Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso, por RODRIGO CONSTANTINO

Publicado em 23/07/2015 16:44
em veja.com

Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso

É hora de superar esse passado negro, FH!

Caro ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,

Fico sabendo, pela Folha, que antes Lula e agora Dilma estariam dispostos a “conversar” com o senhor sobre o impeachment, ou seja, traduzindo para os leigos: eles teriam interesse em algum tipo de “acordão” para evitar um eventual processo de impedimento da presidente. O senhor já aproveitou seu espaço nos jornais para transmitir a mensagem de que considera o impeachment um último recurso muito traumático para a democracia, e que não enxerga, ainda, motivos para seguir nessa linha. Suas colocações atiçaram as esperanças dos líderes petistas de um pacto com o PSDB.

“Em todos os países democráticos é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício. Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”, afirmou o ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto. “Vejo com bons olhos a possibilidade de diálogo entre Fernando Henrique e Lula, como vejo com naturalidade que o mesmo aconteça com a presidenta”, concluiu. Mas nós, brasileiros indignados, aqueles quase 70% que rejeitam o governo Dilma, não vemos com bons olhos essa aproximação.

Serei franco na largada, caro FH: tenho sentimentos ambíguos em relação à sua pessoa. Do seu passado mais distante, como intelectual, nem preciso dizer que tenho aversão. Mas acho que até você já andou reconhecendo que deveríamos esquecer muito do que escrevera naqueles tempos, não é mesmo? Teoria da Dependência? Quanta baboseira terceiromundista! Coisa de um Marco Aurélio Garcia da vida. Depois o senhor evoluiu, virou um social-democrata mais esclarecido, mas ainda estava lá o ranço de socialista fabiano, que nunca o abandonou por completo.

Já como ex-presidente tenho coisas boas e ruins a falar. Menos por convicção ideológica e mais por necessidade, o fato é que importantes reformas foram feitas durante o seu governo. Privatizações importantes ocorreram, a Lei de Responsabilidade Fiscal passou, o Plano Real venceu a hiperinflação e o Banco Central teve autonomia para perseguir a meta de inflação. O câmbio passou a flutuar, após nossas reservas se esvaírem quase completamente. Ou seja, o senhor teve algum mérito na criação do “tripé macroeconômico”.

Por outro lado, e por conta daquele ranço socialista, várias medidas “sociais” tiveram começo no seu governo. Cotas raciais, por exemplo, um absurdo que segrega a população brasileira com base na cor. As bolsas-esmolas, que o PT unificou e transformou no maior esquema de compra de votos já visto na República. O MST, que continuou recebendo verbas públicas para desrespeitar as leis com suas invasões inaceitáveis. Enfim, o senhor foi um legítimo presidente de esquerda, apesar de ser “acusado” de “neoliberal” pela esquerda mais jurássica e pérfida.

E essa esquerda é justamente o PT. Como o PT o demonizou, presidente! Fez sua caveira perante a opinião pública, com o conluio dos “jornalistas” da esquerda radical. Devido ao fato de os tucanos serem um tanto pusilânimes e também não terem convicção liberal alguma, não souberam defender o seu legado. Teve que vir um liberal como eu para escrever Privatize Já, livro em que mostro como as suas privatizações fizeram bem ao país. Os tucanos ficavam na defensiva, tentando se desvencilhar da pecha de “privatistas” ou “neoliberais”. Veja só que coisa, presidente!

Sua postura, tomo a liberdade de dizer, fez muito mal ao país, em termos pedagógicos. Os leigos não compreenderam a relevância das reformas de cunho liberal feitas em sua gestão, e ainda ficaram com a nítida impressão de que direita significa PSDB, o que eu e você sabemos ser ridículo. O senhor se identifica mais com Thatcher ou Tony Blair? Com Reagan ou Clinton? Nós sabemos a resposta, mas muitos, influenciados pelo PT, não. E eis que direita, no Brasil, passou a ser associada aos tucanos de esquerda.

Mas como “oposição” a uma outra esquerda, bem mais radical e que não joga nas regras do jogo, o senhor tem uma responsabilidade, um dever moral para com o Brasil. Muitos já atribuem ao seu esforço a tática tucana de não pressionar pelo impeachment de Lula durante o mensalão. Não sei até que ponto isso é verdade, mas veja, presidente, o mal que isso fez ao Brasil. Imagine se Lula tivesse sido exposto naquele ano de 2005: como as coisas estariam melhores hoje! Mas o PSDB optou pela estratégia de “deixar o homem sangrar”. Bem, como Jason, do Sexta-Freira 13, o populista-mor ressuscitou e ainda emplacou depois sua criatura por duas vezes, contra os seus companheiros tucanos.

Deixe-me lhe dizer uma coisa, presidente: traumático para a nossa democracia não é o impeachament, mas a manutenção do PT no poder! Entenda isso de uma vez por todas. Sei que, apesar de tudo que o PT já fez com o senhor, você ainda tem, lá no fundo, uma admiração pela trajetória do metalúrgico, do sindicalista oportunista. O senhor enxerga com bons olhos essa trajetória, pois tem alma de esquerdista, e ainda valoriza mais a classe do que o mérito individual. Lula veio de baixo, é verdade, mas como chegou no topo? De forma honesta, legítima? Ou como um populista safado?

Não vem mais ao caso. O fato é que milhões de brasileiros já sabem que Lula é um oportunista, um populista autoritário, e que seu PT precisa ser colocado para fora do governo o mais rápido possível, se desejamos preservar nossa democracia. Os brasileiros estão revoltados, presidente. Cansados demais. Inclusive da postura acovardada de muitos tucanos. Por que o senhor acha que Jair Bolsonaro teve 5% de intenções de voto para presidente na recente pesquisa da CNT, que mostrou apoio de somente 7,7% à Dilma? Por que o senhor acha que Aécio Neves só teve chances mesmo quando começou a subir o tom, a enfrentar o PT com mais determinação, a apontar para seu relacionamento obscuro com Cuba?

Sei que seu partido está rachado, que há uma ala mais jovem que quer partir para o enfrentamento, para a briga, e que uma ala mais velha pretende manter a “cautela”, o “diálogo”. Mas presidente, dá para dialogar com o PT? É possível “conversar” com gente do Foro de São Paulo, que apóia o Maduro na Venezuela? Dá para trocar ideias com quem apela para os golpes mais baixos nas campanhas? O PT cospe diariamente nos tucanos, e os tucanos vão se curvar diante dos petistas agora, justo quando a população está de saco cheio do partido, inclusive do ex-presidente Lula?

Seria uma decisão mortal para o PSDB, presidente. Seria o atestado de óbito do partido, que nunca soube bem como ser oposição ao PT. Se o PSDB afrouxar agora, se os tucanos permitirem uma aproximação com Lula e Dilma em prol da “governabilidade” até 2018, tirando o impeachment do caminho, ninguém mais levará o PSDB a sério. Se é para ser essa esquerda podre, já tem o PT. E se é para ser oposição a essa esquerda podre, agindo assim, o PSDB não terá utilidade, e Bolsonaro ou Ronaldo Caiado vão absorver sozinhos toda a revolta popular.

O Brasil precisa, urgentemente, de um partido realmente liberal e outro realmente conservador, de direita. Claro que o PSDB não tem nada com isso, pois é, como já disse, de esquerda, social-democrata. Mas numa democracia madura, há um espaço legítimo para tal esquerda. Que o PSDB ocupe tal espaço, e não os golpistas do PT, é o que as pessoas decentes e esclarecidas esperam. Mas, para tanto, o PSDB terá de agir com firmeza contra a outra esquerda, a carnívora, a jurássica, representada pelo PT e seus auxiliares, como o PSOL.

Recusar de forma peremptória qualquer aproximação ou acordo nesse momento com os golpistas do PT é condição sine qua non para preservar o PSDB no papel de ícone da esquerda democrática brasileira. Se os tucanos não compreenderem o momento em que o Brasil vive e acenarem com um acordo para impedir o impedimento de Dilma, então terá o mesmo destino do próprio PT: a extinção. E terei prazer, se isso acontecer, em ser um dos que jogarão a pá de cal. Mas tenho esperança

(por Rodrigo Constantino)

 

Gleise Hoffmann apresenta emenda que pretende dar um cheque em branco para a gastança

As “pedaladas fiscais” envolvem os bancos públicos como a Caixa Econômica Federal, que repassam recursos para os gastos dos governos. O Tribunal de Contas da União precisa avaliar e validar tais contas, e eis o grande risco de impeachment da presidente Dilma: ter suas contas negadas. Diante disso tudo, o que faz a senadora Gleise Hoffmann, fiel ao seu PT? Apresenta uma emenda à Constituição que visa a “desburocratizar” as transferências de recursos entre União Federal e estados e municípios. Lindo, não?

Não. Nada lindo. O que está por trás dessa medida é o objetivo de desviar o governo das amarras do TCU e ter o caminho livre para gastar à vontade, sem “burocracia”, ou seja, sem fiscalização. Vejam o que muda na Constituição com o projeto:

Gleise

No texto da justificação do projeto, fica mais claro seu verdadeiro objetivo:

Gleise2

Mas calma, se o leitor ainda não consegue vislumbrar o verdadeiro objetivo da proposta nesse texto, o parágrafo seguinte deixa pouca margem a dúvidas:

Gleise3

Ou seja, o caminho ficaria livre para que prefeitos possam construir pontes que ligam nenhum lugar a lugar algum, sem a menor fiscalização. Isso é um retrocesso, vai agilizar a corrupção nos gastos públicos, isso sim. Chegamos a um ponto em que basta saber que um projeto vem do PT para rejeitá-lo, para sabermos que coisa boa não pode ser. Afinal, o PT tem um histórico impressionante de sempre estar contra o Brasil. Gleise Hoffmann não iria decepcionar os fãs de José Dirceu, claro. Seu projeto não é contra a burocracia coisa alguma, e sim contra a fiscalização, que tanto incomoda os petistas!

Rodrigo Constantino

 

A natureza do petrolão: não podemos aceitar a narrativa de corruptores malvados e políticos vítimas

Lula o chefe

Reinaldo Azevedo tem sido acusado, inclusive por alguns dos meus leitores, de defender a Odebrecht. Não é esse o caso, nem de perto. Posso discordar eventualmente de suas conclusões, mas entendo perfeitamente seu ponto de vista e o que ele tem tentado defender. No caso, o Estado Democrático de Direito, daquilo que ele enxerga como um ativismo judicial perigoso. Em sua coluna de hoje, ele volta ao assunto, questionando qual a ideologia dos juízes de Curitiba, se é que há alguma, e se vão ou não chegar ao cerne da questão, ao chefe do petrolão:

Pequena digressão: como ignorar que a metafísica influente da Operação Lava Jato traz consigo o financiamento público de campanha, o fim da doação de empresas a partidos, a demonização da iniciativa privada e o ódio ao lucro? Parte dessa agenda, vejam que coisa pouco curiosa!, coincide com a do PT. O fato de a dita operação ter aspectos saneadores não pode matar o espírito crítico do observador. A ideologia, como sempre, é uma leitura interessada –pouco importa a natureza do interesse– da verdade.

Se a nossa academia não estivesse, com as exceções honrosas de sempre, ocupada com irrelevâncias, eis aí um vasto estudo: qual é a mentalidade dos homens que compõem a força-tarefa de Curitiba? Quais são suas utopias? Quais são seus valores? Como veem as garantias individuais oferecidas pelos regimes democráticos? O que pensam da atividade política? Eu não tenho dúvida de que isso renderia um estudo formidável da mentalidade plasmada nos meios jurídicos nos últimos 30 anos.

Dou o benefício da dúvida aos jovens responsáveis pela caçada implacável aos corruptos e corruptores do petrolão. Seriam idealistas corajosos que creem justamente no império das leis? Ou seriam, como insinua meu estimado vizinho virtual, gente movida por uma espécie de preconceito ao capitalismo, ao lucro? O tempo dirá. Mas, como já comentei aqui, se considero fundamental evitar a narrativa de corruptores malvados que desvirtuam políticos indefesos diante da tentação por um lado, por outro julgo o caso em questão diferente.

Os juízes não estão perseguindo capitalistas, empresários que, para fazer negócio num país insano e hostil ao capitalismo como o Brasil, precisam pagar o elevado custo de “acertar” as coisas com o estado. Não vejo assim tais empreiteiras. Estamos, em minha opinião, diante de um caso de máfia mesmo, de conchavo entre grandes empresas e estado, naquilo que, se bem compreendido, pode ser a definição do fascismo, ao acrescentarmos a terceira ponta do “triângulo amoroso”, que são os poderosos sindicatos. O Brasil esquerdista, pasmem!, parece-se muito com o fascismo de Mussolini!

Concordo com o Reinaldo: não podemos aceitar a narrativa esquerdista de culpar os corruptores e aliviar os corruptos, ainda mais nesse caso, em que tudo aponta para os corruptos do governo como a origem dos problemas. Mas esses empresários em questão não são, tampouco, vítimas. São agentes ativos, que sempre adoraram esse esquema, essa simbiose entre empresas grandes e governo inchado. Azevedo está certo, porém, quando cobra a punição do verdadeiro chefe, aquele que estava no comando do “espetáculo”:

O processo do mensalão mandou, sim, alguns figurões para a cadeia, rompeu um círculo de impunidade que se dava, então, como certo e pode, sem favor, ser considerado um marco, dado o que se tinha até então. Mas seu desfecho também coonestou uma farsa, de que as severas condenações da banqueira Kátia Rabello e do publicitário Marcos Valério são emblemas. A julgar pelas penas amargadas pelas personagens daquele escândalo, tem-se a impressão de que a dupla estava no comando. Estava?

Se não entendi errado –e me impressiona que a fala tenha repercutido tão pouco–, o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) relatou a esta Folha, na segunda, em entrevista a Leonardo Souza, ter assistido ao momento inaugural do mensalão, quando, nas suas palavras, o governo Lula decidiu, em 2003, que “‘aquele Congresso burguês’ poderia ter uma maioria organizada por orçamentos”. Notem: ele fala em “orçamentos”, com letra minúscula e no plural. Não tenho dúvida de que Miro assistiu ao nascimento de um crime de responsabilidade, que passou impune.

Ninguém acha estranho a banqueira Kátia Rabello estar presa e Dirceu solto, em casa? Ninguém acha estranho o publicitário Marcos Valério ter sido condenado a tantos anos enquanto Lula sequer foi incluído no processo do mensalão? São esses os principais pontos de Reinaldo, e ele, nisso, está totalmente certo. Se os juízes que hoje gozam da total estima dos brasileiros indignados querem continuar sendo vistos como heróis, então precisam ir até o finalmente, cavar até a raiz do mal. Ela não está nas empreiteiras, por mais culpa no cartório que tenham.

Ela está no Planalto, no andar de cima, em quem cobrava dos empreiteiros a fatura para continuar desviando recursos, de forma a se perpetuar no poder. Reinaldo Azevedo conclui:

É a essa natureza do petrolão que a Operação Lava-Jato ainda não chegou. É essa essência que pode ficar escondida nas dobras da ideologia se o jornalismo não fizer direito o seu trabalho. Mas eu expresso a convicção de que fará e de que, desta vez, será possível chegar ao chefe e revelar o seu crime mais grave: o assalto à democracia. 

Rodrigo Constantino

 

 

Financial Times: Situação no Brasil é como 'filme de terror sem fim'

A atual situação do Brasil é comparável a um "filme de terror sem fim" devido às crises política e econômica, disse o jornal britânico Financial Times em editorial nesta quinta-feira.

No texto, intitulado "Recessão e corrupção: a podridão crescente no Brasil", o principal diário de economia e finanças da Grã-Bretanha diz que "incompetência, arrogância e corrupção quebraram a magia" do país, que poderá enfrentar "tempos mais difíceis."

Segundo o FT, "a maior razão" da crise enfrentada pela presidente Dilma Rousseff seria o escândalo de corrupção na Petrobras, desvendada pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Dezenas de políticos e empresários são investigados sob suspeita de participação no esquema de desvio na estatal.

"O Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim", diz.

Leia a matéria na íntegra no site da BBC Brasil.

 

E se eu fosse Joaquim Levy… Ou: Quem é John Galt?

E se eu fosse Joaquim Levy? Bem, para começo de conversa, jamais teria aceitado fazer parte de um governo petista. Não sou vaidoso a esse ponto ou “pragmático” nesse patamar. Tenho meus princípios e não os sacrifico em nome dos “bons resultados”. No mais, quais bons resultados mesmo? Ah, a situação estaria ainda pior se algum Belluzzo da vida estivesse no comando da Fazenda? Fato. Mas será que o efeito pedagógico não seria muito maior, o que faria um bem enorme para o Brasil a longo prazo?

E foi com isso em mente que pensei no que faria se fosse Joaquim Levy, hoje, assumindo que ele já está lá. Há uma cena em A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, em que o herói John Galt, sob coerção, “aceita” fazer o papel que o governo espera dele, mostrando afinidade com os poderosos. Ele vai na festa, deixa as câmeras o filmarem ao lado dos poderosos representantes do sistema, tudo de acordo com o script. Até (spoiler) o momento em que ele aproveita toda essa atenção ao vivo e, num gesto rápido, deixa a arma do seu “camarada” à mostra, para que todos possam ver com os próprios olhos o verdadeiro motivo de sua presença ali.

Quem é John Galt? Alguém que tinha valores bastante intransigentes e não aceitava contemporizar com um governo opressor, corrupto, mentiroso. Idealista? Sem dúvida. John Galt é um herói bem caricato, pois Ayn Rand detestava a região cinzenta, e enxergava tudo de forma maniqueísta, preto ou branco. Mas se trata de um romance, e o extremo serve, ao menos, como um nobre ideal a ser seguido. Galt não tolera o governo opressor, e mesmo ciente da retaliação por sua medida, faz o que é certo: expõe a farsa!

Voltamos a Levy. Seu papelão no governo está evidente para todos, e não foi por coerção que ele acabou no ministério. O “ajuste fiscal” é uma piada de mau gosto, é zero, sem falar da dependência do aumento de impostos, algo indecente, imoral num país como o Brasil, que já tem carga tributária de quase 40% e péssimos serviços em troca. Levy serve apenas de bode expiatório para a esquerda em geral e o PT em particular, que poderão acusar o “neoliberalismo” pela crise uma vez mais, eximindo de responsabilidade o nacional-desenvolvimentismo heterodoxo, verdadeiro culpado por tudo. Tanto que o próprio PT, partido da presidente Dilma, vai se unir à CUT para protestar… contra Levy e “suas” medidas!

Ou seja, Levy empresta alguma credibilidade aos mercados, já se esvaindo (vide a alta do dólar hoje), mas, em contrapartida, serve como desculpa para a esquerda, cai como uma luva na narrativa canalha de que foi o “ajuste fiscal” (qual?) ortodoxo e “neoliberal” o responsável pelo caos. Dilma pode posar ao lado do “John Galt”, do economista da Universidade de Chicago, e mostrar como os “neoliberais” estavam com ela, alinhados, no comando da economia. Está na hora de Levy expor a arma do PT em público, mostrar que o rei está nu.

Se eu fosse Levy, portanto, renunciava hoje, e faria isso contando toda a verdade. Diria que a situação da economia é muito pior do que o governo admite, que foi tudo causado pela “nova matriz macroeconômica”, que o tamanho do buraco a ser preenchido é gigantesco e um “ajuste fiscal” de 0,15% do PIB é uma brincadeira de mau gosto, uma piada, pois necessitamos de mudanças bem mais radicais, de reformas estruturais, da redução drástica dos gastos públicos.

O dólar ia disparar com o medo de alguém da Unicamp assumir a Fazenda? Sem dúvida! A crise ia piorar no curto prazo, o sofrimento seria ainda maior. Mas há momentos na vida em que a alternativa à dor momentânea é a morte, ou um sofrimento bem maior depois. Imaginem o efeito pedagógico que essa atitude corajosa e ousada de Levy teria para milhões de brasileiros mais leigos, que ainda acreditam nas baboseiras da esquerda. Empresários, tendo de enfrentar a realidade sem maquiagem, não mais elogiariam Dilma como “corajosa” e “patriota”. Ficariam com raiva, muita raiva de sua verdadeira face ficar exposta, com tudo que isso representaria em termos de agravamento da crise. Quando dói no bolso, essa gente sem ética sente.

Quanto pior, melhor? Não! Quanto mais transparente e realista, melhor! E a realidade é muito feia, eis a verdade que Levy, de certa forma, ajuda a esconder, a ocultar do povo brasileiro. Ajuste gradual? Uma “mudança de rumo”, sem efetivamente dar nome aos bois e reconhecer que o rumo petista estava destruindo o Brasil? Isso é mascarar a realidade. Isso é John Galt atuando como garoto-propaganda dos seus inimigos. Quem pariu Mateus que o embale!

Sai já daí, Levy, e faz isso colocando a boca no trombone, jogando a porcaria no ventilador, apontando o dedo para os verdadeiros culpados pela grave crise. O Brasil precisa, de uma vez por todas, de uma verdadeira aula sobre a desgraça que é o intervencionismo estatal na economia, o modelo de governo inchado, o nacional-desenvolvimentismo, a mentalidade que delega ao governo o poder de locomotiva da economia. Se você denunciar isso tudo aí de dentro, muita gente vai escutar, vai refletir, vai se dar conta de que não é o “neoliberalismo” o vilão, e sim o próprio governo!

Rodrigo Constantino

 

Recordar é viver: cuidado com a bolsa brasileira. Ou: Por que o CDI sempre bate o Ibovespa no longo prazo?

Ao contrário dos economistas da Unicamp, não tenho problema algum com minhas previsões do passado. Claro que não acerto todas, o que seria impossível. Não tenho bola de cristal e o futuro é sempre incerto. É preciso ter humildade. Mas, munido de bons instrumentos como uma sólida teoria econômica, é possível fazer algumas previsões com mais convicção, em vez de errar por margens gigantescas como costumam errar os “keynesianos de quermesse”, aqueles que aplaudiram as medidas do governo Dilma e sua “nova matriz macroeconômica”.

Em maio de 2011, quando muitos ainda estavam eufóricos com o Brasil e o Ibovespa estava em torno dos 65 mil pontos, escrevi no Valor Econômico um artigo recomendando muita cautela com o investimento em ações, pois existiam inúmeros riscos à frente e a renda fixa (CDI) dificilmente perderia para a bolsa no longo prazo. Segue o texto abaixo:

O Ibovespa atingiu os 65 mil pontos em outubro de 2007. Mais de 40 meses depois, eis que o índice mais importante de ações brasileiras se encontra no mesmo patamar. No período, o CDI rendeu mais de 40% e a inflação subiu mais de 20%.

O investidor que decidiu assumir um risco de bolsa no final de 2007, mesmo com horizonte de longo prazo, não tem motivo para celebrar. Não só teve um custo de oportunidade elevado, como teve que aturar uma volatilidade de 35% ao ano!

Alguns podem argumentar que o Ibovespa não é o instrumento mais adequado, pois tem distorções, como o excessivo peso da Petrobras. Mas o IBr-X 100 apresentou desempenho idêntico no período. Dentro do Ibovespa há muita discrepância de desempenho, naturalmente. Algumas empresas subiram bastante, outras despencaram.

stock picking e o timing da entrada se mostram, como sempre, essenciais para o bom desempenho do investidor. Mas, em linhas gerais, a conclusão parece inequívoca: a bolsa brasileira está patinando há quase quatro anos.

O que pode explicar desempenho tão medíocre? De fato, o período engloba a grande crise de 2008, uma das mais graves da história financeira. Mas também conta com o forte rali de 2009, após maciça injeção de liquidez pelos principais bancos centrais do mundo. O índice de commodities CRB oscilou muito no período, e está praticamente no mesmo nível do começo.

O petróleo, que estava perto de US$ 90 por barril no final de 2007, desabou durante a crise, mas já voltou tudo e mais um pouco, passando da barreira dos US$ 100. Não obstante, a Petrobras, maior empresa brasileira, perdeu aproximadamente 25% de seu valor no período. Sem dúvida essa queda merece uma explicação especial.

A gigante estatal realizou em 2010 a maior capitalização da história do mercado de capitais brasileiro. Foram dezenas de bilhões de dólares para financiar seus agressivos projetos de crescimento. O mercado, entretanto, questiona a rentabilidade desses projetos.

Como a empresa pretende investir uma nova Petrobras nos próximos anos, a taxa de retorno desses investimentos é fundamental para analisar seu valor presente. Investimentos com baixo retorno, como aqueles destinados ao refino, prejudicam a geração futura de caixa, e os investidores punem as ações.

Além disso, há o grande risco político, com a intervenção do governo na empresa para manipular a inflação, ainda que isso signifique bilhões de prejuízo aos seus acionistas.

A Petrobras não foi o único dreno do Ibovespa. A Vale, maior empresa privada do país, perdeu mais de 10% desde outubro de 2007, apesar de o valor do minério de ferro ter quase triplicado nesse período. A Vale nunca ganhou tanto dinheiro, e mesmo assim suas ações patinam sem sair do lugar.

O risco político parece ser novamente o grande culpado aqui. O governo demonstrou apetite por maior ingerência na empresa, chegando a lutar abertamente pela demissão de seu CEO. Os investidores temem novas medidas arbitrárias que destruam valor para os acionistas. O anúncio de que a Vale teria interesse em investir em Belo Monte, feito pouco depois da saída de Roger Agnelli, produziu calafrios legítimos nos acionistas.

Outro setor importante da bolsa, o financeiro, apresentou desempenho pífio. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil subiram, na média, algo perto de 10% nesse longo período, abaixo da inflação. Isso apesar de um crescimento estrondoso da carteira de crédito desses bancos.

Como o governo não fez reformas estruturais e os gargalos da economia continuaram intactos, o acelerado crescimento do crédito bateu nos dados de inflação. O governo resolveu apelar para medidas macroprudenciais, que afetam diretamente os bancos. A inflação continua sendo a grande ameaça para o cenário dos investidores ― e, enquanto o governo não agir de forma dura para domar o dragão, essa espada continuará pendurada sobre a cabeça dos investidores.

Poderíamos continuar com os exemplos, mas o recado está claro: quem apostou de forma genérica no sucesso da economia brasileira por meio da bolsa perdeu bastante dinheiro nos últimos anos, em termos relativos.

Claro que quem acertou na escolha específica dos papéis ganhou muito dinheiro, assim como quem soube entrar e sair nas horas certas. Mas isso é muito mais fácil de falar do que fazer.

A bolsa brasileira tem sido veículo bom apenas para especuladores ágeis ou aqueles que sabem garimpar muito bem os ativos. Para o típico investidor médio, que compra as blue chips e “casa” com elas, tem sido puro sofrimento. O CDI tem dado um banho no Ibovespa, graças basicamente ao governo.

Ibovespa, hoje perto dos 50 mil pontos

Ibovespa, hoje perto dos 50 mil pontos

Se a coisa estava feia já em 2011 para o investidor de ações, o que dizer hoje? O Ibovespa está perto dos 50 mil pontos, nominais! Ou seja, se descontarmos a inflação elevada no período (a acumulada nos últimos 12 meses está em 9,25%, a maior desde 2003), a perda é enorme. Se compararmos com o ganho na renda fixa, então, é caso de desespero para quem sentou em cima do índice de ações nesse período.

De fato, já tinha escrito outro texto com estudos comprovando a afirmação de que, em janelas longas, o CDI sempre vencia do Ibovespa. Samy Dana, em sua coluna Caro Dinheiro na Folha, mostrou a mesma coisa essa semana. Isso ocorre porque o ambiente de negócios no Brasil é muito hostil, enquanto o governo, perdulário demais, precisa sempre pagar juros altos para se financiar. Ou seja, emprestar para o governo e ir para a praia pode ser mais rentável do que tentar empreender e competir no mercado. É uma das enormes distorções geradas pelo excesso de governo em nossa economia.

Um país como o Brasil ter apenas umas 300 empresas de capital aberto é uma vergonha, algo ridículo! Mas é o resultado desse modelo perverso, que praticamente fecha aquele que é, em países desenvolvidos, o principal instrumento e fonte de financiamento para empreendedores. Também falta transparência, governança, proteção aos acionistas minoritários, etc. É a análise feita pelo presidente da Amec, Mauro Cunha, em entrevista recente:

Sem um mercado de capitais desenvolvido, o Brasil nunca será um país desenvolvido. E com um governo inchado, perdulário e intervencionista, o Brasil nunca terá um mercado de capitais desenvolvido. Enquanto esse for o caso, investir em ações será uma atividade bastante arriscada, mais do que já é em situações normais. E será muito difícil o Ibovespa vencer da renda fixa em janelas longas, pois as empresas são muito maltratadas em nosso país, enquanto o governo acaba sempre tendo que subir juros para fechar suas contas no vermelho.

Rodrigo Constantino

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Fonte:
BBC Brasil

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Aqui vemos o grau de imbecilidade de Gleise Hoffman..., onde é que ela pensa que vai conseguir 60% dos votos na camara e no congresso para aprovar uma emenda à constituição? Mas a imbecilidade maior está ainda na cara de pau de querer modificar a constituição para poder gastar mais!!! Essa gente é tão burra que não percebeu ainda que não tem de onde tirar mais. Sobre Joaquim Levy, Rodrigo Constantino está certo, pois não há o que fazer, o País faliu, quebrou, e a única solução possivel seria uma reforma na Constituição, a única forma de limitar os gastos públicos, mas como? O PT tem 70 deputados, e a reforma que pode colocar o Brasil nos trilhos é a de diminuir e limitar os gastos públicos, o tamanho do Estado e sua interferencia na economia, e isso o PT e demais partidos de esquerda não querem de jeito nenhum, acho até que nem boa parte do PSDB apoiaria tal reforma. Isso sem falar nas privatizações, como fazer agora que as estatais estão todas quebradas? Petrobrás na lona, Eletrobrás na lona, acho que Banco do Brasil e CEF renderiam ainda um bom dinheiro, mas como fazer isso com o PT no poder? De qualquer forma, ficando ou não Levy no governo, a credibilidade já foi para as cucuias, ninguém acredita mais que o Brasil possa sair dessa encalacrada. Se a máquina pública deixar de ser financiada pelos especuladores estrangeiros, e brasileiros também, a cobrança irá cair inevitavelmente sobre o setor produtivo, e como o setor produtivo que está melhor das pernas é o agropecuário, penso que é sobre ele que vai cair a conta, não tem saida, ou o governo economiza no setor público para pagar os juros da divida, ou retira do setor produtivo. O socialismo da oposição é que impede que se diga isso a sociedade. O PSDB pensa que é só derrubar Dilma e o PT, coisa que está sendo feita pela sociedade sem a ajuda deles, assumir o governo, recuperar a "credibilidade" para manter o Estado do jeito que está, e consequentemente o País também e isso não queremos e não vamos permitir.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      AH!... COITADA !!!

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      ELA ESTÁ NO GRAU "1" (UM) ... MAS SOB A REGRA DO ÍNDICE DE GINI !!! kkkkkkk

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