 3,50 e 5,75 pontos. O contrato julho/16 era cotado a US$ 3,53 por bushel e o dezembro/16 a US$ 3,67 por bushel.
De acordo com informações das agências internacionais, a queda de hoje teve um ingrediente a mais, o feriado prolongado nos Estados Unidos. Mais uma vez, os investidores ajustaram suas posições diante do feriado da próxima segunda-feira (4) no país, em comemoração ao Independence Day.
Porém, as informações mais importantes ao longo da semana foram as novas projeções do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de área semeada com o milho nesta safra e os números dos estoques trimestrais. Nos últimos dias, os analistas já haviam reforçado a relevância dos dados e que poderiam influenciar o andamento das negociações em Chicago.
"A situação do milho é inversa a da soja. O cereal recuperou os estoques, que ficaram acima das expectativas e a área plantada com o grão será maior. Com isso, se tivermos um clima favorável, a safra norte-americana poderá ser superior a 370 milhões de toneladas, o que irá aumentar ainda mais os estoques. E a demanda a nível mundial não segue no mesmo ritmo que a oleaginosa", pondera o consultor de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze.
Ainda nesta quinta-feira, o USDA reportou um aumento de 7% na área cultivada com o cereal nesta safra, que deverá ficar em 38,08 milhões de hectares. Já os estoques trimestrais foram estimados em 119,89 milhões de toneladas, um aumento de 6% em relação ao mesmo período do ano anterior. As estimativas dos participantes do mercado giravam entre 112,71 milhões de toneladas e 117,48 milhões de toneladas.
"Ainda assim, acho que a baixa nos preços do milho estão chegando ao final. Até porque, o cereal não tem muito espaço para baixo. Acredito que com o milho mais barato teremos um estímulo maior para a produção de etanol nos EUA. Consequentemente, as cotações podem apresentar uma correção em médio prazo", reforça Brandalizze. No início do mês, divulgou que cerca de 134,63 milhões de toneladas seriam destinados à produção de etanol.
Clima nos EUA
Segundo informações reportadas pelo NOAA - Serviço Oficial de Meteorologia do país - no período de 7 a 11 de julho, grande parte do Meio-Oeste dos EUA deverá registrar temperaturas acima da média. Em relação às chuvas, alguns estados poderão ter precipitações abaixo da normalidade e outros acima da média, conforme o indicado nos mapas abaixo.
Temperaturas nos EUA entre os dias 7 a 11 de julho - Fonte: NOAA
Chuvas nos EUA entre os dias 7 a 11 de julho - Fonte: NOAA
"Embora as previsões dizem que o clima será mais quente na próxima semana durante a polinização do milho, as chuvas poderiam aliviar o stress relacionado com o calor. Apesar do USDA dizer que os produtores plantaram uma grande área, as lavouras ainda precisarão enfrentar as próximas duas semanas, que irão determinar o quão bem a cultura se desenvolve", disse Bob Burgdorfer, analista e editor do portal Farm Futures.
Ainda essa semana, o departamento informou que cerca de 75% das lavouras ainda apresentavam boas e excelentes condições, até o último domingo (26). Em torno de 20% das plantações estavam em situação regular e 5% em condições ruins ou muito ruins. Os números serão atualizados na próxima semana.
Mercado interno
No Brasil, a semana também foi de pressão aos preços do milho. Conforme levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bittencourt Lopes, em Ponta Grossa (PR), o valor caiu 20,83% e a saca do milho fechou a semana a R$ 38,00. Em Jataí (GO), a queda foi de 13,51%, com a saca a R$ 32,00. Nas praças do Paraná, Londrina, Cascavel e Ubiratã, o recuo ficou em 2,86%, com a saca a R$ 34,00.
Já em Tangará da Serra e Campo Novo do Parecis, ambas em Mato Grosso, a queda foi de 3,45%, com a saca do milho a R$ 28,00. Em Não-me-toque (RS), o recuo ficou em 2,27%, com a saca a R$ 43,00. No Porto de Paranaguá, a saca para entrega setembro/16 fechou a semana a R$ 34,00 e queda de 2,86%.
As cotações estão pressionadas com o avanço da colheita da safrinha e também com o comportamento cambial. No maior estado produtor, o Mato Grosso, a colheita já supera os 16%. Já no Paraná, a colheita está completa em 15% da área semeada nesta temporada. Em Mato Grosso do Sul, em torno de 7,1% da área já foi colhida. A perspectiva é que país colha uma safrinha próxima de 50 milhões de toneladas, conforme dados das consultorias.
"Acho que agora com a entrada da safrinha já é o fim da crise de abastecimento de milho. Aquelas cotações observadas no início do ano, de mais de R$ 60,00 a saca, já ficaram no retrovisor. Apesar da queda nas cotações, os preços ainda continuarão lucrativos aos produtores. Mas a fase de desabastecimento e disparada de preços já passou", pondera Brandalizze.
Em relação ao milho que seria exportado e foi renegociado para o mercado interno, o consultor ressalta que o volume deve ser próximo de 7 a 10 milhões de toneladas. "E irá cobrir o buraco que o Brasil precisaria importar no segundo semestre", completa.
Conforme projeção da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), o Brasil deverá exportar cerca de 23 milhões de toneladas, no entanto, há incertezas que o número seja alcançado. Ainda essa semana, o Governo federal indicou que não irá mais realizar a venda de 500 mil toneladas de milho dos estoques públicos. A medida foi reportada no início de junho e tinha como objetivo conter altas dos preços, que estavam em níveis recordes.
De acordo com dados da agência Reuters, o Ministério da Agricultura disse que as medidas não serão mais necessárias, "pois os preços estão se normalizando". Atualmente, o Brasil tem pouco mais de 880 mil toneladas de milho nos estoques públicos, segundo dados oficiais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Confira como fecharam os preços nesta sexta-feira:
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