O que podemos extrair do relatório do USDA desta semana, por Flávio França Jr
Prezados amigos. Esta semana tivemos a divulgação do relatório de novembro de oferta & demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês), com impacto predominantemente negativo sobre o mercado de grãos. O perfil da divulgação foi diferente do último mês, uma vez que os dados anunciados foram mistos para a soja, mas com impacto negativo para as cotações do mercado de futuros da Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT/CME na sigla em inglês) no dia da divulgação. No lado negativo, destaque para o aumento na indicação de produção e estoques finais nos EUA para a safra 2015/16, acima do esperado. Já no lado positivo, os cortes na produção mundial da safra nova e nos estoques mundiais da safra velha e nova015/16, enquanto o mercado esperava por elevação.
No pregão do dia do relatório o contrato spot (novembro) caiu US$ 9.00 cents/bushel, mas depois de ter chegado a perder US$ 15.25 cents logo após a divulgação. No balanço da semana o complexo soja acabou fechando a semana de forma negativa, com perdas entre 1,4% e 1,5% nos contratos futuros da soja da CBOT. No caso dos subprodutos da soja o movimento foi homogêneo, acompanhando o movimento do grão no dia da divulgação e na semana, com variação negativa no farelo e no óleo. No farelo, pressionado adicionalmente pelos recuos do milho e do trigo. No óleo, recebendo a influência negativa adicional das perdas fortes do petróleo e a diminuição da preocupação com safra de palma na Malásia e Indonésia.
Nos mercados vizinhos, as informações divulgadas tiveram impacto bem mais negativo, notadamente no caso do milho, que acabou anulando os dados mistos divulgados para o trigo, e adicionando pressão sobre a soja. No caso do trigo, o USDA aumentou a projeção de estoques finais nos EUA para a safra 2015/16 acima do esperado pelo mercado, trazendo forte pressão inicial aos preços. Porém trouxe cortes não esperados para os estoques mundiais da safra velha e da safra nova, trazendo suporte parcial sobre as cotações. Somado a isso o mercado encontrou pressão também No recuo forte do milho, e acabou fechando em queda de US$ 11.00 cents/bushel na posição spot no dia da divulgação, encerrando a semana com forte perda de 5,3%.
Mas, a exemplo do relatório passado, entendemos que veio do milho o destaque negativo da divulgação, embora sem o mesmo impacto observado no trigo, com a posição spot registrando recuo de US$ 7.75 cents no dia 10, e acumulando desvalorização na semana de 4,0%. Mas os números do USDA foram bem negativos. De um lado pressão pelo aumento acima do esperado na produção e nos estoques 2015/16 nos EUA. E de outro, pressão pelos fortes aumentos promovidos nas estimativas de estoques finais mundiais da safra velha atual e atual.
O IMPACTO NO SEU NEGÓCIO
A divulgação do relatório de novembro do USDA trouxe números mistos para soja e trigo, mas com ênfase negativa por trazer estoques maiores no mercado norte-americano. E números fortemente negativos para o milho. O segundo foi o que sentiu impacto maior, em função da combinação com a melhora do clima na região do Mar Negro. A colheita nos EUA entra em sua reta final, e como não há relatório de safra em novembro, as confirmações de produtividade somente acontecerão no relatório de fechamento da safra que será divulgado em janeiro. Por esse motivo, as atenções do mercado passam agora a se concentrar no clima e no encaminhamento da nova safra da América do Sul.
De todo o modo, o sentimento geral é o de que a safra 2015/16 de grãos nos EUA foi grande o suficiente para manter os preços pressionados na CBOT em relação aos padrões médios históricos. E por esse lado não temos mais espaço para reviravoltas expressivas nas cotações. Ficaremos agora na dependência da confirmação de números de consumo acima do esperado pelo USDA, como aconteceu com a safra velha, com algum tipo de complicação nova em relação ao clima mundial, e com o comportamento do clima na definição do plantio da nova safra sul-americana.
Assim, apesar da pressão vinda pela obtenção de safra acima do esperado nos EUA, pela qual os preços ainda podem sofrer alguma pressão de curto prazo, pode haver alguma reação logo à frente e as bases voltarem a ficar acima dos US$ 9.00/bushel. Alguns dados que devem garantir que os preços médios ainda fechem acima dos patamares atuais: estoques da safra velha nos EUA terem ficado bem abaixo da média; redução nos estoques mundiais da safra velha neste relatório pode sinalizar outras reduções à frente; fortes importações de soja pela China e União Européia; redução na produção global de oleaginosas, notadamente de caroço de algodão, colza/canola e girassol, apertando a oferta de óleos vegetais neste novo ano; impactos do clima seco na Malásia e Indonésia na produção de palma; retração nos estoques mundiais de farelos proteicos e óleos vegetais; e começo irregular do plantio da nova safra brasileira na região central, norte e nordeste do Brasil. Ressaltando que seguimos com a atuação de um fenômeno El Nino de alta intensidade, o que pode ainda trazer impactos negativos adicionais para a safra de grãos mundo a fora. Por isso o momento não parece ser dos mais interessantes para os vendedores entrarem no mercado.
Um “AgroAbraço” a todos!!!
Flávio Roberto de França Junior
Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria
1 comentário
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Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
Mais de R$ 100 bilhões foi o valor que o banco central brasileiro perdeu com o câmbio, dinheiro do tesouro nacional. Talvez umas cinquenta pessoas ou instituições ficaram com a maior parte desse dinheiro. Com as commodities é diferente, pois o "valor" é repassado ao "mercado", diria, aos consumidores... Desvalorização cambial é sinônimo de desvalorização salarial. O contrário acontece quando se valoriza o câmbio. Com estabilidade cambial, quando há um aumento de preços, ocorre na verdade um aumento do valor. Com desvalorização cambial, o aumento nos preços, é uma diminuição do valor da mercadoria. O paradoxo aparente é devido às pessoas, no mercado interno, não possuirem dinheiro para comprar os produtos, devido à diminuição do valor de sua renda. O consumo não cai por que as mercadorias ficaram valorizadas, mas por que o valor da renda diminui... Nos EUA, os preços em bolsa estão caindo porque o dólar está sendo valorizado, e há uma expectativa de uma maior valorização depois da subida dos juros por lá. O que nossos analistas não entendem é que os custos de produção caem quando a moeda é valorizada..., e isso torna os produtores mais competitivos e não menos... Exatamente o contrário do que a elite representativa dos produtores prega por aqui.... É assim, sempre de olho nas tetas governamentais.
COM DESVALORIZAÇAO CAMBIAL, O AUMENTO NOS PREÇOS, E' UMA DIMINUIÇAO DO VALOR DA MERCADORIA----- Nao consegui entender essa frase--Se o preço e' 10 dolares e acontecer uma desvalorizaçao cambial os preços em reais aumenta , nao obstante esse aumento nao seja real, nao podemos dizer que em termos absolutos o valor esteja diminuindo--
Por que você misturou preço com valor. Como exemplo pense no que acontece hoje, com a valorização do dólar, e consequente desvalorização do real, o preço no Brasil, da soja, do café , do milho, aumentam, mas o valor diminui. Exportamos uma quantidade maior de produto por um valor menor. E isso ocorre mesmo que os preços internos continuem subindo.
Concordo com o Rodrigo. Um país pra ser forte, precisa de uma moeda forte, uma moeda valorizada. Claro que tudo tem um limite, mas no nosso caso, o grande problema de uma moeda forte é o Custo Brasil, que sobe muito e nos torna novamente sem competição com os outros mercados. Solução: só tem uma: diminuir o Estado. O Brasil caminha a passos largos para o outro lado, inflando o Estado cada vez mais.
Bertoldo, tenho minhas duvidas ---O Euro e o Yen sao moedas fortes , o Japon e' um pais forte com moeda forte, mas a Grecia, Portugal, Irlanda sao paises FRACOS com moeda forte. O conceito nao me parece matematico e verdadeiro .
Carlos, o que torna os países FRACOS com moeda forte é exatamente o ESTADO FORTE. Eu defendo Estado Mínimo e mercado livre. Isso gera desenvolvimento em um país. A consequência disso, vai ser uma moeda forte e alto poder de compra de sua população. Grécia e Portugal seguem a mesma linha de pensamento do governo brasileiro, o resultado você viu. Já pensou o Brasil com Estado Mínimo, com uma moeda forte e 38% a mais de renda?