Encapuzados atacam motoristas parados em Santos e Porto é desbloqueado
O acesso ao porto de Santos, o maior da América Latina, foi desbloqueado ontem à noite pela polícia depois que grupos de encapuzados começaram a atacar os caminhões, abrindo seus compartimentos de carga e derramando os produtos ou retirando os compartimentos de carga. Pelo menos 10 caminhões foram danificados em cima do viaduto. A entrada do porto, na rodovia Anchieta (Alemoa) ficou bloqueado por quase doze horas nesta terça-feira (24) devido a manifestação de caminhoneiros e à ação de vândalos que incendiaram um veículos, danificaram outros e derrubaram carga na pista.
Segundo a PM, pelo menos sete pessoas foram presas após os ataques feitos a caminhoneiros.
Por volta das 10h da manhã os primeiros caminhões começaram a fazer bloqueios na rua de acesso aos terminais portuários que ficam na cidade de Santos. Não houve protestos nos acessos aos terminais do porto que ficam na cidade do Guarujá.
Às 14h30, o viaduto da Alemoa foi totalmente bloqueado nos dois sentidos. Isso fez com que a Rodovia Anchieta ficasse congestionada nos dois sentidos ao longo de toda tarde.
A PM foi chamada e tentou negociar com os manifestantes. Mas, segundo o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos, comandante do primeiro batalhão da Polícia Rodoviária Estadual, não havia uma liderança à frente do movimento.
"É uma minoria que está coagindo os caminhoneiros a parar e vandalizando os veículos", disse Santos.
A Folha conversou com alguns caminhoneiros que pediram para não ser identificados. Eles disseram que não foram avisados do movimento e que eram vítimas já que tiveram suas máquinas quebradas. A maioria temia o movimento.
Pelo rádio, os líderes do movimento avisavam a outros que queriam manter o bloqueio por pelo menos três dias.
A estimativa do Porto é que cerca de 10 mil caminhões por dia, em média, acessem o porto para pegar ou levar carga, principalmente conteineres.
Para seguir com a desinterdição da pista, os policiais usaram bombas de efeito moral e balas de borracha contra os manifestantes. Por volta das 20h30, foram disparados dezenas de bombas de efeito moral em frente a um terminal de combustíveis para dispersar manifestantes que tentavam impedir que os caminhões danificados fossem retirados das pistas por guinchos.
Por volta das 21h, quando a polícia conseguiu desinterditar o viaduto, um novo ataque ocorreu a cerca de um quilômetro do viaduto, na altura do quilômetro 64 da Anchieta.
Um caminhão da empresa Marimex, um dos terminais de armazenagem do porto, foi incendiado na pista central sentido Santos. Para combater o incêndio, os bombeiros tiveram que fechar as pistas centrais nos dois sentidos por pouco mais de uma hora.
Segundo a PM, um grupo de dez homens cercou o caminhão e dois deles encapuzados entraram no veículo para atear fogo. Não houve feridos.
Mesmo após a desinterdição das pistas, os caminhoneiros ainda estavam temerosos de serem atacados se fossem em direção ao porto, o que manteve a Anchieta engarrafada até o início da madrugada. A PM reforçou o policiamento na Anchieta para tentar evitar novos ataques a motoristas ao longo da madrugada.
Prioridade
Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Katia Abreu (Agricultura) e José Eduardo Cardozo se reuniram nesta terça à noite com expoentes do setor agropecuário para discutir acordo que interrompa o bloqueio de estradas por caminhoneiros.
JBS paralisa 8 unidades de carnes devido a bloqueios de estradas
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS informou nesta terça-feira que vai parar oito unidades de carnes devido ao bloqueio de estradas por caminhoneiros, que afeta a entrega de ração para as criações e também de insumos industriais, como embalagens.
A empresa disse que até o fim do dia estarão suspensas as atividades de unidades em Campo Mourão (PR), Sidrolância (MS), Seara (SC), São Miguel do Oeste (SC), Ana Rech (RS) e Jaguapitã (PR) e de duas unidades de Itapiranga (SC).
Duas delas são de carne suína (Seara e Ana Rech) e as demais de carne de frango. A empresa não informou sobre quanto tempo as unidades ficarão fechadas.
Greve dos caminhoneiros chega a 11 Estados
Quase uma semana após ter começado na região Sul, o protesto dos caminhoneiros já provoca bloqueios em ao menos 11 Estados, afetando produção de alimentos, exportações e abastecimento de combustíveis.
Ainda sem liderança conhecida, os movimentos pedem redução no preço do diesel e do pedágio, tabelamento dos frentes e a sanção, por parte da presidente Dilma Rousseff, de mudanças na legislação que flexibilizam a jornada de trabalho.
O governo marcou uma reunião para hoje no Palácio do Planalto, para discutir com caminhoneiros e empresas de transporte.
O movimento ganhou a adesão também na Bahia, Ceará, Pará em São Paulo.
Caminhoneiros do Espírito Santo podem aderir à paralisação nesta quarta.
Nem mesmo decisões da Justiça Federal no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, obrigando a liberação das rodovias, surgiram efeito.
No Rio Grande do Sul, a Justiça determinou multa de R$ 5.000 por dia aos caminhoneiros que não deixarem as rodovias, mas a categoria decidiu manter a greve.
Em Palmeira das Missões (RS), agentes da Polícia Federal chegaram a tentar notificar os caminhoneiros, mas foram ignorados.
Responsáveis, em média, por 58% do transporte de mercadorias no país, segundo o Ministério dos Transportes, os caminhões têm participação ainda mais alta em setores como o de grãos.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, 65% do transporte da soja no país foi por esse meio em 2013.
No porto de Paranaguá (PR), por exemplo, o segundo maior exportador brasileiro, o movimento está abaixo do normal por causa da paralisação.
O escoamento da soja, em plena safra, está prejudicado. Neste terça, dos 925 caminhões previstos, apenas 67 chegaram.
Segundo a direção do porto, mesmo com o fim do movimento, deverá haver lentidão no escoamento da soja.
No Paraná e em Santa Catarina, a JBS decidiu paralisar oito unidades de produção de aves e suínos. O principal problema é a interrupção no fornecimento de grãos para a alimentação dos animais e de insumos, como embalagens.
Leite é derramado, bichos passam fome e soja encarece
Os efeitos do movimento de caminhoneiros chegaram à Bolsa de Mercadorias de Chicago nesta terça (25).
Com as notícias de que o escoamento da safra pode ser afetado, os contratos futuros de soja para maio subiram ao maior preço em seis semanas.
Embora tenham recuado um pouco, os contratos fecharam com alta de 1,7%.
No Brasil, a paralisação provoca interrupção na produção da indústria, falta de combustíveis, hortifrútis e ração para suínos e aves, principalmente na região Sul, epicentro do movimento.
Com a falta de combustível, filas de até 500 metros foram registradas em postos de Loanda, cidade de 22.448 habitantes no norte do Paraná.
Nos postos da cidade, o preço médio do litro da gasolina é de R$ 3,57.
Faltou verdura e leite fresco em supermercados de Maringá, enquanto milhares de litros de leite estão sendo jogados fora em Arapongas (379 km de Curitiba).
Parado na rodovia há mais de 48 horas, Valdir Melo, 52, via resignado parte dos 34 mil litros de leite que leva em sua carreta vazar para o asfalto. Melo fez um levantamento informal junto aos colegas e calculou que há mais de 300 mil litros de leite parados em Arapongas.
SEM RAÇÃO
Em Santa Catarina, o estoque dos alimentos de porcos e aves está praticamente no fim. "Os animais estão em sofrimento alimentar e, sem comida, começam a se morder", afirmou Ricardo Gouvêia, diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina.
Até o fim da tarde de terça-feira (24), os 2.000 porcos do produtor Diego Schoelier, que ficam em Joaçaba e Itapiranga, ambos em SC, estavam sem comida havia 36 horas.
O produtor Losivanio Luiz de Florenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, disse que as propriedades rurais já correm risco sanitário.
"Não sabemos por mais quantos dias os animais irão sobreviver", afirmou.
ANALISE DE VINICIUS TORRES FREIRE, DA FOLHA:
Na boleia da crise do caminhão
Vida dura e queda do preço do frete devido a mudanças econômicas explicam revolta caminhoneira
O AUMENTO recente do preço do diesel parece ter detonado a onda de protestos dos caminhoneiros, mas foi a gota d'água em um mar de problemas que, parece incrível, em parte resultou da soluções de ineficiências. Mas até a crise econômica mundial e o superinvestimento em capital influenciaram a piora das condições de trabalho dos caminhoneiros, sujeitos de resto a abusos medievais. Não é improvável que a política e o clima de protestos antigoverno tenha cutucado a revolta ali e aqui, como insinuam associações da categoria, como o fez ontem a União Nacional dos Caminhoneiros.
O preço do frete caiu, em algumas regiões em até 25%, pelo menos desde o final do ano passado, embora as estatísticas sejam precárias e os números variem de acordo com situações muito específicas e regiões.
Mas o preço do frete vem caindo de modo mais regular devido, ao que parece, a três fatores:
1) Aumento da oferta de caminhões, provocada pela melhora das condições de financiamento, pelo BNDES em especial. Juros menores e a redução de impostos (IPI) teriam até provocado uma bolhazinha, com gente que não é do ramo entrando no negócio;
2) Organização melhor do acesso aos portos, com a redução brutal das filas de caminhões;
3) Aumento da capacidade de estocar grãos, resultado do aumento da renda dos agricultores e, outra vez, da melhora das condições de financiamento de capital agrícola.
Até 2013, mesmo a gente das cidades grandes tinha notícia das filas imensas que, em período de despacho das safras, se formavam na reta final das estradas que vão dar nos portos, em especial em Santos (SP) e Paranaguá (PR).
O governo contribuiu para criar um sistema de agendamento eletrônico de descargas que, enfim, reduziu o tempo de espera em até 40%, no pico da safra. O aumento da eficiência reduziu a demanda de caminhões de carga, antes desperdiçados nas filas imensas. O preço do frete começou a cair, no início de 2014; cai agora ainda mais.
Trata-se de "evidências anedóticas", como dizem economistas, resultado de relatos de empresários e líderes de caminhoneiros, baseadas em algumas estatísticas esparsas e recentes. Nalgumas conversas também se diz que a queda do preço das commodities, tendência global desde o final de 2013, teria levado os produtores a regatear o frete. Essa hipótese parece mais controversa.
Os caminhoneiros reconhecem que o governo baixou medidas que melhoram as condições de vida da categoria (redução de pedágio, redução de Imposto de Renda, juros menores para a compra de caminhões etc.). Mas várias delas ficaram no papel, entre elas o fim da "carta frete", um modo de pagamento primitivo dos caminhoneiros.
Trata-se de uma ordem de pagamento por meio do qual o transportador autônomo recebe pelo serviço, no entanto um papel que só pode ser trocado em alguns postos, o que submete esses trabalhadores a um regime revoltante de barracão (consumir seu rendimento em locais determinados pelo empregador).
Pelos dados mais recentes, há mais de 1 milhão de transportadores rodoviários de cargas, mais de 860 mil deles autônomos. Carregam literalmente o país nas costas. Se quiserem, podem causar congestão e infarto da economia.
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