Dilma precisa priorizar fim da crise com base governista, dizem aliados
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - Com incêndios simultâneos para enfrentar e a maior reprovação a um presidente em mais de duas décadas, a presidente Dilma Rousseff vem sendo aconselhada a priorizar uma solução para a crise política, pois esse movimento lhe daria as condições necessárias para enfrentar a baixa popularidade e as dificuldades econômicas, segundo fontes próximas à petista.
A solução para a crise na base aliada, segundo duas fontes, passa principalmente pela incorporação do PMDB às decisões do governo e por uma articulação mais próxima com o PT na Câmara dos Deputados.
Além disso, na avaliação de um desses aliados, um petista que pediu anonimato, Dilma poderia mudar seus interlocutores políticos. A mudança passaria pela substituição do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, que nunca foi unanimidade entre as bancadas do PT no Congresso e não tem interlocução com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Também poderia, momentaneamente, retirar o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da articulação política com os aliados e com o Congresso. Há muita resistência, principalmente no PMDB, com a condução das negociações de Mercadante.
Durante reunião na terça-feira em que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apresentou detalhes do pacote anticorrupção que foi anunciado pela presidente nesta quarta-feira, houve novamente reclamações de aliados com a falta de traquejo de Mercadante, contou à Reuters um aliado peemedebista.
As duas fontes, porém, não souberam afirmar se a presidente já está convencida em fazer mudanças no ministério e nas funções de Mercadante.
"O diálogo prometido pela presidente tem que começar pela sua base aliada no Congresso. Se não consegue nem dialogar com sua base, não adianta tentar enfrentar as outras crises", disse a fonte peemedebista.
Dilma tem sido aconselhada, inclusive pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a e se aproximar mais do vice-presidente Michel Temer, ao mesmo tempo em que restabelece prioritariamente a relação com o PMDB.
"A prioridade é resolver a crise política com os aliados. Depois ir dialogar com os movimentos sociais e centrais sindicais, que são nossa base, e também discutir medidas econômicas e ações de governo com os empresários", afirmou a fonte petista.
TENTANDO MUDAR
Desde a semana passada, o governo parece estar se esforçando nesse sentido. Mudou de posição na negociação da correção da tabela de Imposto de Renda e conseguiu evitar a derrubada de um veto presidencial.
Na terça-feira, além de apresentar aos aliados antecipadamente medidas que foram anunciadas na quarta, o governo conseguiu um acordo para adiar por duas semanas uma votação na Câmara dos Deputados que poderia estender a fórmula de reajuste do salário mínimo para aposentados e pensionistas que recebem acima de um salário mínimo, o que provocaria um novo rombo nas contas da Previdência.
A pacificação da base governista reverteria parte das dificuldades enfrentadas pela presidente para colocar as contas públicas em ordem, já que algumas medidas têm enfrentado grande resistência no Congresso e não têm apoio integral nem mesmo entre os parlamentares do PT.
Apesar dos prognósticos de recessão e inflação acima dos 6,5 por cento, teto da meta do governo, neste ano, um melhor encaminhamento do ajuste fiscal no Congresso poderia acalmar um pouco os mercados financeiros. E dar algum ânimo para os empresários retomarem os investimentos, especialmente se isso fosse acompanhado de mais diálogo.
Sinais positivos na economia e o fim da turbulência dentro da base governista ajudariam a presidente no desafio de mudar o quadro de pior popularidade de um presidente desde o ex-presidente Fernando Collor de Mello às vésperas do impeachment em 1992.
Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dois dias seguintes aos protestos de domingo, a avaliação ruim/péssima do governo disparou para 62 por cento em março, de forma generalizada por renda e regiões geográficas. No início de fevereiro, a avaliação ruim/péssima de Dilma estava em 44 por cento.
Ainda segundo a pesquisa, os que consideram o governo Dilma ótimo/bom caíram para apenas 13 por cento, contra 23 por cento no levantamento anterior. Em dezembro, esse índice chegava a 42 por cento.
As duas fontes avaliaram que para vencer parte da impopularidade o governo e, principalmente, Dilma precisam manter o "discurso humilde", reconhecendo erros quando houver e mostrando disposição a aceitar sugestões, o que até agora não era uma prática da gestão petista.
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