Clima desregulado favorece florada antecipada em parte do cafezal do Brasil
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O clima desajustado de 2015, com seca em períodos chuvosos e chuvas em épocas tradicionalmente mais secas, deverá provocar uma antecipação de floradas em parte do cafezal do Brasil, especialmente em lavouras que produziram pouco na safra atual, num primeiro sinal de uma ainda incerta colheita de 2016.
Com algumas chuvas rompendo agora uma barreira de ar quente e seco sobre o Sudeste do país, a expectativa é de que a partir da semana que vem as precipitações cheguem com mais frequência à principal região produtora de café do maior produtor global, permitindo a abertura das primeiras flores, fundamentais para a formação da safra a ser colhida no próximo ano.
"Acho que as floradas vão ser mais cedo. Em função do clima desregulado durante o ano, houve uma indução mais prematura das gemas florais, a maioria das lavouras antecipou... Existem muitas lavouras que, se tiver uma chuva significativa, vai abrir flor", afirmou o agrônomo Cesar Elias Botelho, coordenador do programa estadual de pesquisa de café da Epamig, órgão do governo de Minas Gerais, Estado que produz mais da metade do café do Brasil.
As chuvas previstas ainda trariam alívio após um período seco de elevadas temperaturas entre o final de julho e meados de agosto, em uma época do ano que deveria ter mais frio. Isso após um janeiro que viu o prolongamento da seca histórica de 2014 e um inverno mais chuvoso do que o normal em boa parte da estação.
Segundo Botelho, uma chuva de pelo menos 15 milímetros já seria suficiente para a abertura das primeiras floradas.
"Boa parcela das lavouras, especialmente aquelas que produziram pouco em 2015, podem florir com a retomada de chuvas, pois os botões nelas estão adiantados e, em sua maior parte, podem abrir em flores", ressaltou o agrônomo da Fundação Procafé, José Braz Matiello.
Seria importante, no entanto, que as chuvas esperadas para as próximas semanas tenham continuidade para o bom pegamento das flores e a formação dos frutos, segundo os especialistas.
As precipitações ainda não são uma certeza para setembro, pelo contrário. Um período seco no próximo mês poderia trazer novas preocupações no país que deve registrar em 2015 sua terceira queda anual consecutiva na safra, para 44,2 milhões de sacas.
"Começaram algumas pancadas de chuva, já que agora terminou o bloqueio atmosférico (quente), então as frentes frias vão ganhar intensidade. Para a semana que vem, vão ter chuvas, meados da semana já tem previsão de chuvas. Elas vão começar a voltar aos poucos, o problema é que serão muito irregulares", disse o agrometeorologista da Somar Marco Antônio dos Santos.
Essa situação de chuvas não generalizadas, segundo ele, vai ser o padrão em setembro. Para Santos, isso não é de todo ruim, até porque a maior parte das áreas de café necessita de umidade após um período longo sem chuvas. Mas também "não é condição excepcional", uma vez que a irregularidade climática pode não permitir o pegamento ideal das flores em algumas áreas.
"Tem muito botão... Dependendo da chuva, já abre alguma coisa, vai depender muito do volume que vamos ver daqui para frente", completou o agrometeorologista.
O presidente da maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, a Cooxupé, Carlos Paulino da Costa, comentou que a parte do cafezal que está em melhores condições tem potencial para gerar uma "boa florada". Mas, segundo ele, "é preciso ver a intensidade da chuva, se for pequena, até prejudica".
O cafezal "está muito desigual, algumas lavouras estão bem vestidas, bonitas, se der chuva em setembro, outubro, vai proporcionar boa colheita no ano que vem", disse Costa, ressaltando não ter estimativa do percentual dos cafezais em melhores condições e daqueles "depauperados" pelo clima, que dificilmente proporcionarão uma boa produção em 2016.
PRÓXIMA SAFRA
Segundo o presidente da Cooxupé, "é muito prematuro" falar sobre a safra do ano que vem. "Nós não sabemos nem quanto vai dar este ano, vai falar sobre o ano que vem?"
Mas ele ressaltou que o tempo seco recente colaborou para aceleração dos trabalhos de colheita da safra de 2015, que está na fase final, registrando uma quantidade maior de grãos pequenos, o que deverá impactar na produtividade da temporada.
Matiello, do instituto de pesquisa Procafé, também concorda que ainda "é cedo" para prever a safra 2016. "As lavouras estão sentindo (o tempo seco recente), mas por enquanto ainda pouco, sem comprometer o potencial da safra. Só se atrasar a chuva..."
Botelho, da Epamig, reforçou a ideia. Segundo ele, se não houver uma "chuva significativa" até 15 de setembro, a próxima safra "começa a ficar muito comprometida também".
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