Em VEJA: As conversas impróprias do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo

Publicado em 13/02/2015 13:35 e atualizado em 14/02/2015 08:40
Na VEJA desta semana

As conversas impróprias do ministro da Justiça

Na VEJA:


Desde a morte do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos no ano passado, o PT perdeu seu grande estrategista em momentos de crise. Chamado carinhosamente de “God” (Deus, em inglês) pelos amigos, o onipresente MTB foi convocado para coordenar a defesa das empreiteiras tão logo deflagrada a Operação Lava-Jato. Ele tinha uma meta clara: livrar seus clientes de penas pesadas na Justiça e, de quebra, o governo petista da acusação de patrocinar um novo esquema de corrupção para remunerar sua base aliada no Congresso.

Negociador nato, Thomaz Bastos se dedicava a convencer o Ministério Público Federal de que a roubalheira na Petrobras não passava de um cartel entre empresas — e que, como tal, deveria ser punido e superado com o pagamento de uma multa bilionária. Nada além disso. A morte tirou o criminalista cerebral da mesa de negociação. MTB deixou um vácuo. O governo perdeu sua ponte preferencial com as empreiteiras, o diálogo entre as partes foi interrompido, e as ameaças passaram a dominar as conversas reservadas. Foi nesse clima de ebulição que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assumiu o papel de bombeiro. Ex-deputado pelo PT e candidato há anos a uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cardozo se lançou numa ofensiva para acalmar as construtoras acusadas de envolvimento no petrolão, que, conforme VEJA revelou, ameaçam implicar a presidente Dilma Rousseff e o antecessor Lula no caso se não forem socorridas. Há duas semanas, o ministro recebeu em seu gabinete, em Brasília, o advogado Sérgio Renault, defensor da UTC, que estava acompanhado do ex-deputado petista Sigmaringa Seixas.

O relato da conversa percorreu os gabinetes de Brasília e os escritórios de advocacia como um sopro de esperança para políticos e empresários acusados de se beneficiar do dinheiro desviado da Petrobras. Não sem razão. Na reunião, que não constou da agenda oficial, Cardozo disse a Renault que a Operação Lava-Jato mudaria de rumo radicalmente, aliviando as agruras dos suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. O ministro afirmou ainda que as investigações do caso envolveriam nomes de oposicionistas, o que, segundo a tradição da política nacional, facilitaria a costura de um acordo para que todos se safem. Depois disso, Cardozo fez algumas considerações sobre os próximos passos e, concluindo, desaconselhou a UTC a fechar um acordo de delação premiada. Era tudo o que os outros convivas queriam ouvir. Para defender a UTC, segundo documentos apreendidos pela polícia, o escritório de Renault receberá 2 milhões de reais. Além disso, se conseguir anular as provas e as delações premiadas que complicam a vida de seu cliente, amealharia mais 1,5 milhão de reais. Renault esgrime a tese de que a Lava-jato está apinhada de irregularidades, como a coação de investigados. No encontro, Cardozo disse o mesmo ao advogado, ecoando uma análise jurídica repetida como mantra pelos líderes petistas.

Depois da reunião no ministério, representantes de UTC e Camargo Corrêa recuaram nas conversas com o Ministério Público para um acordo de delação premiada. A OAS manteve-se distante da mesa de negociação. “Na quarta-feira (um dia depois do encontro em Brasília), fomos orientados a suspender as conversas com os procuradores”, confidencia um dos advogados do caso. Cardozo não operou esse milagre sozinho. “Chegou o recado de que o Lula entrará para valer no caso e assumirá a linha de frente. Isso aumentou a esperança de que o governo não deixe as empresas na mão”, diz outro advogado de uma empreiteira.

Procurados por VEJA, Cardozo, Renault e Sigmaringa tropeçaram nas próprias contradições ao tentar esclarecer a reunião no Ministério da Justiça, classificada por eles como um mero bate-papo entre amigos sobre assuntos banais. Cardozo disse inicialmente que não se reuniu com Renault. Depois, admitiu o encontro. A primeira reação de Sigmaringa também foi  negar a audiência com Renault no gabinete do ministro, para, em seguida, recuar. Os amigos compartilham, como se vê, do mesmo problema de memória. Na versão de Cardozo, a reunião teria sido obra do acaso. Sigmaringa, um “amigo de longa data”, teria ido visitá-lo. Renault, que estava em Brasília e tinha um almoço marcado com o ex-deputado, decidiu se encontrar com Sigmaringa também no ministério. Pimba! Por uma conjunção cósmica, o advogado da UTC, empresa investigada pela Polícia Federal, acabou no gabinete de José Eduardo Cardozo.

Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no tablet, no iPhone ou nas bancas.

 

Empreiteiro confirma que pagamento de 'consultoria' para Dirceu era propina do petrolão

Preso há três meses, o engenheiro Gerson Almada, presidente da Engevix, disse que a empresa sempre foi obrigada a pagar propina ao ex-ministro

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu,   condenado no processo do mensão, É visto   saindo do Centro de Progressão Penitenciária   (CPP), em Brasília, rumo ao seu trabalho em um escritório de advocacia

O ex-ministro José Dirceu: mais uma vez no centro de um escândalo de corrupção (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Depois da divulgação do depoimento do doleiro Alberto Youssef à Justiça, nesta quinta-feira, o ex-ministro José Dirceu recorreu à sua resposta padrão para negar envolvimento no maior propinoduto da história deste país: há dez anos, desde que o mensalão veio a público, o petista "repudia com veemência" qualquer acusação. Segundo Youssef, Dirceu mantinha uma estreita relação com o empresário Julio Camargo, da Toyo Setal, um dos operadores dos desvios de recursos da Petrobras para o bolso de políticos e partidos. Na "contabilidade ilícita" de Camargo, o dinheiro destinado ao petista aparecia sob a sigla "Bob", uma possível referência a Bob Marques, seu assessor e carregador de malas há anos. Dirceu não foi o único a reagir prontamente ontem. A advogada Beatriz Catta Preta, que defende Julio Camargo, classificou como “absurdas” as declarações do doleiro.

Em sua edição desta semana, contudo, VEJA mostra que os indícios de que Dirceu se beneficiou do dinheiro desviado da Petrobras não se encontram apenas no depoimento de Youssef. Diz a reportagem O Consultor do Esquema​, de Rodrigo Rangel e Alexandre Hisayasu:

"A presença do ex-ministro no caso Petrobras já tinha sido captada no radar dos investigadores diante de uma estranha coincidência: as empreiteiras envolvidas tinham a JD Consultoria, a empresa de Dirceu, como cliente. Contratos milionários por serviços vagos ou inexistentes. Além das empreiteiras, há cervejarias, fabricante de remédio e até consultorias – sim, o consultor Dirceu, de tão competente que era, recebia pagamentos até de outras empresas com atuação no mesmo ramo que ele. Há casos de clientes que, em um curto espaço de tempo, transferiram 4 milhões de reais para as contas da consultoria de Dirceu. O auge do faturamento foi no ano eleitoral de 2010. O que será que um consultor – advogado que mal exerceu a profissão, político formado sob ideais anacrônicos de Fidel Castro e condenado por corrupção – pode oferecer de tão valioso às maiores empresas brasileiras?

A resposta vem justamente de um dois contratantes. O engenheiro Gerson Almada, presidente da Engevix, uma das empreiteiras envolvidas com os desvios na Petrobras está presos há três meses. A pessoas próximas, ele disse que a empresa sempre foi obrigada a pagar propina ao ex-ministro José Dirceu, em troca dos contratos que a empreiteira firmou com a Petrobras e também para garantir a influência do ex-ministro para os contratos futuros.

A Engevix é uma das construtoras que figura na lista de clientes da JD Consultoria. Almada confirmou a esses interlocutores que as “consultorias” eram uma forma de lavar o dinheiro da propina paga ao petista."

 

Costa, Cardozo e a sem-vergonhice institucionalizada

Paulo Roberto Costa disse em depoimento que não foi o único diretor da Petrobras a receber propina. Taí uma coisa em que acredito. De resto, isso já está dado, não é? Todos sabemos que há outros. E eu vou mais longe, e é este o ponto que me interessa: que razão haveria para o esquema vigorar apenas na Petrobras? Não se está diante de um desvio, mas de um método.

O que me incomoda na tese do Ministério Público Federal, que sustenta a formação de cartel de empreiteiras? A suposição de que elas decidiram se unir para fraudar contratos com a Petrobras. Não! O que se viu na estatal é um modelo de relação do estado com o setor privado. E quem dá as cartas e tem o monopólio da aplicação da lei é esse estado.

Isso tem história e até resquícios de teoria política. Não duvidem de que existem alguns “magos” do pensamento que acham que é assim mesmo que se faz: eles estariam apenas usando de algumas fissuras morais do “sistema” para poder implementar a sua nova ética. Coisa, em suma, de canalhas. E, claro, em meio aos ladrões que se ancoram numa, vá lá, ideologia, há os batedores de carteira de sempre, já que a bandidagem sabe reconhecer os seus iguais, ainda que estes aleguem outros propósitos.

Reportagem da mais recente edição da VEJA, que já está nas bancas (leia post anterior), demonstra que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça,  começou a se mexer nos bastidores para garantir às empreiteiras que tudo se acalma a partir do Carnaval. E essa garantia foi dada muito especialmente ao advogado Sérgio Renault, defensor da UTC.

O dono da UTC é Ricardo Pessoa, acusado de ser o coordenador de um certo  “Clube das Empreiteiras”. É amigo pessoal de Lula e considera que foi jogado às cobras. Num manuscrito, deixou claro que a natureza do jogo é mesmo a política e sugeriu que as empreiteiras investigadas foram francas colaboradoras da campanha de reeleição de Dilma.

A promessa de paz
Nos bastidores, corredores e porões de Brasília, afirma-se que, depois do Carnaval, sai a lista dos políticos. Segundo essa versão, passada adiante também por Cardozo (como é que ele sabe?), alguns nomes graúdos da oposição apareceriam envolvidos na lambança. Isso criaria a união necessária para que todos tentem se salvar, não fazendo virar o barco. Na conversa com Renault, Cardozo entendeu que Pessoa não está disposto a servir de boi de piranha.

O ministro da Justiça também saiu agora a botar sob suspeição a investigação, indagando por que ela não abarca os anos FHC, já que pelo menos um delator premiado, Pedro Barusco, afirma ter começado a receber propina em 1997. Bem, é possível que sim. Mas vamos ver: Barusco era um quadro técnico. Em boa parte dos países, quando as empresas decidem comprar almas, procuraram esses cargos intermediários. Parece que foi o que aconteceu com o tal gerente, lá nas priscas eras. No Brasil, em razão do modelo — essa estrovenga que chamam “presidencialismo de coalizão” —, os políticos é que têm a primazia.

Notem: não serei eu a criminalizar a política. Cardozo tem todo o direito de achar que a presidente é inocente ou que defensores do impeachment padecem de “problema psicológico”. Articular, no entanto, uma linha de defesa, envolvendo os réus, bem, aí já é a esculhambação completa.

Mas eu não esperava dele nada diferente. Ninguém recebe o carinhoso apelido de um dos “Três Porquinhos”, como Dilma o chamou (os outros eram Antonio Palocci e José Eduardo Dutra), porque goste, vamos dizer, de ambientes assépticos.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
veja.com

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3 comentários

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Luiz Inácio Adams, advogado geral da união, virou advogado das empresas e empreiteiros – organizações criminosas - do petrolão. Obediente, obedeceu à ordem de Lula, salvar as empresas, que continuarão com o direito de botar a mão em dinheiro público, mesmo com seus donos ou controladores na cadeia. As “empresas”, que liquidaram a concorrência honesta, que destruíram os mais capazes – incapazes de roubar -, fundadas e mantidas com produto de roubo, continuarão a funcionar. É a cara do Lula, com a máscara do Adams.

    Tempos atrás, um garoto aqui da cidade roubou um óculos caro de um cara que estava acompanhado de mais dois. Apanhou tanto a ponto de ficar três meses hospitalizado. Pegou 3 anos de cadeia.

    Estou defendendo o drogadito? Não, não estou, estou pensando onde está o senso de proporções?

    “Autoridades”, façam o que fizerem, não apanham nem vão para a cadeia. Sem justiça, qual a saída?

    Para terminar, lembrei do “Lixinho”, viciado em crack, rouba porcarias para comprar as pedras que vem da Bolivia. E por isso sofreu um “afogamento” no lugar onde é jogado o esgoto! O Lixinho tem muito mais motivos para largar o vicio de que Luis Inácio, vicio de chamar organizações criminosas, pelo nome de “empresas”,... os terroristas narcotraficantes das FARC de “combatentes”,...

    Como observação, digo por último, que o Lixinho fica em pé se equilibrando, destruído que está pela droga. Mas essa droga não é problema do governo, não é mesmo? O problema do governo é com organizações religiosas, que tiram centenas de pessoas da degradação do vicio, essas organizações o governo quer fechar.

    Empresas que são verdadeiras organizações criminosas, produto de roubo e falcatruas, o governo quer preservar!!

    Faz todo sentido, principalmente quando lembro das lideranças do “agro”, Kátia Abreu, Blairo Maggi, sim, esses não poderiam estar em companhia mais adequada.

    http://veja.abril.com.br/multimidia/video/folia-tcu-e-planalto-jogam-juntos-para-furar-a-lava-jato

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Perceba como procederão para salvar a quem interessar possa...

    Luís Inácio corre para salvar Luiz Inácio.... e a Dilma. Veja como:

    Agora ficou claro por que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse a um advogado de empreiteira, em reunião secreta, que a Operação Lava Jato "tomaria outro rumo" depois do carnaval e, portanto, ele "desaconselhava" que os executivos presos partissem para a delação premiada.

    Em conluio com Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, dirigiu-se ao Tribunal de Contas da União (TCU), com uma Instrução Normativa redigida no Palácio do Planalto. Por essa Instrução Normativa, aprovada em tempo recorde, o TCU analisará concomitantemente com a Controladoria-Geral da União (CGU) os acordos de leniência firmados com o Estado. Isso garante que os acordos feitos no âmbito da CGU não correrão o risco de serem anulados depois pelo tribunal -- mesmo com um TCU dominado por PT e PMDB, as empreiteiras temiam essa possibilidade quando lhes propunham tal saída.

    A aprovação da Instrução Normativa é ótima para Lula, Dilma e os larápios associados porque:

    a) Acordos de leniência podem ser feitos diretamente com a CGU, sem passarem pela Justiça

    b) Dessa forma, contorna-se o juiz Sergio Moro

    c) Pelos termos de um acordo de leniência, as empresas reconhecem que praticaram os crimes, pagam uma multa e não são consideradas inidôneas. Podem continuar a assinar contratos com o governo em qualquer nível

    d) Ao contrário do que ocorre com a delação premiada, elas não precisam contar tudo. Ou seja, que Lula e Dilma estão implicados até o pescoço no esquema do Petrolão

    e) A chance de Dilma sofrer impeachment reduz-se dramaticamente, visto que será quase impossível imputar-lhe o crime de responsabilidade

    f) Sem o perigo de falência, as empreiteiras podem dar um grande cala-a-boca ou um aguenta-aí-até-chegar-no-STF aos executivos presos e aos seus sócios em cana, como Ricardo Pessoa, da UTC, que ameaçavam seguir o caminho da delação premiada. A ameaça de Ricardo Pessoa de partir para a delação foi decisiva para o Planalto armar rapidamente o golpe

    Luís Inácio Adams percorreu freneticamente os gabinetes dos ministros do TCU, acompanhado do ministro Bruno Dantas, para aprovar uma Instrução Normativa, repita-se, redigida no Palácio do Planalto, e não pelo ministro Bruno Dantas, como foi noticiado. Ninguém levantou a menor objeção.

    A menos que um executivo preso ache insuportável a ideia de passar anos na cadeia, ainda que com o seu futuro assegurado economicamente, ou que a sociedade esboce reação, Luís Inácio salvou Luiz Inácio -- e Dilma.

    http://www.oantagonista.com/posts/luis-inacio-corre-para-salvar-luiz-inacio

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Pois é meus amigos, toda a podridão está resumida nessa frase: “ O ministro afirmou ainda que as investigações do caso envolveriam nomes de oposicionistas, o que, segundo a tradição da política nacional, facilitaria a costura de um acordo para que todos se safem. Depois disso, Cardozo fez algumas considerações sobre os próximos passos e, concluindo, desaconselhou a UTC a fechar um acordo de delação premiada”. Agora é que saberemos se os 51 milhões de Brasileiros que votaram em Aécio continuarão a ser pisados pelo bando ordinário de criminosos. A desfaçatez desse Sr. em afirmar que a oposição protegerá os criminosos de seus partidos, e defenderá a impunidade dos seus, mediante a impunidade do PT, PP e PMDB, prova que esse mesmo Sr. não tem o mínimo preparo e condição para ser nem lixeiro do ministério da Justiça. Não adianta, porquinho da Dilma, vocês não conseguiram e não conseguirão implantar seu projeto criminoso de poder. Isso mesmo Lula, assuma a linha de frente, o posto de comando que é seu de direito, na proteção aos criminosos.

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