Na Veja: A 'tempestade perfeita' que encarece o dólar e dificulta sua queda
Nesta quinta-feira, o dólar chegou a ser negociado por mais de 4,20 reais, e a fervura só baixou depois de Banco Central e Tesouro Nacional agirem para conter a escalada. Negociada a 3,99 reais no fechamento, a moeda teve uma queda expressiva, de 3,73%, mas todo o pano de fundo, que inclui fatores estruturais - e, portanto, imunes a medidas pontuais do BC ou do Tesouro -, ainda faz a cotação apontar para cima. É, na expressão usada por alguns analistas, uma "tempestade perfeita", que tem o dólar caro como resultado.
A cautela dos investidores os faz fugir em direção à moeda americana. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA dizem que os fatores para a precaução incluem a instabilidade política, a indefinição sobre a votação, pelo Congresso, do veto da presidente Dilma Rousseff ao reajuste de servidores do Judiciário e temores de que, assim como fez a Standard & Poor's, outra agência de classificação de risco rebaixe a nota de crédito do país. A "tempestade perfeita" inclui fatores externos. Incertezas sobre em que momento ocorrerá a alta dos juros nos Estados Unidos e temores em relação à desaceleração da China também estimulam a compra de dólar como forma de proteção. "Todo mundo vai para o mesmo lado", diz o corretor da SLW João Paulo Correa. É o efeito manada.
Na madrugada da última terça-feira, o Congresso votou 26 dos 32 vetos presidenciais a itens da chamada "pauta-bomba", composta por um conjunto de medidas aprovadas no Legislativo que podem elevar gastos públicos, o que anularia todo o plano de ajuste fiscal feito pelo governo. Por falta de quórum, outros seis vetos, incluindo o que barra o reajuste de servidores do Judiciário, considerado um dos mais importantes, não foi apreciado. "Se aprovado, o reajuste pode levar a um rombo de 26 bilhões de reais aos cofres públicos até 2019. O veto será apreciado, mas não se sabe quando, e essa dúvida pesa", diz Jefferson Rugik, diretor de câmbio da Corretora Correparti.
Além das crises política e econômica, Rugik diz que o mercado de câmbio é pressionado por um forte movimento de especulação. "Investidores e tesourarias bancárias têm que ganhar dinheiro. Para isso, eles compram a moeda em um momento estratégico, para depois vender", diz. Ele explica que a barganha é estimulada pelos leilões do Banco Central, que oferecem liquidez ao mercado.
Para segurar a escalada do dólar, o BC recorreu nós últimos pregões aos programas de swap cambial (operação no mercado futuro em que o investidor paga uma taxa de juros e o BC devolve a variação da cotação) e aos leilões de linha (o BC vende dólares à vista com o compromisso de recompra). Essas operações não conseguiram conter a alta na quarta-feira, mas foram mais eficazes nesta quinta - associadas, é verdade, às declarações de Alexandre Tombini, presidente do BC, de que o uso das reservas internacionais do país para conter a alta do dólar não está descartado.
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