Saída de Eliseu Padilha leva Temer ao Rubicão e PT mata Delcídio de raiva e os brasileiros de rir

Publicado em 05/12/2015 10:55
artigos na Folha e no UOl (Josias de Souza)

Saída de Eliseu Padilha leva Temer ao Rubicão, por Josias de Souza

O ministro Eliseu Padilha, da Aviação Civil, pediu demissão. Não é um ministro qualquer. Entre os integrantes da Esplanada, é o mais próximo do vice-presidente Michel Temer. Já se sabia que, deflagrado o processo de impeachment, Temer tornara-se um vice a caminho do Rubicão. A saída de Padilha apressou o processo, acomodando o vice às margens do rio. Mais: indica que Temer não tomou o rumo do Rubicão para pescar. Se alguém ainda tinha dúvidas, fica agora entendido que Dilma não deve esperar do seu vice nenhum engajamento na defesa do mandato presidencial.

Padilha tinha vários pretextos para deixar o cargo. Queixava-se de não ser valorizado. Reclamava de falta de verbas para colocar planos em pé. De resto, indicou um nome para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil —Juliano Noman— que foi barrado pelo Planalto. Mas ele só bateu em retirada depois de participar, na quinta-feira, de uma reunião em que Dilma discutiu com ministros as estratégias do governo para barrar o impeachment. A conversa deixou Padilha desconfortável dentro dos sapatos.

Na noite desta quinta-feira (3), o amigo de Temer procurou o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) para entregar-lhe a carta. Não foi atendido. Decidiu, então, entregar o documento no protocolo do Planalto. Com esse gesto, Padilha como que bateu a porta ao sair. Tudo, naturalmente, combinado com Temer, agora de frente para o Rubicão, à espera do melhor momento para atravessar o rio.

Planalto oferece ministério à ala ‘fiel’ do PMDB (JOSIAS DE SOUZA)

 

O Planalto deflagrou nesta sexta-feira (4) uma articulação emergencial para evitar que a saída de Eliseu Padilha da pasta da Aviação Civil se transforme numa debandada dos ministros do PMDB. Ofereceu a vaga de Padilha, um ministro da cota do vice-presidente Michel Temer, à ala governista do PMDB da Câmara, representada pelo líder Leonardo Picciani (RJ).

Fez-se, de resto, a pedido de Dilma, uma rodada de consultas para verificar se algum outro ministro peemedebista cogita seguir os passos de Padilha. Havia especial preocupação com dois: Henrique Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). O primeiro, a exemplo de Padilha, é amigo de Temer. O outro é visto como aliado do presidente da Câmara. Na CPI da Petrobras, já encerrada, Pansera foi chamado pelo doleiro preso Alberto Youssef de “pau mandado do Eduardo Cunha.”

Henrique e Pansera sinalizaram a intenção de permanecer no governo. O mesmo ocorreu com os ministros Marcelo Castro (Saúde) e Helder Barbalho (Pesca), filho do senador Jader Barbalho. Ao final de uma sexta-feira tensa, os operadores políticos de Dilma pareciam mais sossegados. Avaliaram que, por ora, está afastada a hipótese de um desembarque coletivo dos ministros do PMDB.

Simultaneamente, o Planalto tenta evitar que o PMDB indique para a comissão que analisará o pedido de impeachment representantes do pedaço “infiel” da legenda, que trabalha para afastar Dilma e acomodar no lugar dela o vice Temer.

– Via Nani.

 

PT mata Delcídio de raiva e os brasileiros de rir (Josias de Souza)

A direção do PT federal decidiu suspender por 60 dias Delcídio Amaral, enquanto providencia a expulsão do senador, preso tentando comprar o silêncio dopetrodelator Nestor Cerveró. O mesmo PT mantém em seus quadros, sob elogios, o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, também preso e já condenado pelo juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, a 15 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção na Petrobras. Um PT mata Delcídio de raiva. Outro PT mata os brasileirtos de chorar rir. Chorar de rir.

Rui Falcão, presidente do PT, pediu a expulsão sumária de Delcídio, sem direito a defesa. Prevaleceu posição mais branda, que abre espaço para o contraditório. Delcídio sempre poderá alegar em sua defesa que foi estimulado a fazer o que fez por todas as facilidades, a impunidade e a cumplicidade que o PT assegurou a filiados como Vaccari e os condenados da bancada mensaleira que fez estágio na penitenciária da Papuda.

O excesso de promiscuidade e a comunhão de propósitos do petismo com o amoralismo produziram Delcídio. Ao providenciar a expulsão do filiado tóxico depois de poupar os mensaleiros, o PT informa que o cinismo é o mais perto que consegue chegar da perfeição.

 

Merval Pereira: Politicagem

Publicado no Globo

Mais uma vez o governo tenta manipular a sociedade distorcendo os fatos para se safar do processo de impeachment da residente Dilma. Atribui ao vice-presidente Michel Temer conceitos que não emitiu sobre a improcedência do impeachment, obrigando-o a desmentir o Palácio do Planalto. Entra em um bate-boca com o presidente da Câmara Eduardo Cunha. E, numa manobra marqueteira que tem o cheiro de João Santana, coloca-se a disputa como se ela fosse entre a impoluta presidente Dilma e o corrupto Eduardo Cunha, uma luta vulgar, enfim, entre o bem e o mal.

 

Mesmo que fosse tão impoluta quanto quer parecer, a presidente Dilma não está sendo acusada de corrupção, pelo menos não ainda. Não há indícios, realmente, de que tenha se locupletado pessoalmente, mas os há aos montes de que foi conivente com a corrupção do PT desde que começou a atuar no governo Lula como ministra das Minas e Energia e presidente do Conselho Administrativo da Petrobras.

Se não tivesse sido conivente, como acreditar que uma centralizadora como Dilma nada sabia do que acontecia na Petrobras e no próprio ministério das Minas e Energia, onde atuou sob sua coordenação o ministro Edson Lobão, investigado pela Operação Lava-Jato?

Ora, ninguém de bom-senso pode se aliar a um político com o histórico de Eduardo Cunha sem sair chamuscado, e é inegável que o pedido de impeachment, embora feito por juristas respeitáveis e com bom embasamento técnico, é prejudicado por ter sido deflagrado por quem foi.

Mas não é uma peça política de Cunha, e ele não tem a menor importância a partir de agora, já que a decisão sairá de um colegiado e, por fim, do plenário da Câmara. Ao se colocar como o contraponto a Cunha, a presidente Dilma viu-se envolvida num bate-boca que revela bem sua fragilidade política.
Acusada por Cunha de ter mentido à sociedade brasileira ao afirmar que não se submetia a barganhas políticas, a presidente deu chances a que se revelasse a extensão das negociações por baixo do pano que desenvolveu com o presidente da Câmara, só interrompidas, ao que tudo indica, pela desconfiança de Cunha de que o PT não cumpriria sua palavra.

Foram evidentes os esforços do Palácio do Planalto para salvar Cunha no Conselho de Ética, enquanto o PT, sob o comando de Lula, chegou à conclusão de que o melhor caminho seria desistir de Cunha e tentar recuperar uma imagem ética que se perdeu pelo caminho nesses últimos 13 anos de poder.
Mesmo que isso significasse o risco de o deputado, em revanche, desencadear o processo de impeachment, o que realmente aconteceu. Nesse jogo político de bastidores, onde todos mentem e ninguém é impoluto, o tempo joga contra o governo. A cada dia a crise econômica mostra-se mais e mais grave, e a tendência é que no próximo ano o desemprego aumente, a inflação continue corroendo o poder de compra dos brasileiros, e a economia continue em depressão.

A oposição, antes ávida pelo impeachment a ponto de ser irresponsável em seus acordos com Cunha, agora quer adiar o processo já em andamento acreditando que a piora da situação ajudará a mobilizar os cidadãos a favor do impeachment.

Ora, se 63% são favoráveis a ele, como mostram as pesquisas de opinião, agora que está ao alcance deveria ser a hora para que novas manifestações tornassem concreto o anseio detectado. Ao contrário, o governo joga com a rapidez do processo para tentar liquidar a fatura neste fim de ano, acreditando que a mesma desmobilização que aflige a oposição é um dado a favor da permanência de Dilma na presidência.

Se a oposição não conseguir transformar em realidade a vontade latente do povo brasileiro, terá sofrido uma derrota política, mas os problemas não serão superados, apenas agravados. Estaríamos diante de uma situação em que o governo tem apenas o apoio de 10% da população, e a oposição não tem capacidade para mobilizar os cidadãos. Ou um futuro governo com Michel Temer não é capaz de empolgá-los.

A Operação Lava Jato continuará mostrando as entranhas do país, paralisado pela anomia, definida pelo sociólogo francês Emile Durkheim como a perda de referências sociais pelos indivíduos de uma sociedade, onde tudo é permitido e não há limites.

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Fonte:
Folha + UOL

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