Zé Dirceu faturou R$ 29 milhões em consultoria, revela operação Lava Jato
A empresa do ex-ministro José Dirceu faturou 29,2 milhões de reais com a prestação de serviços de consultoria, de 2006, depois de deixar o governo Lula, a 2013, quando começou a cumprir pena pela condenação no julgamento do mensalão. O site de VEJA teve acesso a um documento da Receita Federal que analisou a movimentação financeira da empresa de Dirceu, a JD Assessoria. A quebra de sigilo foi determinada pela Justiça em janeiro, após indicativos de que empreiteiras citadas na Operação Lava Jato e que participaram do megaesquema de fraudes em contratos com a Petrobras repassaram dinheiro para o ex-ministro.
Só em 2013, ano em que começou a cumprir pena de prisão em regime semiaberto no Complexo Penitenciário da Papuda, a empresa de Dirceu faturou 4,159 milhões de reais. Ele foi para a cadeia em novembro daquele ano e ganhou o direito de progredir para o regime aberto cerca de um ano depois, em novembro de 2014.
De acordo com os dados apresentados pela Receita Federal e anexados ao processo que investiga o escândalo do petrolão, nenhum ano foi tão lucrativo para Dirceu quanto 2012: amealhou 7 milhões de reais. Foi neste ano que o ex-chefe da Casa Civil e homem-forte do governo Lula recebeu pena de dez anos e dez meses de prisão, depois revertida para sete anos e onze meses no mensalão. Em 2013, nova enxurrada de dinheiro para a JD Consultoria: foram 4,159 milhões de reais.
A movimentação financeira do ex-homem forte do governo Lula consta de dados requeridos pelos investigadores da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Agora, o juiz federal Sérgio Moro retirou o sigilo dos autos em que houve a quebra do sigilo fiscal e bancário de Dirceu. A decisão ocorreu depois que o empresário Gerson Almada, sócio da Engevix, prestou depoimento sobre Dirceu. Após revelar novos detalhes sobre o escândalo do petrolão, Almada pediu que Moro revogasse sua prisão.
Clientes - No rol de clientes de Dirceu há diversas empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, como as empreiteiras OAS, UTC, Engevix, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa, além da Egesa e de um braço da construtora Delta, banida da administração pública após a revelação de suas atividades em parceria com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Mas também há gigantes de outros setores, como a Ambev.
Ao analisar a movimentação financeira de José Dirceu e de sua consultoria, a Receita Federal também detectou o que classificou como "possível movimentação financeira incompatível". É o caso, por exemplo, da compra de um imóvel, em 2012, no valor de 1,6 milhão de reais em São Paulo. Dirceu informou ao Fisco ter pago 400.000 reais com recursos próprios, mas esse mesmo valor não circulou pela sua conta-corrente.
A quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex-ministro foi autorizada pela Justiça Federal após o Ministério Público, em parceria com a Receita Federal, ter feito uma varredura nas empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato em busca de possíveis crimes tributários praticados pelos administradores da OAS, Camargo Correa, UTC/Constran, Galvão Engenharia, Mendes Junior, Engevix e Odebrecht. Os investigadores já haviam concluído que as empreiteiras, que unidas em um cartel fraudaram contratos para a obtenção de obras da Petrobras, utilizavam empresas de fachada para dar ares de veracidade à movimentação milionária de recursos ilegais. Mas foi ao se debruçar sobre os lançamentos contábeis das empreiteiras, entre 2009 e 2013, que o Fisco encontrou o nome da consultoria de José Dirceu como destinatária de "expressivos valores" das empreiteiras Galvão Engenharia, OAS e UTC.
Defesa - Em resposta à justiça o advogado Juarez Cirino dos Santos, que defende José Dirceu, apresentou notas fiscais para tentar comprovar que os serviços de consultoria foram prestados. Ele informa, por exemplo, que ao contrário do que diz a Receita, não houve contratos com a Delta Engenharia e Montagem Industrial Ltda., e sim com a empresa Sigma Engenharia S/S Ltda., que teria comprado a companhia na época.
Clube do bilhão pagou R$ 8 milhões a José Dirceu
Envolvidas no petrolão, OAS, UTC, Engevix, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa estão na lista dos 50 clientes do ex-ministro mensaleiro
Cinco gigantes da construção civil desembolsaram, no período de 2006 a 2013, pelo menos 8 milhões de reais para a JD Consultoria, empresa do ex-ministro mensaleiro José Dirceu. Elas compõem o chamado clube do bilhão, conjunto formado pelas maiores empreiteiras do país para fraudar contratos com a Petrobras e distribuir propina a políticos e partidos. A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se a empresa do petista foi usada para receber recursos do propinoduto montado na petroleira.
Os dados foram reunidos pela Receita Federal após a Justiça ter autorizado a quebra dos sigilos bancário e fiscal do petista. Os valores são ainda maiores se somadas outras empreiteiras também citadas no escândalo do petrolão, como a Egesa, que transferiu sozinha 480.000 reais, e a Serveng, que liberou 432.000 reais para a JD.
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Saiba quem eram os clientes do 'consultor' José Dirceu
De acordo com documentos da Receita Federal, as empresas de construção foram generosas com os serviços de consultoria do ex-homem-forte do governo Lula: a OAS pagou quase 3 milhões de reais à empresa de Dirceu, com parcelas anuais de 360.000 reais. A UTC transferiu 2,3 milhões de reais. Engevix (1,1 milhão de reais), Galvão Engenharia (750.000 reais) e Camargo Corrêa (900.000) completam a lista de "clientes" da consultoria de José Dirceu.
Os investigadores suspeitam que os serviços de empresa de Dirceu, a despeito de a companhia ter anexado notas fiscais ao processo, são, na verdade, propina paga pelas construtoras. Foi essa suspeita, aliás, que motivou a juíza Gabriela Hardt a ter autorizado, em janeiro, a suspensão dos sigilos do mensaleiro e de sua empresa. As revelações de propina para os cofres de petistas têm ganhado corpo a cada delação premiada firmada com colaboradores da Justiça.
Depois de o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco ter estimado que o PT recebeu até 200 milhões de dólares em dinheiro sujo do esquema, o vice-presidente comercial da gigante Camargo Corrêa,Eduardo Leite, afirmou às autoridades que se encontrou pessoalmente com o tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto e que o petista cobrou sua fatia do suborno distribuído pela empreiteira em troca de facilidades em obras da Petrobras.
Farmacêutica - Embora as companhias do clube do bilhão apareçam como clientes assíduos dos serviços de Dirceu, a empresa que mais bem remunerou o ex-ministro da Casa Civil foi uma farmacêutica, que teve desempenho milagroso na era Lula e Dilma. A EMS, sediada em Hortolândia (SP) e com capital social declarado à Receita de 221,7 milhões de reais, gastou um total de 7,8 milhões de reais com o ex-ministro. A empresa liderou a venda de genéricos no período em que contratou a JD Consultoria. As investigações da Lava Jato indicam que a EMS teria se associado ao laboratório Labogen, empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, para a produção de 35 milhões de comprimidos de cloridrato de sildenafila (o Viagra), recomendado pelo Ministério da Saúde.
Outra farmacêutica que fez questão de manter o ex-ministro bem remunerado foi a Hypermarcas, do empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior. Apesar de a Receita ter detectado um contrato de apenas 20.000 reais com a JD, a Monte Cristalina, uma holding que administra os negócios de Júnior, desembolsou 1,590 milhão de reais em benefício do mensaleiro.
Na lista de clientes da "consultoria" de Dirceu, aparece ainda a Jamp Engenheiros Associados, uma empresa do lobista Milton Pascowitch, que foi alvo da nona fase da Lava Jato, batizada de My Way. O lobista pagou 1,457 milhão reais para Dirceu.
O consultor Dirceu
Na lista de clientes da consultoria de José Dirceu aparecem a YPY Participações e a ABCDEFGHI Participações. A primeira pagou 140 000 reais pelos trabalhos do ex-ministro; a segunda, 100 000 reais. A YPY é a holding das agências de Nizan Guanaes e a ABCDEFGHI está contida nela.
Por Lauro Jardim
Empresa | Valor |
---|---|
EMS SA | R$ 5.568.000,00 |
CONSTRUTORA OAS LTDA | R$ 2.441.150,00 |
CONSILUX CONSULTOR CONSTR ELETRICAS LTDA | R$ 2.390.000,00 |
247 INTELIGENCIA DIGITAL LTDA | R$ 1.937.000,00 |
SERVICOS LTDA | R$ 1.800.000,00 |
JAMP ENGENHEIROS ASSOCIADOS LTDA. | R$ 1.457.954,70 |
ENGEVIX ENGENHARIA SA | R$ 1.285.000,00 |
UTC ENGENHARIA SA | R$ 1.179.000,00 |
MONTE CRISTALINA LTDA | R$ 1.125.000,00 |
CONSTRUCOES E COMERCIO CAMARGO CORREA SA | R$ 1.110.000,00 |
COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMERICAS - AMBEV | R$ 1.090.000,00 |
EGESA ENGENHARIA S/A | R$ 820.000,00 |
GALVAO ENGENHARIA S.A. | R$ 700.000,00 |
ADNE ADMINISTRACAO E NEGOCIOS LTDA. | R$ 600.000,00 |
SPA ENGENHARIA IND E COM LTDA | R$ 490.000,00 |
ARBI RIO INCORPORACOES IMOBILIARIAS LTDA | R$ 480.000,00 |
LACERDA E FRANZE ADVOGADOS E ASSOCIADO | R$ 460.000,00 |
SOLVI PARTICIPACOES S A | R$ 448.000,00 |
SERVENG CIVILSAN SA EMP. ASSOCIADAS DE ENGENHARIA | R$ 432.000,00 |
COMAPI AGROPECUARIA S.A. | R$ 380.000,00 |
CARMO CONSULTORIA LTDA | R$ 320.000,00 |
VOX ENG DE INSTALACOES ELETRICAS E HID LTDA | R$ 300.000,00 |
ROCHA, MAIA & AYRES DA MOTTA ADVOGADOS | R$ 240.000,00 |
CREDENCIAL-COM.EQUIP.ELETRO-ELETR.LTDA-E | R$ 200.000,00 |
TESSELE & MADALENA, ADVOGADOS ASSOC. | R$ 179.400,00 |
BRASIL VIDRO PLANO INDUSTRIA E COMERCIO LTDA | R$ 160.000,00 |
PARMALAT BRASIL S/A IND. DE ALIMENTOS | R$ 150.000,00 |
YPY PARTICIPACOES S.A | R$ 140.000,00 |
CASA BRASIL EMPREENDIMENTOS CULTURAIS LTDA | R$ 130.000,00 |
SNS AUTOMOVEIS LTDA | R$ 130.000,00 |
ABCDEFGH PARTICIPACOES S.A | R$ 100.000,00 |
FORUM DAS AMERICAS | R$ 100.000,00 |
SERVICOS | R$ 100.000,00 |
SMK SERVICOS DE MARKETING LTDA | R$ 100.000,00 |
TMKT SERVICOS DE MARKETING LTDA | R$ 100.000,00 |
TELEMIDIA TECHNOLOGY I C SERV TECN LTDA | R$ 87.600,00 |
COMPANHIA ADMINISTRADORA DE EMPREENDIMENTOS E | R$ 80.000,00 |
DELTA ENGENHARIA E MONTAGEM INDUSTRIAL LTDA | R$ 80.000,00 |
EOLICA FAZENDA NOVA GERACAO E COM. DE ENERGIA LTDA | R$ 70.000,00 |
KMG EQUIPAMENTOS ELETRICOS LTDA | R$ 60.000,00 |
MIL MIX IND E COM DE PROD ALIMENT LTDA | R$ 60.000,00 |
EDITORA JB S/A | R$ 52.000,00 |
COMPANHIA ADMINISTRADORA DE EMPREENDIMENTOS E | R$ 40.000,00 |
JD ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA | R$ 25.000,00 |
BRASILINVEST EMPREENDIMENTOS E PARTICIPACOES SA | R$ 20.000,00 |
HYPERMARCAS S/A | R$ 20.000,00 |
SERPAL ENGENHARIA E CONSTRUTORA LTDA | R$ 20.000,00 |
No O GLOBO: Arrecadador de propina pagou R$ 1,46 milhão em consultoria para José Dirceu (Milton Pascowitch é acusado de receber entre 0,5% e 1% dos valores dos contratos com a Petrobras)
SÃO PAULO E CURITIBA - Citado em decisão do juiz Sérgio Moro como responsável por transferir dinheiro de propina para contas no exterior, Milton Pascowitch pagou R$ 1,46 milhão, por meio de sua empresa, a Jamp Engenheiros Associados, para a JD consultoria, de propriedade do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Gerson Almada, vice-presidente da Engevix e um dos empresários que permanecem presos em decorrência da Operação Lava-Jato, disse nesta terça-feira, em depoimento à Justiça Federal, que pagava de 0,5% a 1% para Pascowitch para obter facilidades no gerenciamento de contratos com a Petrobras.
Em despacho em que indiciou Pascowitch em dezembro do ano passado, o juiz Sérgio Moro afirmou que o dono da Jamp atuou como operador financeiro da Engevix efetuando transferências da offshore MJP International Group, nos Estados Unidos, para a conta da offshore Aquarius, mantida pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. Os pagamentos da Jamp para a empresa de Dirceu foram feitos duas vezes, nos anos de 2011 e 2012, e aparecem no relatório da Receita Federal enviado à Justiça como parte do inquérito que apura o envolvimento do ex-ministro na Lava-Jato.
Também nesta terça-feira, Almada disse que José Dirceu atuava como lobista em negócios no exterior. A afirmação foi feita quando o executivo foi perguntado sobre um contrato da Engevix com a JD Consultoria, da qual Dirceu é sócio.
Almada estava falando sobre o pagamento de um lobista para atuar em favor de contratos com a Petrobras, quando o representante do Ministério Público Federal pediu para que ele explicasse melhor um contrato firmado com a empresa do ex-ministro que, segundo Almada, custou entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Diante da pergunta se Dirceu “fazia uma espécie de lobby no exterior”, Almada afirmou:
— Exato.
A consultoria do ex-ministro da Casa Civil, a JD Assessoria e Consultoria, faturou R$ 29 milhões em serviços para mais de 50 empresa no período de nove anos. A informação faz parte do inquérito que investiga Dirceu na Operação Lava-Jato. O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, quebrou nesta terça-feira o sigilo sobre a investigação.
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