RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas e lançamentos de imóveis no Brasil recuaram no segundo trimestre na comparação anual, em um ambiente econômico que atinge diretamente o setor, de acordo com indicadores divulgados nesta quarta-feira pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e a Fipe.
Os lançamentos de imóveis no Brasil somaram 14,6 mil unidades no segundo trimestre, queda de 16 por cento na comparação anual, mas alta de 20 por cento em relação ao primeiro trimestre.
Já as vendas no segundo trimestre caíram 17 por cento na comparação anual, para 25.692 unidades. Como as vendas foram 76 por cento maiores do que os lançamentos, isso significa que houve venda de estoques.
No final de junho, o estoque de imóveis atingiu 99 mil unidades, contra 101,9 mil no mesmo período de 2014. Considerando a Venda Sobre Oferta (VSO) trimestral atual, esse volume se esgotaria em 13,2 meses.
O desempenho de vendas e lançamentos de imóveis nos próximos trimestres depende dos rumos da economia, que ainda são muito incertos, afirmou a Abrainc.
"A gente não está fazendo previsões, até porque é um momento muito difícil. A gente está passando por um cenário de crise de confiança na economia e nosso mercado é muito suscetível a isso", disse o diretor de comunicação da Abrainc, Luiz Fernando Moura.
No semestre, os lançamentos caíram 20 por cento e as vendas recuaram 14 por cento sobre 2014.
O estudo mostra que foram entregues as chaves de 31,6 mil unidades entre abril e junho deste ano, aumento anual de 5 por cento.
Bancos públicos ampliam crédito e ação do BB cai 6% por temor de ingerência política
SÃO PAULO, 19 Ago (Reuters) - O Banco do Brasil seguiu a Caixa Econômica Federal e revelou nesta quarta-feira uma ofensiva no crédito para indústrias afetadas pela crise econômica, assustando investidores que temem ingerência política sobre o setor financeiro, numa espécie de reprise do que aconteceu no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Tanto o BB quanto a Caixa anunciaram inicialmente medidas de apoio específicas a empresas do setor automotivo, importante empregador no país. Mas ambos informaram que outras áreas poderão ser contempladas.
O BB foi além, ampliando em 15 bilhões de reais o chamado "limite sistêmico". Na prática, isso poderá ampliar a concentração da carteira de crédito do maior banco do país e, portanto, a exposição da instituição a determinados setores e grupos econômicos.
Apesar de executivos do BB afirmarem que as medidas no crédito terão efeito neutro sobre os níveis de inadimplência, as ações do banco, listado na Bovespa diferentemente da Caixa, fecharam em baixa superior a 6 por cento na bolsa paulista.
"A queda das ações é explicada principalmente pela natureza do programa, que embute interferência do governo e, por isso, pode aumentar a percepção de risco à governança corporativa", escreveu o Credit Suisse em nota a clientes.
Os últimos anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lulca da Silva e o primeiro mandato de Dilma foram marcados por sucessivas injeções de capital nos bancos públicos, para garantir a oferta de crédito na economia após crise financeira e econômica global de 2008 e 2009.
A estratégia resultou em forte elevação da dívida bruta do Brasil e a equipe econômica do atual governo de Dilma, liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, assegurou que a política de usar os bancos públicos tinha terminado.
Nesta manhã, Levy disse que as novas linhas de crédito abertas por BB e Caixa ao setor automotivo têm perfil comercial e não vão afetar o ajuste das contas públicas em curso.
"Não compromete o ajuste (fiscal), é uma operação de mercado que, na verdade, pressupõe compromisso das montadoras... Você está levando em conta a força e a qualidade de crédito dessas companhias", afirmou Levy, após participar de evento no Rio de Janeiro.
Na terça-feira, a Caixa divulgou linhas de crédito para capital de giro e investimento para a indústria automotiva, com desconto em juros para empresas que se comprometerem a não demitir funcionários durante a crise atravessada pelo setor.
No caso do BB, o pacote anunciado prevê liberação de até 3,1 bilhões de reais para fornecedores do setor automotivo até o fim deste ano na forma de crédito para antecipação de recursos. Considerando o apoio que o banco poderá conceder a outros setores, os desembolsos serão da ordem de 9 bilhões de reais.
Perguntado em entrevista coletiva se o governo federal estaria usando os bancos públicos para criar uma agenda positiva e melhorar a confiança na economia, o presidente do BB, Alexandre Abreu, repassou a questão para o presidente da associação de montadoras Anfavea, Luiz Moan, que também esteve na véspera no anúncio da Caixa em Brasília.
"O nosso ponto é a preservação do ajuste macroeconômico que consideramos necessário para o país... A cadeia automotiva tem 5 milhões de empregos diretos, incluindo o pós-vendas. Este convênio com o BB está aberto a outras cadeias produtivas, são ações pró-Brasil", afirmou Moan.
As medidas foram anunciadas em um momento em que algumas montadoras como General Motors, Volkswagen e Mercedes-Benz afirmam terem excedente de milhares de trabalhadores, tendo iniciado demissões após meses recorrendo a férias coletivas e suspensão de contratos de trabalho para ajustar o nível de produção.
As vendas de veículos no país de janeiro a julho caíram cerca de 21 por cento contra um ano antes, enquanto a produção recuou 18 por cento no período.
O Brasil caminha para ter o pior desempenho econômico em 25 anos, com contração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2 por cento, segundo a mais recente pesquisa Focus do Banco Central.
DEMANDA LIMITADA
Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori, as medidas de apoio do BB aos fornecedores do setor automotivo ajudam, "mas não resolvem muito", além de terem vindo "tardiamente".
"Não acredito que isso vai manter o emprego. O que dá emprego é pedido das montadoras, que estão com vetor para baixo", afirmou Butori.
Na avaliação de analistas do Credit Suisse, o pacote dá um "alívio para a saúde financeira das empresas, mas deve ter impacto limitado na demanda, pois não há estímulo para as vendas de veículos".
O presidente do BB evitou falar sobre iniciativas para estimular o crédito para compra de automóveis pelos consumidores. Ele afirmou que o banco está estudando medidas nessa frente, mas não deu detalhes.
Dólar sobe 0,63% sobre o real, com Fed e cena política brasileira
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta sobre o real nesta quarta-feira, interrompendo três sessões seguidas de queda, após o Federal Reserve, banco central norte-americano, indicar que o mercado de trabalho o deixou mais perto de elevar os juros, mas salientando que a inflação e a economia global fracas pesavam ainda.
O cenário político conturbado no Brasil ainda continuou pesando, com os investidores adotando cautela.
A moeda norte-americana <BRBY> avançou 0,63 por cento, a 3,4877 reais na venda, após bater 3,5159 reais na máxima da sessão, com alta de mais de 1 por cento.