Dólar sobe 2,28% e encosta em R$ 4,15, apesar de ofensiva do BC
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar registrou o maior avanço em três semanas nesta quarta-feira e encostou em 4,15 reais, apesar da pesada ofensiva do Banco Central, que realizou ao todo quatro intervenções no mercado de câmbio, mas não conseguiu afastar a moeda norte-americana das máximas da sessão.
O dólar encerrou em alta de 2,28 por cento, a 4,1461 reais na venda, novo patamar recorde de fechamento e na maior alta diária desde 4 de setembro (2,68 por cento). Na máxima do dia, o dólar chegou a ser cotado a 4,1517 reais.
Esta foi a quinta sessão consecutiva de alta, com a moeda norte-americana acumulando avanço de 8,14 por cento no período. No acumulado do ano, a divisa dos EUA subiu 55,94 por cento.
"Uma atuação como essa deveria segurar um pouco, mas a volatilidade está muito grande", resumiu o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho. "O mercado está perdido e corre para o dólar".
Nesta sessão, o BC realizou dois leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, com oferta de até 4 bilhões de dólares no total; um leilão de até 20 mil novos swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares; e um leilão de rolagem dos swaps que vencem em outubro, como vem fazendo diariamente.
A autoridade monetária anunciou ainda outro leilão de novos swaps para quinta-feira, também com oferta de até 20 mil contratos.
Operadores avaliaram o movimento como uma queda de braço entre o mercado e o BC, reforçado pelo fato de que a autoridade monetária vendeu apenas 4,4 mil contratos no leilão de novos swap.
"O mercado puxa, o BC vem com leilão. Como ele não vendeu tudo, o mercado testou novamente", explicou o operador de uma corretora nacional, sob condição de anonimato. "Se agora ele não vier com vontade, é um convite para o mercado continuar puxando".
Desde abril, o BC não fazia leilão de swap sem ser para rolagem. Na operação para rolagem promovida nesta sessão, o BC vendeu a oferta total de até 9,45 mil contratos. Ao todo, já rolou o equivalente a 7,179 bilhões de dólares, ou cerca de 76 por cento do lote total, que corresponde a 9,458 bilhões de dólares.
O contrato do dólar para outubro subiu quase 3 por cento, para 4,18 reais.
A moeda foi pressionada pela notícia de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cancelou viagem a Nova York. Também pesou declaração de fonte da equipe econômica à Reuters, afirmando que fazer leilões de dólares no mercado à vista é uma estratégia que não está na mesa neste momento.
O quadro político e econômico preocupante no Brasil tem levado a fortes turbulências nos mercados financeiros, sem dar trégua. Logo cedo, o dólar chegou a recuar quase 1 por cento após a decisão do Congresso Nacional nesta madrugada de manter os vetos da presidente Dilma Rousseff e evitar maior pressão nas contas públicas, mas o movimento durou muito pouco.
"O veto mais importante é o do aumento (de salários dos servidores do) Judiciário e não sabemos quando ele vai ser analisado", disse outro operador de uma corretora nacional, referindo-se ao veto que, se derrubado, vai gerar gastos de 36 bilhões de reais até 2019, segundo cálculos do governo.
Citando riscos aos planos fiscais do governo no curto prazo e a grande probabilidade de novos rebaixamentos da nota de crédito do Brasil, o Credit Suisse passou a projetar que o dólar deve atingir 4,25 reais em três meses e 4,50 reais em doze meses, contra 3,65 e 4,10 reais, respectivamente.
Também pela manhã, o mercado azedou após o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi afirmar que os riscos ao cenário de inflação e economia na Europa aumentaram devido à desaceleração dos mercados emergentes, o que se somou a dados fracos sobre a economia chinesa.
"(Draghi demonstrou) preocupação com a perspectiva de crescimento global e a apreensão com o Brasil continua", resumiu o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
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