Nosso farmacêutico Adauto, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 05/05/2015 11:34

 Ibaté, cidade para qual me mudei ainda jovem, não contava com mais de cinco mil habitantes. Tratava-se de um distrito de São Carlos recém-emancipado. Todos se conheciam, e sabiam da vida de todo mundo.  A fofoca corria solta! A cidadezinha parecia uma grande colônia de italianos que por sinal, representavam mais de noventa por cento das famílias se seus moradores.

Havia poucas farmácias, duas apenas. Ambas de suma importância para a população, pois seus farmacêuticos, além da comercialização dos medicamentos, também resolviam os problemas corriqueiros de doenças.

Nossa família criou maior afinidade com o farmacêutico Adauto, o qual conheci assim que chegou à cidade, recém-casado. Tornei – me amigo e seu admirador por várias razões: competência, paciência, sabedoria e solidariedade.

Assim que chegou, tinha uma bicicleta como seu meio de locomoção, em cujo bagageiro portava uma pequena caixa de madeira contendo seringas, álcool, algodão, aparelho de pressão e poucos medicamentos, em caso de emergência. Pedalava, incansavelmente, pelas ruas empoeiradas atendendo os enfermos demonstrando alegria e presteza em servir ao próximo.

Apesar de prático, pois nem farmacêutico formado era, tinha muita habilidade em suturar pequenos cortes, e fazer pequenas cirurgias. Nossa confiança em sua destreza era total. Quando se tratava de algum caso mais grave ele diagnosticava com precisão e nos encaminhava, à cidade vizinha mais próxima onde havia maiores recursos.

Por todos seus atributos como profissional e ser humano, passou a fazer parte da família de cada um dos Ibateenses. Seu prazer em servir, muitas vezes sem nada cobrar, enaltecia e valorizava o ser humano que aprendemos a respeitar e confiar.

A cidade, nesta época, passou muito tempo sem ter um médico permanente ou um posto de saúde se quer, e o “Dr Adauto” era nosso porto seguro. Minha avó, beirando oitenta anos, só procurava o médico da família quando diante de algo mais grave, do contrário, chamava o Adauto.

Já fazendo parte do clube da melhor idade, beirando 65 anos, decidiu entrar na política candidatando-se a vereador. Não tenho certeza de sua vitória nesse pleito, mas caso se sagrasse vencedor, creio que se decepcionaria por se tratar de homem honrado, honesto e de muito caráter.

Casou-se muito jovem e muito jovem também, tornou - se avô e com apenas cinquenta e poucos anos, bisavô. Sua prole parece ter herdado a genética da paternidade precoce. 

Nunca o vi irritado, de mau humor ou fazendo qualquer tipo de grosseria. Para os velhinhos com deficiência auditiva, gesticulava, falava alto, mas com carinho repetindo quantas vezes fosse necessária sua mensagem. Sempre pragmático e autoconfiante, mesmo diante de um sintoma grave da enfermidade, passava fé e esperança de cura. 

Pessoas com este perfil deve existir em todo canto do mundo, mas nos rincões brasileiros onde o sistema de saúde é precário, eles são os verdadeiros heróis e como tal são tratados e reconhecidos.

Quem já esteve doente sabe o que estou falando, e também sabe o quanto nos tornamos vulneráveis e dependentes dos outros. O principal remédio nessa hora é uma palavra de conforto, e um sincero aperto de mão acompanhado do olho no olho. 

O enfermo que recebe esta energia, tem aumentada sua imunidade e sua autoestima. E isso ajuda a cura-lo. Assim era nosso farmacêutico, quase médico, para nós.

“A felicidade lhe mantém gentil, os obstáculos lhe mantêm forte, as mágoas lhe mantêm humano e os choques lhe mantém humilde”. 

E VIVA NOSSO FARMACEUTICO ADAUTO!

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Fonte:
Osvaldo Piccinin

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