Folha revela o que a PF encontrou na casa de Marcelo Odebrecht: 20 pendrives e contratos...

Publicado em 24/06/2015 08:15
na coluna PODER, por Vera Magalhães

GPS A Polícia Federal relatou dificuldade em localizar a casa de Marcelo Odebrecht para prendê-lo, porque o condomínio em que o empreiteiro mora "possui diversas ferramentas de segurança".

Drone A PF precisou usar imagens aéreas e criar uma lógica de numeração para as casas para chegar ao alvo.

Ostentação O imóvel identificado pela PF chamou a atenção por apresentar "diferença significativa" em relação aos vizinhos. "A casa em questão possui três terrenos incorporados, sendo que em um deles existe um pequeno campo de futebol".

Queima-roupa A PF apreendeu na casa de Marcelo um revólver calibre 38, com um registro de posse em seu nome. A arma estava no closet do quarto do casal, onde havia ainda quatro celulares e mais de 30 pendrives.

Das Arábias Na sala do executivo em um dos escritórios da Odebrecht, foram encontradas três apostilas com o título "Empresas estrangeiras citadas na Operação Lava Jato", com referência à embaixada brasileira em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.

Tabuleiro de... Os investigadores apreenderam na sede da Odebrecht Latin Finance 42 contratos de financiamento entre o BNDES e países estrangeiros, com participação da construtora.

... War Entre eles, havia 21 de Angola, 8 da República Dominicana e 4 de Cuba, além de documentos sobre as obras do porto de Mariel.

Armadura 1 Aliados de Lula e parte da cúpula do PT articulam reação enérgica a desdobramentos da Lava Jato para blindar o ex-presidente. Preocupado, o grupo quer que parlamentares e ministros questionem abertamente a legitimidade de algumas decisões ligadas à operação.

Armadura 2 Insatisfeito com a "inércia" do Planalto, um dirigente do PT disse a um ministro que, caso Lula seja preso, tem dúvidas se a cúpula do partido e a militância da sigla teriam energia para sair às ruas e defendê-lo.

 

análise de VINICIUS TORRES FREIRE:

O rapa nas empresas e o PIB

País se move, mas economia vai piorar um tanto mais com novas prisões e inquéritos

A CÚPULA das duas maiores empreiteiras do Brasil está presa. O crédito da Odebrecht foi rebaixado, tal como acontecera com o da Petrobras e o de outras empreiteiras da Lava Jato, embora a empresa esteja muito longe da ruína de suas irmãs menores. Executivos de montadoras, bancos e de grandes associações empresariais foram convocados para depor pela CPI que investiga suborno no "tribunal dos impostos", a CPI do Carf.

Ninguém sensato arriscaria estimar o efeito total desse rapa imenso no grande empresariado, ainda menos se considerada também a barafunda política e econômica mais geral. No entanto, é uma especulação razoável dizer o seguinte.

Primeiro, o crédito das empresas brasileiras, das empresas de construção em particular, vai ficar mais prejudicado, aqui e lá fora: mais caro, mais escasso. Vimos esse filme no ano passado, quando a Petrobras levava tiros na testa e o governo não se movia, aparentemente por não entender o que é descrédito e seu significado prático em finança. Não vai ser, claro, tão ruim como no vexame e na exposição das ruínas da petroleira. Mas vai ser ruim.

Segundo, vai haver ainda mais dúvidas sobre o pacote de concessões de obras de infraestrutura que o governo lançou faz duas semanas. O plano é cru, tem contradições (não integra as obras, várias delas sobrepostas), tem maluquices feito o trem do Peru e está à espera de projetos e garantias legais e regulatórias antes de ter jeito de ser implementado. Havia dúvidas sobre quais empreiteiras poderiam participar do negócio. Agora, complicou um tanto mais: quem estará apto, limpo, organizado ou capitalizado para atrair sócios (empresas menores ou do exterior)? Qual o dano geral de imagem do país?

Terceiro, a barafunda política pode aumentar ou ter ramificação nova; há o risco de "pegarem o Lula", tal como saliva a oposição, o que daria em tumulto. É especulativo, decerto, mas por que tanta gente e empresa graúda não reagiria, de alguma forma, à razia dos inquéritos?

Difícil que seja uma reação agressiva, que não pegaria bem, pois o brasileiro médio quer que algumas cabeças rolem. Pode aparecer uma tentativa de acordão, como o que vinha sendo costurado para permitir às empreiteiras participar das próximas concorrências do governo. Pode ser uma reação de retirada, de temor sobre o próprio destino e da imprevisibilidade das ações policiais e judiciais. O que mais está por vir?

O Eletrolão, rolos denunciados na Eletrobras, nem começou. O suborno no Carf estava com jeito de que iria minguar, mas há reações contra o juiz que tomava conta do caso e, embora as CPIs estejam cada vez mais avacalhadas, os inquéritos costumam desencapar fios elétricos. A Lava Jato já tem outras bombas, com delações armadas para explodir.

Quarto, as empresas da Lava Jato, decapitadas de suas lideranças e dedicadas a resolver rolos, tendem a ficar mais desorientadas, a perder negócios, a fechar menos contratos. A economia ruiu também devido ao dominó destrutivo que começou na paralisia da Petrobras, passou para suas obras, para estaleiros, para fornecedores das empresas associadas à petroleira e daí por diante.

Sim, o rapa no empresariado vai fazer a economia piorar um tanto mais.

 

BERNARDO MELLO FRANCO

Perdoa-me por me bateres

BRASÍLIA - Depois do silêncio, o aplauso. Foi assim que o PT reagiu às críticas do ex-presidente Lula, que atacou o governo Dilma e acusou o partido de ter envelhecido e só pensar na ocupação de cargos.

No início, ninguém quis contestar o chefe. "Todo mundo tem direito de criticar", desconversou Dilma. "Não me estresso com essas coisas", disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães. "Não vejo como críticas, mas como uma provocação, um chacoalhão", enrolou o líder da sigla, Sibá Machado.

Quando ficou claro que não haveria debate a sério, os senadores petistas se encorajaram a emitir uma nota de desagravo ao ex-presidente. "A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução", afirmaram.

O texto soou estranho porque Lula não foi atacado para inspirar solidariedade dos comandados. Pelo contrário: ele é que fez duros ataques ao partido, ao governo e a Dilma, solenemente ignorada pelos senadores.

O novo discurso do ex-presidente lembra uma famosa estocada de Anthony Garotinho, que em 1999 rebatizou o PT como Partido da Boquinha. A diferença é que o então governador do Rio vivia em guerra com o petismo, e Lula continua a ser o líder máximo do partido.

A apatia não é apenas um sintoma de subserviência ao ex-presidente. Os petistas ainda batem cabeça para entender aonde ele pretende chegar com as críticas à sigla que fundou e à presidente que alojou em seu lugar. Há quem aposte em um esboço de estratégia para se descolar da imagem de Dilma, mas muita gente vê apenas irritação, destempero e temor com os avanços da Lava Jato.

Para sorte do Planalto, a oposição parece pouco interessada em tirar proveito da combustão interna do PT. Nesta terça, Aécio Neves e aliados gastaram a maior parte da sessão do Senado com longos discursos sobre a crise... na Venezuela.

 

Dilma minimiza críticas e petistas reagem a Lula

Para a presidente, todos têm o direito de falar o que pensam, sobretudo Lula

'Prefiro quando Lula diz que os que acham que o PT vai acabar darão com os burros n'água', afirmou Rui Falcão

 

As recentes críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo e ao PT provocaram reação da presidente Dilma Rousseff e constrangimento no partido.

"Todos têm direito de fazer críticas. Principalmente o presidente Lula, que é muito criticado por vocês [jornalistas]", disse a presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira (23) no Rio, em sua primeira declaração pública sobre o tema.

Em conversa com religiosos e numa palestra recentes, Lula afirmou que o governo está no "volume morto".

"Não sei se o defeito é nosso, se é do governo. O PT perdeu a utopia", afirmou.

Dirigentes do partido foram menos contidos que Dilma e expressaram, nesta terça, o desconforto.

"Prefiro quando o Lula diz que os que acham que o PT vai acabar darão com os burros n'água", disse o presidente do PT, Rui Falcão.

Questionado sobre a pertinência das críticas, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), respondeu que, no momento, o melhor seria que elas fossem feitas internamente.

"Acho que no momento [são críticas] internas e não públicas", disse. "O Lula tem todo o direito de criticar o que ele quiser, não me estresso com essas coisas."

"Só posso dizer que a perspectiva do PT no Nordeste é muito boa. Quem fica apregoando essa história do PT estar no fundo do poço, estar no volume morto... vamos esperar as eleições. Já vi tantas previsões feitas e não realizadas", concluiu Guimarães.

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), tentou justificar a atitude. "Lula acha que o PT perdeu a energia. Chateação não digo. Mas ansiedade dele há."

Em suas declarações recentes, o ex-presidente reclamou de cansaço, diz que fala as mesmas coisas que em 1980 e que os petistas só pensam em cargos, empregos e em serem eleitos.

SOLIDARIEDADE

Na contramão do descontentamento com Lula, a bancada de senadores do PT divulgou nesta terça uma nota em solidariedade ao ex-presidente.

Os parlamentares afirmam que Lula é vítima de uma "sórdida campanha" e que seus adversários usam "cínica e seletivamente" a luta contra a corrupção para "tentar destruir um projeto nacional e popular".

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que as críticas de Lula são "legítimas". O ministro disse ainda concordar com as declarações.

"Há muitos anos eu milito numa corrente do PT que propõe mudanças. Isso [que ele disse] induz todos os petistas e simpatizantes a refletirem. Ele assume uma posição de vanguarda", disse Cardozo.

Segundo seus colaboradores, Lula tem se queixado de uma sensação de impotência frente à crise econômica e política. Ele também tem afirmado ser o próximo alvo da Operação Lava Jato. Para o deputado Wadih Damous (PT-RJ), Lula quer "chamar o PT para o debate".

Ex-ministro de Lula, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) afirma que o ex-presidente criou um "fato político" ao criticar o PT para desviar o foco da prisão da cúpula da Odebrecht.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), foi na mesma linha.

 

FHC diz que doação a instituto não é ligada a política

PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta terça (23) que os recursos recebidos por seu instituto, o iFHC, não têm "relação com política e partidos".

Ele admitiu que a entidade pode ter recebido dinheiro de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, mas disse não ver problema nisso.

Indagado sobre a diferença entre ele receber dinheiro para fazer palestras e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhar recursos destas empresas para fazer o mesmo, Fernando Henrique afirmou: "A minha palestra eu dou e vocês assistem".

A Polícia Federal informou que o Instituto Lula recebeu R$ 3 milhões da Camargo Corrêa, uma das empresas sob suspeita. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, foi chamado a explicar as doações na CPI da Petrobras. A convocação irritou Lula.

Na segunda-feira (22), Okamotto afirmou que os recursos recebidos pela entidade são semelhantes às doações feitas a instituições de outros ex­-presidentes.

Segundo a revista "Época", tanto o Instituto Lula como o Instituto FHC receberam recursos da Odebrecht. A bancada do PT quer convocar Sérgio Fausto, superintendente do iFHC, para depor na CPI.

"Muita gente deu recurso [para o instituto], mas aqui é para fazer o que nós estamos fazendo, não tem nenhuma relação com política, partido", disse Fernando Henrique, após seminário no iFHC.

O instituto do ex-presidente nunca divulgou detalhes sobre seus doadores. Segundo Sérgio Fausto, o iFHC foi auditado pela PwC até 2014. Este ano, passa por auditoria da Grant Thornton.

'ORGULHO'

Em entrevista ao site "Brasil 247" nesta terça, Lula defendeu as viagens que fez com empresários desde quando era presidente, argumentando que ajudaram a promover exportações brasileiras.

"Levei centenas de empresários comigo à China, à Índia, à África, aos quatro cantos do mundo", disse.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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