Produtores do RS desanimados para a nova safra de trigo; preço mínimo não foi reajustado e custos de produção em alta
O cenário que antecede o plantio da safra de inverno não tem sido animador para os produtores do Rio Grande do Sul, especialmente aos produtos que desejam investir na cultura do trigo.
Segundo Hamilton Jardim, presidente da comissão de trigo da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), esse é o pior cenário dos últimos 36 anos para o plantio que se inicia em maio. "Nesta época o comercio já estava aquecido, com reservas de sementes e insumos já comercializados, mas nesse momento os produtores já falam em redução de área e tecnologia", declara.
Diante dessa perspectiva, a remuneração dessa produção pode não cobrir os custos de produção - que é um dos mais elevados do Mercosul. Além disso, os produtores do estado vêm de uma safra no ano passado com grande quebra, que resultou em um prejuízo superior a R$ 1 bilhão de reais no total.
"Olhando para frente, não existe um cenário que indique renda". Os preços para o trigo de melhor qualidade, que na safra passada totalizou 600 mil toneladas, não ficou acima do preço mínimo de R$ 33,47 a saca, e o "governo ainda não sinalizou um preço mínimo novo", afirma Jardim.
Até o momento, a intenção dos produtores é realizar uma lavoura com menor tecnologia, e completar a área com o plantio de aveia, para não deixar de cobrir a área que será destinada posteriormente com a safra de verão.
"É uma lastima para a economia dos municípios e do estado em geral, que somente neste ano vão gastar US$2,7 bi com exportações para atender a demanda dos moinhos brasileiros. É uma pena que o governo não olhe essa cultura com carinho que ela deveria ter, porque o Rio Grande do Sul e o Paraná - que são responsáveis por mais de 90% da produção de trigo - dependem muito das políticas de incentivo", declara o presidente.
Além disso, o Rio Grande do Sul possui um ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que chega a 12% nas exportações de trigo in natura, com isso a Farsul tem pleiteado junto ao governo do estado tentar reduzir essa porcentagem antes do período de plantio, para o produtor gaucho tenha um incentivo a continuar produzindo.
Para Jardim, os preços não sobem na mesma perspectiva que os custos tem se elevado, por isso a atividade está se tornado cada vez mais desestimulada. Fora os preços, a comercializações também seguem travadas, haja vista que o mercado questiona a qualidade do trigo brasileiro, especialmente na safra passada.
Contudo, Hamilton considera que eles não estão levando em consideração "a safra 2013 que foi altamente produtiva, e com muita qualidade, porque as condições climáticas foram muito boas, mas no ano passado infelizmente aconteceu uma catástrofe que nós esperamos que nunca mais aconteça", explica.
A qualidade da safra 2014 foi fortemente prejudicada pelas chuvas, que ocorreram durante todo o ciclo do trigo, obrigando inclusive a Farsul solicitar ao Governo Federal que autorizasse a dilatação do prazo para plantio, em relação ao zoneamento agrícola de risco climático. E mesmo com a liberação desta prática, as lavouras registraram quebras significativas, e ainda baixa qualidade no grão.
Considerando esses aspectos, fica evidente a necessidade de seguros agrícolas, como o Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária), porém o governo demora na liberação desse crédito, e não dá sinais de que possa resolver essa situação no curto prazo.
Todo esse cenário, no entanto, não é prejudicial apenas para o produtor do Rio Grande do Sul. A falta de incentivos e políticas agrícolas eficientes desestimula o setor que tem sido o equilibrador da balança comercial neste tempo de crise.
"Em cada município que deixa de plantar trigo, quanto não se perde com arrecadação de óleo diesel, empregos, ICMS, e quantas empresas não deixam de vender insumos. Por isso é lamentável que o governo não enxergue essa cultura, e outras também que poderiam ser fomentadas no inverno, mas que para isso precisam de visão de governo", considera Jardim.
Jardim explica também, que a segregação por qualidade também tem sido um grande gargalo dos produtores do Rio Grande do Sul com os moinhos. Segundo ele, as cooperativas e sindicato têm incentivado os produtores a realizarem essa pratica, para obter um produto de menor qualidade, "mas para isso é preciso que eles plantem menos cultivares para que não sobrecarregue as unidades de armazenamentos", explica. No entanto, a segregação por qualidade exige maior investimento, porém proporciona melhor remuneração.
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