Banco Central chinês desvaloriza o yuan pelo terceiro dia seguido

Publicado em 13/08/2015 05:58
As desvalorizações do yuans dos últimos dois dias sacudiram os mercados financeiros mundiais.

O Banco Popular da China voltou a desvalorizar nesta quinta-feira (13), pela terceira vez consecutiva, a taxa de câmbio de referência da moeda chinesa e a estabeleceu em 6,401 yuans por dólar, 1,11% a menos que na quarta.

Esta redução no valor da divisa chinesa fixada a cada dia pelo banco central se soma às desvalorizações de 1,62% de quarta e de 1,86% de terça, e inscreve-se dentro da reforma do sistema cambial adotado pela segunda maior economia mundial esta semana.

O yuan está controlado pelo governo chinês, que fixa diariamente sua taxa de câmbio de referência (chamada paridade central) e autoriza que no mercado ocorram oscilações em seu valor de até um máximo de 2% (em alta ou em baixa).

Com o novo mecanismo de estabelecimento da taxa de câmbio, o banco central fixa a paridade central do iuane em função de sua evolução no mercado de divisas.

A publicação na quarta-feira de indicadores que mostraram um arrefecimento econômico do gigante asiático empurrou em baixa a cotação no mercado da divisa chinesa, razão pela qual hoje o regulador decidiu diminuir de novo a taxa de câmbio do iuane.

Ao contrário dos dois anteriores, o banco central não publicou nenhum comunicado para explicar o rebaixamento da taxa de câmbio referencial, mas já havia antecipado ontem, após a segunda desvalorização, que poderia haver "oscilações significativas" no valor da divisa em curto prazo.

As desvalorizações do yuans dos últimos dois dias sacudiram os mercados financeiros mundiais.

As bolsas europeias caíram cerca de 3% na quarta-feira após a segunda desvalorização da moeda chinesa e também provocaram abundantes perdas nos pregões asiáticos, embora Wall Street tenha se salvado na reta final das operações.

O banco central chinês justificou sua reforma no sistema cambial alegando que a paridade central do yuans havia se "desviado" nos últimos meses das expectativas do mercado, admitindo uma possível supervalorização de sua divisa que estava prejudicando à economia local.

Além disso, o emissor defendeu que o novo mecanismo responde mais às variações da oferta e a demanda no mercado que o anterior, o que representaria também um passo rumo à liberalização da segunda economia mundial.

No entanto, alguns analistas consideram que o governo chinês está tentando desvalorizar o iuane para tornar suas exportações mais competitivas, após a divulgação no fim de semana passado de que as vendas ao exterior do gigante asiático caíram 8,3% em julho.

BC da China fixa novo ponto médio, diz que não há base para mais depreciação do iuan

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XANGAI (Reuters) - O banco central da China disse nesta quinta-feira que não existe base para mais depreciação do iuan por conta dos fortes fundamentos econômicos, em uma tentativa de acalmar os mercados financeiros globais nervosos após o BC ter desvalorizado a moeda no começo da semana.

O Banco do Povo da China fixou o ponto médio do iuan a 6,4010 por dólar, ante 6,3870 por dólar no fechamento anterior.

O banco central disse que o forte ambiente econômico do país, o superávit comercial sustentado, a posição fiscal saudável e grandes reservas internacionais dão "amplo suporte" à taxa de câmbio.

(Por Kevin Yao e Pete Sweeney)

BC da China aumenta intervenção no mercado de câmbio, dizem fontes

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PEQUIM (Reuters) - O banco central da China aumentou a intervenção no mercado de câmbio, ordenando que bancos estatais comprem iuanes a taxas definidas em nome das autoridades monetárias, disseram à Reuters fontes do setor bancário com conhecimento direto do assunto nesta quinta-feira.

O regulador de câmbio, uma divisão do banco central, recentemente emitiu um aviso ordenando que seus subdepartamentos fortaleçam a supervisão para evitar grandes compras cambiais e deem conselhos administrativos a bancos em caso de necessidade, segundo as fontes.

"Quando o humor do mercado causar volatilidade anormal, qualquer órgão regulatório vai intervir para ajudar a estabilizar os preços", disse uma fonte.

(Por Redação em Pequim)

Fonte: Reuters

ANÁLISE

Movimento chinês afeta exportações brasileiras

ROBERTO DUMAS DAMASESPECIAL PARA A FOLHA

Os mercados foram tomados de surpresa com a nova política cambial chinesa, ao permitir que a moeda do país fosse determinada pelas forças de mercado.

Com o acirrado controle de capitais existente na China, a saída de recursos do país asiático, por canais permitidos ou não, tem pressionado a cotação da moeda chinesa em relação ao dólar.

Permitir atualmente que as forças de mercado ditem a cotação da moeda chinesa tende a ajudar a economia daquele país, conferindo maior competitividade a seus produtos no mercado internacional.

Entretanto alguns pontos merecem destaque:

1. É preciso louvar a atitude do governo chinês, que permitiu maior flexibilidade à sua paridade cambial. Acredito que caiba a pergunta: uma pressão compradora da moeda chinesa levaria a China a apostar na flexibilidade cambial que ela tem alardeado nestes últimos dias?

2. Em relação ao nosso comércio bilateral (Brasil-China), a depreciação de apenas 3% (até quarta-feira) em pouco –ou quase nada– deve afetar o nível de importações que o Brasil apresenta com aquele país. Dado que o real já se depreciou pelo menos 50% nos últimos 12 meses, uma depreciação do yuan entre 5% e 10% ainda neste ano pouco tende a afetar o nível de nossas compras.

3. Por outro lado, o governo chinês acabou enviando um recado claro aos agentes econômicos de que a desaceleração chinesa talvez seja pior do que o esperado. Acredito que nos próximos dez anos o crescimento chinês, na média, dificilmente será maior do que 5% a 5,5%.

Com isso, o preço de commodities, principalmente as metálicas, deve manter-se em queda. Nesse aspecto, a pauta de exportações brasileiras para a China, fortemente concentrada em minério de ferro, soja e petróleo, deve ser impactada negativamente.

4. Acreditar que o movimento de maior flexibilidade cambial ditada por Pequim seria parte de uma estratégia para tornar a moeda chinesa uma moeda conversível é um longo passo. Para moedas se tornarem conversíveis, precisam contar com a livre mobilidade de capitais no país, o que não é o caso da China.

CONTA DE CAPITAL

Considerar que o país asiático abrirá completamente sua conta de capital permitindo a livre mobilidade de capitais, condição necessária para que uma moeda seja conversível, seria acreditar que o governo chinês deixará de utilizar seu sistema financeiro como braço parafiscal a fim de garantir o crescimento econômico –o que evita tensões sociais e garante a legitimidade do Partido Comunista chinês.

Expor os bancos locais a uma fuga de capitais, como a do Sudeste Asiático em 1997/1998, certamente não seria a melhor receita para a continuidade do crescimento econômico chinês –mesmo com as taxas bem mais reduzidas nos próximos anos.

 

 

BC descarta adotar medidas 'extremas' contra alta do dólar

  Joel Rodrigues/Folhapress  
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central

por VALDO CRUZ, DE BRASÍLIA

O Banco Central brasileiro não vai tomar medidas extremas para segurar artificialmente uma disparada do dólar, segundo assessores do Planalto, mesmo que a cotação da moeda norte-americana dispare, em uma eventual "agudização" da crise política no país.

Segundo membros do governo, isso representaria dar um benefício àqueles que querem tirar dinheiro do país: quanto mais alta a taxa de câmbio, menos dólares o investidor conseguirá adquirir no mercado brasileiro para remeter recursos para fora.

Se o BC agir para segurar a cotação, eles pagarão menos pela moeda estrangeira e conseguirão comprar mais dólares com a mesma quantidade de reais.

Nas palavras de um outro assessor palaciano, o BC "não vai queimar reservas" para segurar o dólar de forma artificial se o quadro político e econômico se agravar.

ATUAÇÃO

Isso não significa que o governo deixará de atuar no mercado de câmbio.

Na semana passada, por exemplo, o BC decidiu rolar integralmente os contratos de swap cambial, uma espécie de venda futura de dólar para gerar proteção contra alta da moeda norte-americana.

Antes, o banco havia reduzido a rolagem para 60% do estoque atual, de US$ 103,9 bilhões em contratos.

Agora, o ritmo diário indica que o BC irá rolar 100% dos contratos, o que fez o dólar parar de subir e, nos últimos dias, cair. As desvalorizações do yuan chinês, no entanto, preocupam o BC pelos efeitos que podem gerar no mercado de câmbio brasileiro.

Por enquanto, porém, o discurso do Banco Central segue na linha de que ele irá sempre combater excessos de volatilidade no mercado. Não descarta a adoção de medidas pontuais para evitar que oscilações fortes da cotação se prolonguem num cenário que esteja "insustentável".

Analistas de mercado lembram que o BC, ao renovar seu programa de swap cambial, deixou de fazer leilões de linhas de crédito em dólar, o que poderia ser retomado para acalmar o mercado.

RESERVAS

Está descartado pelo BC, por exemplo, trocar dinheiro das reservas internacionais por contratos de swap cambial, como sugerem alguns especialistas, com o objetivo de reduzir o impacto deste instrumento na alta da dívida pública.

Técnicos do BC lembram que, se as operações de swap de janeiro até a última sexta-feira (7) geraram uma despesa de R$ 72 bilhões, a valorização cambial gerou um ganho de R$ 150 bilhões no mesmo período.

Hoje, na avaliação do governo, uma alta excessiva no dólar não é sustentável por muitas semanas, pois o Banco Central tem munição para deter a alta.

No atual cenário, a avaliação é que o dólar deve ficar oscilando próximo do atual patamar, de R$ 3,50, devendo ficar um pouco abaixo.

A alta recente do dólar gera preocupação pelos efeitos sobre a inflação, mas dentro do ritmo de hoje não chega a assustar porque, para a equipe do BC, o repasse para os preços tende a ser limitado diante da forte retração da economia e do emprego. 

 

Aprenda a dizer em mandarim: ‘Cada um por si’

A desvalorização do yuan que o Banco Central da China iniciou na noite de domingo foi um pequeno passo para a China e uma grande dor de cabeça para o resto do mundo.

Para começar, o yuan mais fraco está detonando os preços das commodities ao redor do mundo.china-flag

De forma simples: ao desvalorizar sua moeda, Beijing tornou as commodities mais caras para as indústrias chinesas que dependem de matéria-prima.

Agora, se as empresas chinesas quiserem preservar suas margens de lucro, terão que barganhar com as Vales e as Fibrias do mundo por preços menores — daí a queda nas ações destas companhias hoje.

Mas o movimento tem implicações mais dramáticas para a economia global, afetando outras moedas e empresas com grande exposição à China, da Apple à General Motors.

A mudança de domingo à noite “parece ser mais do que um ‘one-off’ [um evento isolado], na verdade pode ser uma mudança de regime,” diz um gestor macro.

Ao desvalorizar sua moeda, a China se torna um pouco mais competitiva do que seus concorrentes asiáticos, potencialmente ganhando espaço em mercados internacionais de países como a Coréia, a Tailândia e a Indonésia.

Isso deve detonar um fenômeno conhecido nos mercados como ‘desvalorização competitiva,’ em que todo mundo tenta desvalorizar um pouco para preservar (ou ganhar mercado) nas suas exportações.

Da última vez que a China fez algo semelhante, as coisas acabaram mal. Em 1994, a China desvalorizou o yuan em 50%. Três anos depois, a Tailândia — que tinha um regime de câmbio fixo — foi forçada a desvalorizar sua moeda, detonando a chamada ‘crise asiática’ de 1997. Era uma época sangrenta, que sacudiu os mercados no mundo todo e culminou com a desvalorização do próprio Real em 1999.

Nos últimos três anos, o yuan teve uma valorização expressiva contra todas as outras moedas emergentes. O dólar foi de R$1,70 para R$3,50, e o rand sul-africano, por dólar, saiu de 8,00 para 12,70, mas o yuan não saiu do lugar.

Agora, a China usa de uma ferramenta para turbinar suas exportações e coloca a pressão em países como o Brasil, contribuindo mais um elemento para nossa tempestade perfeita, que inclui recessão, crise política, e o ‘risco Federal Reserve’.

“Isso dá a impressão de que a China jogou a toalha em sua tentativa de mudar seu modelo econômico exportador para um mais focado no consumo interno,” diz um gestor. “No fundo, trata-se de uma corrida para ver quem consegue empurrar mais mercadoria num mundo que está com muita capacidade ociosa. Isso nunca acaba bem.”

Por Geraldo Samor

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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