Clima irregular para nova safra dos EUA intensifica volatilidade em Chicago
Mercado climático. Volatilidade. Esses deverão ser os dois termos mais ouvidos, ao menos nos próximos 70 dias, pelos participantes do mercado internacional de grãos. A nova safra dos Estados Unidos já está em curso - com 23% da área de soja e 64% da área de milho plantadas até o último domingo (8) - e foi iniciada sob muita especulação. Afinal, termina o período de um dos mais fortes El Niños já registrados e agora a grande dúvida é se ele será sucedido por um La Niña ou não.
Por hora, ainda é difícil confirmar. Os mapas mostram que o momento atual é de uma ligeira neutralidade e espera, já que será necessário acompanhar, diariamente, se haverá mesmo um esfriamento das águas do oceano Pacífico para caracterizar o La Niña. E nesse período de transição, já se pode observar uma irregularidade no padrão climático do Meio-Oeste dos EUA, maior região produtora do país.
Lavoura de milho em Aurora/Nebraska, nos EUA - Fonte: Instagram do produtor Julius Goertzen
"Não estamos em um momento ruim, mas não fizemos muito progresso desde que começou a chover há 11 dias. Sei que há locais em que não se plantou nada até o momento, há outros ainda onde chove há um mês. Esse começo nunca é divertido", relata Kyle Stackhouse, em seu blog no portal internacional Farm Futures. "Essas chuvas das quais queremos distância neste momento são as mesmas que iremos desejar em um ou dois meses", completa.
Ainda de acordo com Stackhouse, a maior preocupação neste momento se dá agora com as baixas temperaturas. O desenvolvimento das plantas de milho em algumas partes do Corn Belt já indicam que as atuais temperaturas não são as mais adequadas e chamam, portanto, a atenção dos produtores. "Este tempo mais frio exerce um stress sobre as sementes. No entanto, o bom é que nossos solos não estão saturados. Eles conseguiram secar um pouco entre uma chuva e outra. Afinal, frio e excesso de umidade nunca é bom", explica.
De acordo com o último boletim semanal de acompanhamento de safras reportado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na última segunda-feira (9), cerca de 27% da lavouras norte-americanas de milho já tinham emergido, contra 13% da semana anterior, 23% de 2015 e 17% da média dos últimos cinco anos.
De acordo com informações apuradas pela Labhoro Corretora, nas últimas 24 horas as chuvas variaram de 5 a 50 mm entre os principais estados produtores como Dakota do Norte, Nebraska, Indiana, Illinois, Missouri, Iowa e Wisconsin. "Agora, alguns modelos climáticos divergem sobre a entrada de um Jet Stream, que poderá produzir condições climáticas variadas para as áreas produtoras nos Estados Unidos", informou a Labhoro.
Os mapas abaixo, do NOAA - o serviço oficial de clima do governo dos Estados Unidos -, mostram que, nos próximos 6 a 10 dias as condições climáticas ainda trazem de 50% a 60% de possibilidade de chuvas acima da média para o Meio-Oeste americano, bem como temperaturas abaixo. O período observado é de 16 a 20 de maio.
Chuvas nos EUA para os próximos 6 a 10 dias - Fonte: NOAA
Temperaturas nos EUA para os próximos 6 a 10 dias - Fonte: NOAA
Para Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais, essa volatilidade trazida pelo mercado climático, ou weather market, foi catalisada pelos números trazidos pelo USDA em seu último reporte mensal, os quais ajustaram a relação de oferta e demanda da soja, além de trazerem um aumento expressivo para o quadro global da produção de milho, incluindo um bom aumento de área de plantio, produção e estoques norte-americanos do cereal.
"Está lançada a base para a extrema sensibilidade dos preços aos nuances climáticos. Houve muita especulação sobre clima nos EUA há 30/60 dias. Agora deu uma acalmada porque o tempo tem corrido bem nesta fase de plantio", diz o analista. "Este é um ano em que se constata o enfraquecimento do El Niño. O que virá? Eis a questão. Muitos acham que poderá haver alguns transtornos, sim. Embora não se saiba ainda se o esfiramento das águas do Pacífico irá acabar em um novo La Niña", completa.
Ainda segundo Motter, as especulações, neste quadro, só aumentam e se intensificam, principalmente em função do enxugamento dos estoques americanos. "Depois de 3 anos, estamos em um sério processo de enxugamento dos estoques mundiais. A produção não avançou mais, fica por ali, perto de 320 milhões de toneladas de soja e o consumo continua seguindo seu curso, com aumentos todos os anos sistematicamente", diz.
Nas tabelas a seguir, veja os números completos do USDA, para soja e milho, reportados nesta terça-feira, 10 de maio.
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