De volta ao azul, Biosev vê longo ciclo positivo para açúcar
Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - A produtora de açúcar e etanol Biosev SA, segunda maior processadora global de cana, acredita que os preços do adoçante seguirão atrativos por um longo período, já que as perspectivas para investimentos em aumento de capacidade são sombrias.
A Biosev, empresa controlada pela trading de commodities francesa Louis Dreyfus, divulgou na noite de quinta-feira seu primeiro lucro trimestral em mais de três anos, devido a fortes aumentos nas receitas com vendas de açúcar e etanol.
"O Brasil, sendo o país mais competitivo, seria o primeiro a poder expandir a produção. Boa parte dos atores estão com custos acima do mercado, estão sem incentivo para crescer", disse à Reuters nesta sexta-feira Rui Chamas, presidente-executivo da Biosev.
"Em princípio seria o Brasil que elevaria a produção, mas como isso deve demorar um tempo para acontecer, pode fazer com que o ciclo de baixa de produção seja maior e faça com que o ciclo de alta nos preços seja potencialmente mais longo", afirmou.
Chammas disse que boa parte da indústria sucroalcooleira no Brasil ainda tem nível de endividamento alto e está fresco na memória de todos o ciclo recente de baixa nos preços, que elevou fortemente o endividamento.
"Então vai se esperar uma consolidação dos preços no mercado antes que se volte a falar em investimento importante em crescimento de produção, o que é positivo para o setor."
A Biosev registrou lucro líquido 162,80 milhões de reais no terceiro trimestre do ano safra 2015/16, terminado em dezembro.
A receita líquida da empresa considerando os nove primeiros meses da safra cresceu 60 por cento na comparação com período similar anterior, para 5 bilhões de reais.
Os preços do açúcar se recuperaram no ano passado após um longo período de baixa, quando grandes superávits anuais de produção deprimiam os valores da commodity.
O setor também busca se recuperar do longo período de preços artificialmente baixos da gasolina, só encerrados em 2015.
O banco Itaú BBA estima em aproximadamente 100 bilhões de reais a dívida do setor sucroalcooleiro.
A Biosev diz que seu custo atual de produção de açúcar é de 9,5 centavos de dólar por libra-peso, comparado ao valor do açúcar nesta sexta-feira em Nova York de cerca de 13,15 centavos por libra.
O custo médio de produção no Brasil, segundo a consultoria Kingsman, está pouco acima de 12 centavos, enquanto outros países produtores possuem custos superiores a 14 centavos.
O Brasil deverá colher uma safra recorde de cana em 2016/17, devido a chuvas benéficas. A perspectiva de grande produção afetou os preços do açúcar neste início de ano, já que chegaram a estar acima dos 15 centavos no final do ano passado.
Mas Chammas não acredita que haverá uma grande mudança em favor do açúcar na próxima safra, como muitos acreditam.
"Muita gente diz que o açúcar está pagando um prêmio sobre o etanol e por isso a safra será mais açucareira. Esse consenso foi construído algumas semanas atrás, desde então o açúcar caiu um pouco", afirmou
"Não estou seguro que a safra será mais açucareira como alguns acreditam. Nos primeiros meses da safra acredito até que etanol estará com melhores preços que o açúcar", disse o executivo.
Segundo ele, algumas usinas mais endividadas continuarão dando preferência para o etanol visando gerar caixa rapidamente para custear as operações, já que o biocombustível é mais líquido no mercado.
Questionado sobre se a Biosev teria interesse em adquirir as usinas da Abengoa, que estão à venda, Chammas disse que o foco segue na disciplina operacional e na maximização do uso dos ativos do grupo, mas que a empresa "continuará observando as oportunidades no mercado".
"Eu prefiro não especular, não estamos ativamente buscando usinas".
(Reportagem de Marcelo Teixeira)
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