Temer deixa marca da discrição para assumir Presidência e tentar tirar país da crise

Publicado em 12/05/2016 07:13

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Por Alexandre Caverni

SÃO PAULO (Reuters) - Articulador habilidoso, conciliador, paciente, humilde são algumas das qualidades do presidente interino Michel Temer que o tornam o político "adequado para esse momento", na visão de seus aliados. Talvez uma outra habilidade, construída ao longo de muitos anos à frente do maior partido do país, seja a mais necessária agora: equilibrista.

Chamado por muitos como uma "federação de partidos", o PMDB tem vários grupos regionais de peso e importância quase equivalentes que tornam praticamente inútil o esforço por uma unidade completa, mas que requerem ainda assim um comando nacional para equilibrar os diferentes interesses.

Presidente do partido desde 2001, Michel Temer terá que usar toda a capacidade que desenvolveu nesses anos na complexa missão de manter o equilíbrio entre um necessário e doloroso ajuste fiscal, a manutenção de programas sociais, a condução de reformas estruturais e respostas a demandas dos mais variados setores, especialmente do Parlamento, peça-chave nisso tudo.

"É o político perfeito da atualidade, adequado para esse momento... conciliador, paciente, um líder tem que ser paciente", disse à Reuters um cacique do PMDB. "Ele compreende o problema do outro", afirmou.

"É muito respeitoso e atencioso nas conversas, tem um traço forte de humildade --se oferece para ir encontrar seu interlocutor, em vez de recebê-lo", ressaltou um ex-ministro não peemedebista da presidente Dilma Rousseff.

Deputado federal por seis mandatos, Michel Miguel Elias Temer Lulia presidiu a Câmara dos Deputados em três biênios --1997/1998, 1999/2000 e 2009/2010, o que lhe deu uma enorme experiência parlamentar e de negociação.

Os apoiadores de Temer dizem que sua longa carreira política atuando em todo o espectro ideológico --presidiu a Câmara tanto no governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, como no de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT-- faz dele um líder forte, mas ao mesmo tempo pacificador, para uma transição.

    "Ele é um político bom, experiente", disse Moreira Franco, um dos homens fortes do novo governo. "Seus valores incluem a moderação, a prudência e a sabedoria... ele trabalha mais como um pacificador do que como alguém que cria conflitos."

Um exemplo dessa característica, segundo um outro cacique peemedebista, foi quando assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, pela segunda vez, no início de 1993, pouco depois do massacre do Carandiru.

"Temer assumiu para pacificar a polícia", disse o peemedebista. "Ao mesmo tempo que é conciliador, faz valer sua autoridade."

Apesar das disputas políticas ferozes e variadas transcorridas na Câmara, Temer era conhecido por se manter acima das refregas. Aos 75 anos, esse paulista de Tietê raramente ergue a voz, tem fama de jamais dizer palavrões e se abstém da gesticulação e da teatralidade quase obrigatórias a que seus pares recorrem em debates.

Parecia ter atingido o pico de sua carreira com a eleição como vice-presidente da República em 2010, na chapa encabeça por Dilma. Isso mudou conforme os ventos do impeachment se transformaram na tempestade que derrubou a petista.

DEIXANDO A DISCRIÇÃO DE LADO

Nesse processo, deixou de lado uma das características pelas quais é mais conhecido, a discrição. Conforme o movimento pelo impedimento da presidente ganhava força, Temer não se contentou com uma postura passiva, simplesmente afastando-se dela e esperando que a situação se resolvesse, de um modo ou de outro, sem seu envolvimento.

Acabou trabalhando ativamente para regimentar forças favoráveis ao impeachment, negociando com deputados e líderes partidários, tendo um papel que, quase certamente, foi chave no desfecho que acabou acontecendo.

Antes mesmo da confirmação de Temer como companheiro de Dilma para a eleição de 2010, o historiador Luiz Felipe de Alencastro já apontava a "situação paradoxal" que seria uma chapa formada pelos dois.

"Uma presidenciável desprovida de voo próprio na esfera nacional, sem nunca ter tido um voto na vida, estará coligada a um vice que maneja todas as alavancas do Congresso e da máquina partidária peemedebista", disse Alencastro em texto publicado em 2009. O título do artigo não poderia ter sido mais premonitório: "Os riscos do vice-presidencialismo".

Em agosto do ano passado, uma declaração de Temer, quando ainda exercia a função de articulador político do governo Dilma, gerou extrema irritação entre os petistas em geral e os auxiliares mais próximos da presidente em especial.

"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país", disse após uma reunião com líderes partidários.

Num momento em que o impeachment ganhava fôlego, diante da baixíssima popularidade da presidente e do aprofundamento das crises econômica e política, Dilma e seus auxiliares consideraram que Temer, ao falar o que falou, se colocava como esse "alguém" para reunificar o país.

O vice rejeitou que sua intenção fosse se colocar como alternativa de poder, mas a relação com Dilma, que nunca foi boa, só piorou depois disso. Uma carta pessoal à presidente, vazada, na qual fazia inúmeras queixas, foi outro episódio que riscava a discrição da sua atuação política.

O ápice disso foi o vazamento, segundo ele por equívoco, de um discurso no qual falava, dias antes da votação, como se a Câmara tivesse aprovado o impeachment da presidente.[nL2N17E1QM]

Agora deixa definitivamente para trás os bastidores dos últimos meses para ocupar o palco central do teatro político nacional.

Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é autor de livros de direito e de uma coletânea de poesias intitulada "Anônima Intimidade".

Casado com Marcela Temer, quase 43 anos mais jovem, tem um filho com ela, três de seu primeiro casamento e mais um de outra relação.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello, Leonardo Goy, Brad Brooks e Lisandra Paraguassu)

 

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Fonte:
Reuters

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