Dólar cai 2,08% ante real por aposta em manutenção de juros nos EUA
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda nesta quarta-feira, acompanhando a baixa da moeda nos mercados externos diante da percepção de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, pode elevar os juros somente em 2016 em meio a uma rodada de dados fracos nos Estados Unidos e na China, favorecendo mercados emergentes.
O dólar recuou 2,08 por cento, a 3,8126 reais na venda, anulando boa parte do avanço de 3,58 por cento registrado na véspera, a maior alta diária em mais de quatro anos.
"Julgando por toda a comunicação do Fed e por todos os fundamentos, não vejo nenhum motivo para ter pressa para subir juros. Não ficaria surpreso se a alta viesse só na metade do ano que vem", disse o tesoureiro de um banco nacional.
Dados fracos sobre a inflação na China alimentaram apostas de que a desaceleração da segunda maior economia do mundo esteja respingando sobre os EUA, o que daria argumentos para o Fed manter os juros quase zerados até o ano que vem.
Além disso, dados nos EUA também corroboraram essa visão. Os preços ao produtor no país recuaram 0,5 por cento em setembro, queda bem maior do que a baixa de 0,2 por cento projetada por analistas em pesquisa da Reuters. Já as vendas no varejo subiram 0,1 por cento no período, contra expectativas de alta de 0,2 por cento.
Mais tarde, o Livro Bege do Fed mostrou que contatos empresariais do banco central norte-americano entendem que a economia dos EUA vem sofrendo com a alta do dólar, dando mais combustível para a perspectiva de manutenção dos juros.
A possibilidade de o Fed não elevar juros neste ano sustenta a atratividade de ativos de países emergentes, que oferecem rendimentos maiores. Nesse contexto, a divisa dos EUA perdia terreno em relação a moedas como os pesos chileno e mexicano.
"Nas últimas semanas o cenário externo tem amortecido a pressão local, mas não vejo muito espaço para o dólar continuar caindo", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
Operadores tampouco descartavam a possibilidade de o real voltar a ser pressionado nos próximos dias por preocupações locais. A pesada incerteza sobre eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff vem assustando investidores, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar temporariamente o rito desenhado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Todo este quadro de indefinição da cena política, que prejudica e posterga cada vez mais o ajuste fiscal e a retomada do crescimento do Brasil, leva o investidor para um cenário de aversão ao risco e a procura por segurança no dólar", escreveu o operador da corretora Correparti Jefferson Luiz Rugik em nota a clientes.
O Banco Central deu continuidade nesta manhã à rolagem dos swaps cambiais que vencem em novembro, vendendo a oferta total de até 10.275 contratos, equivalentes a venda futura de dólares. Até agora, a autoridade monetária já rolou 4,606 bilhões de dólares, ou cerca de 45 por cento do lote total, que corresponde a 10,278 bilhões de dólares.
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