Dólar ajuda, mas vendas de soja no Brasil continuam atrasadas
Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A recente alta do dólar estimulou as vendas da soja da nova safra do Brasil, elevando expressivamente os preços em reais, mas ainda não foi capaz de reduzir o atraso da comercialização na comparação com os dois últimos anos, apontaram dados nesta sexta-feira.
A comercialização da safra 2014/15 de soja do Brasil chegou a 43 por cento do total esperado, informou a consultoria Safras & Mercado, ante 57 por cento no mesmo estágio da safra 2013/14 e 62 por cento em 2012/13.
A defasagem de 14 pontos percentuais ante um ano atrás vem se mantendo praticamente estável desde janeiro, pelo menos.
Analistas e produtores têm dito que os negócios estão mais difíceis este ano porque os agricultores, capitalizados por safras lucrativas nos anos recentes, estão esperando melhores preços na bolsa de Chicago.
A situação só não está mais lenta devido à desvalorização do real, que torna a conversão da moeda favorável aos exportadores brasileiros.
"Na semana, os volumes foram bons... Estava saindo bom volume no spot (mercado à vista), com o dólar realmente ajudando no preço em reais por saca", disse o operador João Schaffer, da corretora Agrinvest Commodities, de Curitiba.
Negócios foram fechados nesta sexta-feira no porto de Paranaguá a 71 reais por saca, ante 68 reais na semana passada, disse Schaffer.
A moeda norte-americana chegou a tocar máxima de 3,28 reais nesta sexta-feira e acumula alta de cerca de mais de 22 por cento em 2015.
O câmbio ajudou a evitar maiores problemas para os produtores brasileiros. Enquanto os preços da soja na bolsa de Chicago, em dólar, acumulam perdas de 32 por cento nos últimos 12 meses, os valores em reais caíram apenas 10 por cento, segundo cálculo da consultoria AGR Brasil.
Segundo o analista Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras, a comercialização da safra 2014/15 não conseguirá alcançar o ritmo de 2013/14 nos próximos meses, mesmo com a ajuda do dólar, porque na temporada passada as vendas começaram muito aceleradas, enquanto nesta, iniciaram bastante travadas.
"Na época da colheita do ano passado, as vendas se aceleraram muito. A velocidade do ano passado se baseou num preço mais alto de Chicago. Apesar de ter acelerado nesse último mês, não se conseguiu buscar essa diferença", disse o especialista.
Em Mato Grosso, principal Estado produtor, por exemplo, o total já comercializado chega a 58 por cento da safra estimada, contra 67 por cento no ano passado e 73 por cento da média.
Problemas climáticos em Goiás e Minas Gerais desaceleraram o ímpeto de vendas dos produtores, que se mostraram receosos em fechar negócios sem a certeza do volume a ser colhido, disse Roque.
A defasagem da comercialização em Goiás nesta safra na comparação com a anterior, por exemplo, subiu para 21 pontos percentuais em março, contra 12 em janeiro.
"O ritmo poderia ter aumentado mais, se não houvesse esses problemas", disse Roque.
Também nesta sexta-feira, a Safras reduziu sua projeção para a colheita de soja 2014/15 para 94,4 milhões de toneladas, aumento de 9 por cento sobre a safra anterior, mas abaixo da estimativa divulgada no final de janeiro, de 95 milhões de toneladas.
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