Dólar sobe pelo 4º dia seguido e fecha acima de R$ 3 (maior alta em 10 anos)
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu mais de 1 por cento pelo quarto dia consecutivo e encerrou acima de 3,01 reais nesta quinta-feira, ainda pressionado por incertezas sobre o ajuste fiscal e as intervenções do Banco Central no câmbio.
A moeda norte-americana subiu 1,03 por cento, a 3,0115 reais na venda, após chegar a 3,0231 reais na máxima e 2,9798 reais na mínima da sessão. Trata-se do maior nível de fechamento desde 13 de agosto de 2004, quando fechou a 3,021 reais.
Nos últimos quatro dias, o dólar acumulou alta de 5,44 por cento, levando a valorização no ano a 13,27 por cento.
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 2 bilhões de dólares.
"O mercado já está testando o nível de 3 reais desde ontem. Bateu, bateu e agora firmou", resumiu o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Investidores têm demonstrado preocupação com a possibilidade de o ajuste das contas públicas brasileiras não ser tão forte quanto o necessário, em meio a crescentes obstáculos políticos à implementação de cortes de gastos e aumentos de impostos.
Segundo analistas, as expectativas de uma política fiscal mais contracionista eram o único fator amortecendo a pressão exercida sobre o dólar pela deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros. A inflação deve superar 7 por cento no período mesmo com a provável contração da economia brasileira.
"Os problemas ainda são os mesmos. A tendência no curto, médio e longo prazos é dólar para cima", disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
A perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos, que poderia atrair para a maior economia do mundo recursos atualmente aplicados em países como o Brasil, também vem elevando as cotações do dólar globalmente. Investidores buscarão mais sinais sobre quando isso de fato acontecerá no relatório de emprego do governo norte-americano, que será divulgado na sexta-feira.
O movimento do dólar no Brasil também veio em linha com os mercados externos, onde o mercado europeu puxava uma apreciação generalizada da divisa. A moeda europeia reagia à declaração do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de que o BCE pode estender seu programa de compra de títulos para além de setembro de 2016, "se necessário", injetando mais euros no mercado global.
"O dólar subiu em todo o mundo, mas, como sempre, aqui foi pior", disse o operador de câmbio da corretora B&T Marcos Trabbold.
A pressão cambial tem levantado dúvidas sobre o futuro das intervenções do Banco Central no mercado, marcada para durar pelo menos até o fim deste mês. "Mesmo se os leilões forem acabar, é melhor isso do que ficar no escuro. Agora, há muita incerteza", disse o operador de uma corretora internacional.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas rações diárias. Foram vendidos 1.700 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 300 para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a 98,3 milhões de dólares.
O BC também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 14 por cento do lote total, que corresponde a 9,964 bilhões de dólares.
Na FOLHA: Câmbio ajuda exportações, mas traz custos (por Mauro Zafalon)
O dólar é um dos grandes sustentáculos dos preços das commodities para os brasileiros neste momento. Mesmo exportando volume menor e recebendo menos receitas em dólares, o volume financeiro em reais tem sido maior para alguns setores.
Mas, apesar de facilitar a vida do exportador e produtor, o agronegócio não deve focar apenas os benefícios da valorização da moeda norte-americana, segundo alguns dirigentes desse setor.
A alta do dólar -que torna os produtos brasileiros mais vantajosos no exterior e significa que um volume maior de reais será pago por eles- pode esconder custos internos que o mesmo dólar e os desacertos da economia trazem.
"Se simplesmente olhássemos para o dólar, o setor estaria rico em um momento como este", diz Francisco Turra, presidente-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
A verdade é que o importador também faz contas, dificulta as negociações e exige descontos, segundo Turra.
Na avaliação de Antonio Camardelli, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina), o dólar forte ajuda bastante.
Mas, para ele, "o dólar bom é o que não agrada a importador e exportador. O que todos reclamam dele". Cada mercado tem sua especificidade, e exportador e importador querem o melhor rendimento.
No caso da carne bovina, "estamos reformulando os pacotes de exportações, principalmente para os países da área cinzenta e que foram afetados pelo petróleo, como Rússia e Venezuela", diz.
Os mercados, de forma geral, exigem qualidade, o que tem elevado os custos de vários dos concorrentes do país.
Daí a busca das empresas brasileiras por mercados que paguem mais, como Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Indonésia, afirma Camardelli.
Tanto Turra como Camardelli estão confiantes com o cenário deste ano. Turra, do setor de frango e de suínos, aponta os dados favoráveis que o dólar pode trazer.
O volume de exportações de frango de fevereiro foi 1,6% superior ao de igual mês de 2014. Já as receitas caíram 6,7% em dólares no mesmo período. Com a valorização da moeda norte-americana, no entanto, as receitas subiram 10,3% em reais.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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