O ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, afirmou neste sábado, em entrevista para explicar as doações à campanha dele a governador de São Paulo em 2010, que, nas investigações de desvios de recursos por um esquema de corrupção na Petrobras, há "ênfase no ataque ao PT".
Reportagem deste fim de semana da revista "Veja" relaciona os nomes de 18 políticos supostamente citados pelo dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiários de dinheiro oriundo do esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. Preso na Lava Jato, Pessoa teria listado esses nomes em depoimento resultante de acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Entre esses políticos, há dois ministros – o próprio Aloizio Mercadante e Edinho Silva (Comunicação Social). Ambos admitem ter recebido doações da UTC – no caso de Mercadante, quando disputou o governo de São Paulo pelo PT em 2010, e no de Edinho Silva, como tesoureiro da campanha presidencial de Dilma em 2014 –, mas negam que tenham sido ilegais. Antes de Mercadante, Edinho Silva concedeu entrevista.
"Nesse episódio de investigação que atinge vários partidos e políticos do país há ênfase no ataque ao PT e ao partido do governo. Uma parte é luta politica, e os problemas graves que ocorreram, as pessoas que estão envolvidas, de vários partidos, mas é evidente que há uma elite focada numa disputa que não parou desde o fim das eleições", declarou Mercadante.
Segundo o ministro, o candidato vitorioso em São Paulo (Geraldo Alckmin, do PSDB) "também recebeu das empresas, R$ 1,4 milhão pela Constran e pela UTC, devidamente prestadas contas na Justiça Eleitoral".
"Estou pedindo acesso às informações dessa delação para eslacecer esse episódio e me colocar à disposição da Procuradoria Geral da República para dar resposta o mais rapido às informações necessárias para que a gente possa esclarecer. Como homem público, faço questão de responder a qualquer tipo de questionamento", declarou.
Mercadante admitu ter mantido encontro com Ricardo Pessoa, que, segundo disse, queria conhecê-lo como candidato ao governo de São Paulo.
"Houve uma reunião comigo, na minha casa. Isso aconteceu. Tinha feito uma cirurgia, e o Ricardo Pessoa pediu para me conhecer. Esse senhor gostaria de discutir comigo minha pré-campanha ao governo de São Paulo, e o conheci nessa reunião", afirmou. "Ele queria saber minhas propostas. Eu apresentei, e ele revelou que poderia contribuir. Eu agradeci e disse que ele precisava entrar em contato com a campanha, desde que a legislação fosse respeitada", declarou.
O ministro negou que tenha recebido recursos não contabilizados. Ele mencionou os números de dois recibos para justificar duas doações legais em um valor total de R$ 500 mil (R$ 250 mil cada). "Foram R$ 500 mil devidamente contabilizados como exige a legislação eleitoral e como foi apresentado na minha prestação de contas", disse.
Um dos ministros mais próximos da presidente Dilma, Mercadante disse também que ela pediu que os ministros esclareçam as dúvidas sobre as supostas acusações do empresário, a fim de garantir “transparência” ao governo.
Após o vazamento do conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, Dilma, Mercadante, Edinho Silva, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniram nesta sexta e neste sábado.
“Nas reuniões que eu tenho com a presidenta – e eu sempre me reúno com a presidenta –, é ela quem diz o que nós tratamos. Só ela diz. Mas, basicamente, ela disse: ‘Façam todos os esclarecimentos. Meu governo tem que ter transparência, atitude e coragem’. Assim como ela pensa, eu também penso. E a atitude do ministro Edinho, quando as informações vierem a pública, provará o que ele está dizendo”, declarou.
Viagem aos EUA
Principal conselheiro político de Dilma na Esplanada dos Ministérios, Mercadante não viajou com ela para a visita oficial aos Estados Unidos, embora o Palácio do Planalto tenha divulgado previsão de que ele estaria na comitiva.
O ministro destacou que não viajou porque desde que assumiu a Casa Civil, no início de 2014, não acompanhou a presidente em viagens internacionais. “Toda vez que ela vai, eu fico.”
Ele, porém, destacou que, além de ficar no país para resolver “questões de gestão do governo”, gostaria de se explicar sobre as acusações de Pessoa. Segundo o ministro, outro motivo que o fez permanecer no Brasil foi a pauta de votações do Senado.
“Por que não pude ir? Primeiro, porque nós teremos uma semana muito importante na pauta do Senado. Temos a pauta da desoneração, temos a pauta da indexação do salário mínimo, temos votações de vetos e temos o problema do reajuste do salário do funcionalismo e dos servidores do Judiciário, além de questões de gestão do governo”, disse.
“A segunda razão [para não viajar aos EUA] é estar aqui. Quero explicar [as denúncias] todas as vezes que for necessário. Sempre que questionado, como homem público, vou prestar esclarecimentos”, acrescentou.
Questionado sobre se as denúncias deste fim de semana “ofuscam” a agenda da presidente Dilma nos EUA, em razão da série de encontros que ela terá com empresários norte-americanos, Mercadante disse que “talvez” este tenha sido o objetivo das denúncias.
“Talvez tenha sido feito para isso. Não sei se foi calculado. Mas o esforço para que isso aconteça é muito grande. Eu espero que a gente saiba separar uma coisa da outra", disse.
Mercadante concluiu ao dizer que a presidente Dilma está com "muita vontade de falar" sobre as denúncias. "A presidenta sempre fala com vocês [jornalistas]. Aguardem porque ela vai falar com vocês, ela está com muita vontade de falar. Igual a mim”, completou.