Sinais do Apocalipse - Desejo estar Errado, por Eduardo Lima Porto
Desde o início do ano que se vinha especulando fortemente sobre o rebaixamento da classificação de Risco do Brasil e acerca da possibilidade que se concretizou ontem da subida dos juros norteamericanos.
Em reiteradas ocasiões no transcurso desse ano, manifestei que a Agricultura, e em especial, os produtores de Soja do Mato Grosso enfrentariam situações bastante difíceis nessa Safra a partir da conjunção de uma série de variáveis negativas que poderiam justificar o termo que se encontra tão em voga: “A tempestade perfeita”.
Traço a seguir um cenário derivado da combinação de fatores que está longe de ser improvável:
a) Novo patamar para o dólar nos primeiros 3-4 meses de 2016, fixando-se na faixa de R$ 4,30 a R$ 4,60;
b) Quebra média na produção de Soja no Centro-Oeste de 15%;
c) Contratos já fixados em Reais para entrega no período de Março a Maio numa proporção equivalente a 50% ou mais do volume negociado na safra passada;
d) Ataque semelhante aos anos anteriores da ferrugem asiática, helicoverpa e mosca-branca;
e) Manutenção do crescimento da demanda chinesa;
f) Escoamento dos estoques de Soja represados pelos argentinos nos próximos 2-3 meses;
g) Instabilidade política generalizada no Brasil, marcada por protestos, greves e paralisações diversas (camioneiros, petroleiros, bancários, portuários, etc).
Imaginemos um Agricultor de porte médio, que tenha contraído empréstimos de longo prazo para renovação do maquinário entre 2011 e 2013.
Quais seriam as conseqüências imediatas para ele diante de um cenário como esse?
Possivelmente, a situação será de insolvência ou de baixa capacidade para honrar entregas pactuadas nos contratos de Barter.
Poderá haver problemas de qualidade da Soja, como já ocorrido em safras anteriores, elevando a pressão por descontos de preço e reduzindo a geração de caixa de maneira generalizada.
O custo médio do capital vai subir substancialmente, de um lado pela indisposição dos agentes de continuar a financiar o risco de um setor descapitalizado e com dívidas acumuladas, do outro porque o chamado “custo de oportunidade” definirá a alocação dos recursos em aplicações mais seguras e de retornos superiores aos da atividade agrícola.
O Governo que já atrapalha brutalmente a Economia com a sua burocracia excessiva, incompetência e voracidade tributária, irá tornar-se o maior concorrente do Agronegócio na captura de recursos para Capital de Giro.
Advogados oportunistas irão massificar os pedidos de Recuperação Judicial, retornando com a rançosa e indefensável Teoria da Imprevisão, aumentando o sentimento de desconfiança que irá dificultar por longo tempo a restabelecimento do crédito. Os mais experientes lembrarão bem do que ocorreu em 2003 e 2004.
Corporações estrangeiras capitalizadas em moeda forte poderão adquirir extensas áreas com histórico de produção a preços “baixos" ou submetidos a questões judiciais.
Num panorama assim, vislumbro o crescimento acelerado da presença chinesa no interior do Mato Grosso e em outros Estados, sobretudo do Centro-Oeste.
Em 2016, desejo sinceramente que as minhas previsões estejam erradas.
5 comentários
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Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS
Realmente Amigos, desejo estar ERRADO! É certo que o mercado se ajustará a uma nova realidade de oferta e poderá elevar as cotações internacionais. Há que se considerar o impacto do estoque argentino não negociado em 2015, estimado em 17 milhões de toneladas. A questão apresentada é que a redução do potencial produtivo está se verificando não só no Mato Grosso, mas também no resto do País. Os contratos fixados deverão ser cumpridos e quem tiver um nível de comprometimento muito elevado da sua produção com entregas pactuadas, terá certamente problemas graves para recomprar o grão, se as cotações em Chicago e o cambio subirem. A essência do problema setorial remete a uma análise mais profunda sobre como as decisões são tomadas a nível individual e como estão organizadas as entidades para enfrentar situações do gênero. O setor produtivo brasileiro não construiu uma estratégia de longo prazo com mitigadores de risco climáticos, de mercado, etc. Nesse aspecto, seguimos com a postura paternalista de quem clama pela ajuda do Estado, do Judiciário e até dos Santos para resolver questões que fazem parte da natureza da atividade. Alguns dos Bancos mais sólidos do Mundo foram constituídos por Agricultores e são administrados por profissionais fiscalizados por Conselhos escolhidos por Agricultores. É uma vergonha para o Setor que as nossas entidades representativas não tenham se unido em torno de um Projeto para constituição de um Seguro Climático que leve em conta as peculiaridades regionais, de uma Bolsa de Mercadorias localizada aqui, de um Banco dedicado exclusivamente as questões do Agro. Na síntese, a esmagadora maioria segue na ignorância, gosta de ser tutelada pelo Estado, tomam decisões por impulso ou por palpites de buteco, elegem quem lhes diz o que querem ouvir e acreditam que o ciclo de alta durará para sempre.
Este estoque argentino já foi estimado pelo mercado, quando fizeram estimativas de produção. Se esta soja existe mesmo, e está guardada nos silos dos agricultores, porque não impactou no mercado? Se os agricultores estão segurando, esta soja não foi processada. Por que o desaparecimento de 17 mi de ton. não afeta os preços?
O novo presidente argentino, Macri, não retirou todas as retenciones sobre a soja e desvalorizou a moeda com força. Acho que os produtores argentinos estão com medo de vender, o cambio cair ainda mais e fazer com que percam dinheiro. A Argentina está tentando sair de uma economia de estimulos para uma economia de mercado, Macri também falou em aumentar a produção e exportação de farelos, talvez isso gere dúvidas sobre o que o governo pretende fazer.
O propalado estoque argentino pode ser um grande engodo, fabricado pelos próprios agricultores, afim de liberar as cotas de exportação. Ou seja, quanto maiores os estoques mais facilmente o governo liberaria as exportações. Além do mais, segundo informações do mercado, o agricultor argentino esta passando por dificuldades financeiras, admitir que mesmo assim tenha folego para permanecer estocado me parece um contra-senso.
Há alguns meses que escuto sobre o estoque argentino e lhes confesso que no início me pareceu algo realmente sem sentido, principalmente considerando a necessidade de gerar caixa que qualquer Produtor possui, ainda mais no caso deles agravado pela Política de Retenções. Trabalhei alguns anos na Argentina e tenho contato permanente com Amigos de lá. Há dois meses, estive numa reunião em Rosário onde se encontravam Produtores, Corretores, Exportadores e Fornecedores de Insumos. Escutei acerca desse estoque e questionei sobre a veracidade do mesmo. Foram categóricos. O estoque é real e corresponde a mais ou menos 30% do volume produzido. A explicação foi de que nos últimos meses com a forte oscilação do Peso Argentino em relação ao Dólar e do descasamento das cotações da Soja estabelecidos pelo Governo, formou-se um mercado "secundário" onde determinados negócios foram sendo firmados sem o controle do Governo. Alguns souberam aproveitar o enorme GAP formado entre o cambio oficial e o paralelo, gerando uma rentabilidade financeira bastante elevada em contraposição dos preços que declinaram em Chicago. Mesmo com a pequena redução das retenções da Soja de 35% para 30% comprometido pelo Governo Macri, a "legalização" de uma operação de cambio que era irregular, irá proporcionar um enorme fôlego aos produtores argentinos. O Governo está estimulando que vendam esse estoque para que se ingresse com as divisas correspondentes o mais rápido possível. Comparativamente, os produtores de lá se beneficiaram financeiramente da diferença cambial da mesma forma que os agricultores daqui conseguiram nesse ano, quando mesmo com cotações baixas em Chicago, obtiveram preços em Reais recordes. Me parece que essa analogia é de fácil entendimento por aqui. Levemos em conta que em 2006 quando se incrementou a taxação sobre a Soja na Argentina, a produção era de aproximadamente 40 milhões de toneladas. Mesmo com todos os descalabros produzidos no Governo Kirchner, em 2015 o volume produzido foi de 56 milhões de ton, houve enorme valorização das terras, impostos adicionais e conflitos com os produtores. Estas distorções econômicas, políticas e de mercado não quebraram totalmente o Agro argentino.
Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
Eduardo, como tenho o coro grosso, não sou tão pessimista assim. Estive olhando gráficos ontem, e há uma boa probabilidade do preço ultrapassar os 9 dólares, chegando a 10,5, que foi a última grande resistencia nos últimos meses. Daí para a frente é dificil estimar, mas com dólar valendo 5 reais, que é o que vai valer com o "novo", velho ministro do planejamento. Aliás, por falar nisso, até hoje não sei por que há um ministério do planejamento, se absolutamente tudo o que planejam dá errado. Isso que acho, os preços estavam consolidados entre 8,5 e 9, sem tendencia, mas querendo romper o suporte e chegar a 8 ou abaixo, veio a seca e está se formando uma nova tendencia de alta que pode chegar aos 10,50. Como a seca até agora, não está atingindo todos os produtores, pois assim como há regiões extremamente secas, há as que estão recebendo chuvas normalmente. Sem dúvida que o sofrimento será muito grande aos que estão padecendo o flagelo da seca, mas me desculpem a sinceridade brutal, ninguém liga. Se caem 10 ou 20, um só estará disposto a plantar toda a área desses 10 ou 20. E a culpa é dos próprios produtores, que permitiram que, principalmente funcionários públicos tenham todas as garantias possiveis e imagináveis, enquanto os produtores rurais, não tem garantia de nada, sendo ainda tratados como exploradores dos pobres. Também em minha opinião, não serão os Chineses que ficarão com as terras, elas serão compradas ou arrendadas pelos mesmos politicos que impedem o desenvolvimento de seguros agricolas no Brasil. O seguro destes já está garantido, e a garantia é a votação de acordo com o que o PT manda. No caso de serem os politicos empresários também afetados pela seca, ficarão com o seguro, e com as terras daqueles que não receberão nada, sob os mais diversos pretextos. Para finalizar, sempre que falo nesse assunto, penso que poderia escrever um livro sobre isso, o que talvez um dia ainda faça se Nossa Senhora permitir, quando estiver ainda mais velho, e espero que mais maduro.
Sr. Rodrigo, ATÉ QUANDO ??? Qual é o maior mal da raça humana?? Veja o que disse um dos autores do pedido de impeachment, o jurista Miguel Reale Jr afirmou que o STF pratica "ativismo jurídico de altíssimo grau".
Sai Joaquim... Entra Nelson. Nomes são citados, mas não são citadas as tendências nefastas que irão ser tomadas na macroeconomia. Nós, a maioria vivenciamos o dissabor da "retomada do crescimento"... Mentiras, Mentiras, Mentiras, são ditas, hoje já podem ser serem vistas como o escárnio que a eminente Ministra do STF, Carmen Lúcia citou na sua sentença de um dos envolvidos no "petrolão". Diz-se que nos regimes democráticos o "DESEJO DA MAIORIA" que norteia os caminhos a serem seguidos. Adianta 63% da população querer o impeachment dessa "doida"? 63% não é maioria? PORQUE no BraZil tudo é diferente? Politicos petistas vêm a público dizer que com "Nelson" vai ser mais fácil a retomada do crescimento! COMO? PORQUE O PAÍS DECRESCEU ? CADÊ A "PONTA DO FIO DA MEADA"??? SENHORES... NÓS ESTAMOS ESPERANDO O QUÊ? MAIS HUM MILHÃO DE DESEMPREGADOS ?? A "QUEBRA" DE OUTRA PETROBRÁS ??? OU UM EVENTO GEOLÓGICO, ONDE O BraZil, vai se descolar do Continente e transformar-se numa "ILHA"??... como "CUBA" !!!
Dificil responder Sr. Rensi, mas o maior pecado é o orgulho. Nossa Senhora de Fátima disse que se a Rússia não fosse consagrada, espalharia seus erros pelo mundo. O que temos no Brasil hoje são, no lado cultural a promoção de todos os grupos revoltados e deslocados da sociedade, cujo sentido é a busca do partidão único que lhe fará as vontades, no lado politico, o fascismo, Trótski, Lênin e Stalin, e finalmente no lado economico, também o fascismo misturado com um comunismo falsamente envergonhado.
Nunca vi melhorias numa empresa , sem cortar gastos , sem diminuir despesas , agora pergunto o que o governo fez neste sentido ?
Luiz Douglas Andrade Villela Nova Fátima - BA
Rotação de culturas, respeito ao meio ambiente, criação de cadeias produtivas de modo a exportar carne industrializada visando agregação de valor, cuidar do solo, formação de capital de giro próprio..., estas são algumas sugestões para que situações como está não nos peguem mais de surpresa..., ah!, outra coisa: os governadores do Centro Oeste não deveriam ser fisiologistas nem ter apoiado o PT, mais especificamente o LULA..., quem sabe ler entende o que digo.
Carlos Massayuki Sekine Ubiratã - PR
Também espero sinceramente que você esteja errado Sr. Eduardo. Algumas regiões realmente terão quebras de produtividade, em outras, ainda é cedo para dizer. Quando há quebra significativa de safra, ocorre uma compensação, pelo menos parcial pelo aumento dos preços. Quanto ao dólar, boa parte do custo não é dolarizado, o que nos favorece quando sobe a cotação. Acredito sim, que haverá dificuldades regionais, principalmente no Mato Grosso, onde a produtividade da soja está prejudicada e o calendário do milho safrinha também, mas de uma maneira geral, vamos sobreviver.
Luiz Alfredo Viganó Marmeleiro - PR
Caro Eduardo, compartilho desse seu "pessimismo realista". Só acho que vai se aplicar na agricultura de todo país, mas infelizmente com piores reflexos pro Centro Oeste.
Prezado Eduardo, imagine ainda os precos dos insumos agricolas cotados a esse patamar de cambio e com agricultor endividado. Realmente espero que erres feio nesta sua previsão. Grande abraço e que Deus nos ajude.