Café: Com queda nos estoques de robusta e perdas na safra 16/17, consumo interno deve se voltar para o arábica
A possibilidade de mais uma queda na safra do Espírito Santo – maior estado produtor de café robusta no Brasil – devido à seca e os baixos estoques da variedade, devem fazer o consumo interno se voltar para o arábica nos próximos meses. A informação é do Escritório Carvalhaes, importante corretora, localizada em Santos (SP). No entanto, os embarques da variedade pelo Brasil devem seguir firmes para suprir a demanda externa, estima o CeCafé.
Nos últimos anos, a variedade robusta – usada para fabricar café instantâneo –, tem ganhado espaço no mercado, principalmente, pelo fato de seu preço ser mais atrativo. Em 2015, por exemplo, os estoques do tipo quase que dobraram na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe).
"O café robusta ganhou espaço no mercado nos últimos anos porque o consumidor percebeu que a qualidade dele não destoa tanto em relação a do arábica e tem preço menor", explica o gerente geral da Cooabriel (Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel), a maior da variedade no País, Edmilson Calegari.
Na última safra, os cafeicultores do Vietnã – maior produtor da variedade robusta – preferiram estocar a produção e vendiam o café com prêmios que chegavam a mais de US$ 100 por tonelada, o que só fez aumentar a demanda pelo café brasileiro.
O CCCV (Centro do Comércio de Café de Vitória) reportou que os embarques de robusta do Espírito Santo em 2015 foram recordes, com 4,02 milhões de sacas de 60 kg. O maior volume exportado do grão na história do estado. Para o Centro, o dólar fez com que o mercado externo se tornasse mais competitivo. Normalmente, cerca de 90% do robusta capixaba é destinado ao consumo interno brasileiro.
A crescente demanda externa pelo grão brasileiro fez com que os produtores usassem nos últimos meses os estoques de safras passadas, uma vez que a colheita no estado tem sido baixa por conta das condições climáticas adversas desde 2014. Com isso, os envolvidos de mercado já estimam que os estoques da variedade cheguem a abril e maio praticamente zerados.
"Esta situação [exportações e estoque baixo] vai fazer o consumo interno brasileiro se voltar para o estoque de arábica ainda existente no Brasil. As informações que chegam do Espírito Santo são que a nova safra 2016 de robusta também sofrerá perdas com as secas ocorridas nas regiões produtoras do norte do Estado e do sul da Bahia", explicou o Escritório Carvalhaes em seu informativo.
A safra 2016/17 do Espírito Santo segue uma incógnita até mesmo para as entidades do estado. De acordo com o Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), a estimativa para a safra atual realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no estado aponta para uma leve alta de 7,3% na produção de robusta por conta de um aumento na produtividade por área, totalizando 8 milhões de sacas. Já a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima uma quebra de 1% na produção da variedade em relação a 2015 devido à redução de áreas plantadas, com 7,7 milhões de sacas, ante as 7,8 milhões de sacas registradas em 2015.
A Cooabriel acredita que a safra 2016/17 de café robusta do Espírito Santo fique entre 6 milhões e 7 milhões de sacas, destacando as adversidades climáticas como o principal fator responsável pela quebra nesta temporada.
Em 2015, as plantações capixabas enfrentaram uma das maiores secas dos últimos 50 anos. Em uma medida preventiva, em meio ao risco de desabastecimento, o Governo do estado priorizou o consumo humano e proibiu a irrigação das lavouras em algumas cidades. Cerca de 80% das plantações de café robusta do Espírito Santo utilizam sistemas de irrigação.
Mesmo com o robusta perdendo espaço no consumo interno para o arábica, as perspectivas de exportação continuam altas uma vez que os produtores do Vietnã estão distantes do mercado e os torrefadores precisam do robusta para café instantâneo e composição de blends, mesmo que tenham que pagar um valor maior por isso.
Tomando como base o Indicador CEPEA/ESALQ na sexta-feira (19), a diferença entre os dois tipos é de R$ 92,90. O preço do robusta tipo 6, peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, fechou cotado a R$ 398,65 a saca, enquanto que o arábica tipo 6, bebida dura para melhor registrou R$ 491,55 a saca.
"Várias estimativas falam em mais uma redução na safra de café do Espírito Santo. No entanto, com a chegada da nova safra, em julho, acredito que o Brasil volte a se tornar uma importante fonte de exportação", afirma o presidente do CeCafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), Nelson Carvalhaes que acredita em queda nos embarques do País neste primeiro semestre.
Em janeiro, por exemplo, as exportações de café do Brasil recuaram 11,4% em relação ao mesmo período de 2015, totalizando 2,709 milhões de sacas. A receita cambial caiu 34,05%, para US$ 401,42 milhões, em comparação com US$ 608,631 milhões em janeiro do ano passado.
"Nos últimos meses, lançamos mão dos estoques para suprir a forte demanda. Porém, acredito que o Brasil tem café para exportar e consumir internamente neste ano", pondera Carvalhaes. Segundo o CeCafé, o País já representa 40% do consumo mundial.
Em matéria publicada na semana passada, o jornal americano The Wall Street Journal ressaltou o crescimento nas exportações do robusta brasileiro. Com a desvalorização do real ante o dólar, as vendas para o produtor ficaram mais lucrativas fazendo os vietnamitas saírem do mercado.
"O desequilíbrio criado pelo dólar entre os dois maiores produtores mundiais, Brasil e Vietnã, está pressionando o preço do grão do tipo robusta ao encorajar os produtores brasileiros a plantar mais. Ao mesmo tempo, os produtores vietnamitas são pressionados a migrar para outras culturas, como a pimenta, duas tendências que podem ter um impacto de longo prazo na produção de café", destaca a publicação.
As exportações de robusta do Vietnã caíram mais de 20% no ano passado em relação a 2014, segundo dados do governo, apesar de uma safra grande. Enquanto isso, os embarques do Brasil subiram 21%.
"O preço do café está terrivelmente baixo e nenhum de nós quer vender os grãos agora", disse Y Kua Mlo, produtor da principal região cafeicultora do Vietnã.
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