Os efeitos da crise chinesa para o agronegócio
A mudança no perfil de crescimento econômico da China -- que passa a assumir foco maior no mercado interno em detrimento a exportação -- ainda não conseguiu ser suave o bastante para garantir calmaria ao mercado financeiro. Acostumado a ver o país ampliar o Produto Interno Bruto (PIB) a taxas de dois dígitos, o resto do mundo tenta se acostumar a um novo cenário, que promete ritmo mais fraco de expansão. Enquanto a transição não é totalmente assimilada, a economia global encara tropeços como o desta semana, que gerou fortes quedas nas principais Bolsas de Valores mundiais. O quadro gera reflexos diretos no agronegócio, comprovados por meio de flutuações nas cotações principais commodities negociadas internacionalmente.
Para detalhar melhor quais os efeitos dessa mudança, o Agronegócio Gazeta do Povo ouviu especialistas de dentro e fora do Brasil para ouvir opiniões sobre como a nova realidade da China afeta o agronegócio. Confira como os principais elementos do mercado serão afetados.
Preços
As cotações das principais commodities agrícolas reagiram as quedas das bolsas chinesas operando no campo negativo nesta semana. Na última segunda-feira (04), quando ocorreram as primeiras quedas na Ásia, a cotação da soja em Chicago caiu 0,8% no vencimento janeiro/2016, para US$ 8,64 por bushel.
Na avaliação dos especialistas, isso é uma reação natural dos investidores em um momento de incerteza. “Esses soluços do mercado refletem a ideia de que a China está desacelerando mais forte do que se esperava”, pontua o diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Para o analista de mercado Flávio França Júnior, trata-se de um comportamento de aversão aos riscos. “Em meio a incerteza os investidores buscaram ativos mais seguros, como o dólar”, exemplifica.
Assim, o fator cambial assume peso decisivo para garantir sustentação as cotações da oleaginosa. O yuan acumula desvalorização de 4% frente ao dólar, mas registra alta de 42% frente ao real. Isso amplia o poder de compra chinês no Brasil, favorecendo um redirecionamento da demanda.
Demanda
O analista da Bolsa de Comércio de Rosário, Guillermo Rossi lembra o papel decisivo que o apetite chinês assumiu no mercado de grãos. “O caso da soja é pragmático. O comércio mundial cresceu 278% nas últimas duas décadas, mas, desconsiderando a China, esse número cai para 38%”, compara. “Isso significa que mais de 80% do crescimento desse mercado se deve ao aumento da demanda de um único país”, salienta.
No caso do Brasil as exportações para a China (+24%) crescem acima da média total (+18%), comprovando o poder de incentivo gerado pelo país. Nos Estados Unidos o peso asiático sobre o crescimento total é menor, reforçando a dependência das economias emergentes.
Mesmo com as mudanças os especialistas descartam uma queda na demanda. “Ninguém está falando em recessão. A importação chinesa vai crescer menos, mas não quer dizer que vai retrair”, argumenta Ferraz, da Informa Economics. França Júnior faz análise semelhante. “Essa turbulência do mercado não é desprezível, mas até agora ela não impactou a demanda chinesa por soja. Esse crescimento deve continuar em 2016”, projeta.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), estima salto de 3% nas compras chinesas em relação à temporada 2014/15, chegando a 80,5 milhões de toneladas neste ciclo.
Longo prazo
“O processo vivido pela China entre 1980 e 2010, de crescimento tão acelerado, não se repetirá nunca mais”, decreta Rossi, da Bolsa de Rosário. Assim, ele avalia que o mercado deve buscar a viabilidade otimizando os custos de produção. “É preciso atacar problemas estruturais, como baixar os custos de transporte e financiamento”, pontua.
Em paralelo, há necessidade de buscar outros mercados, com os países do Sudeste Asiático. “Nesse caso há uma possibilidade de exportar não apenas matéria-prima, mas também produtos com maior valor agregado”, destaca.
Leia a notícia na íntegra no site Gazeta do Povo.
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