Dólar sobe quase 3% ante real, reverte perdas do ano e fecha janeiro em alta
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou com a maior alta desde setembro de 2011 nesta sexta-feira, aproximando-se 2,70 reais e anulando completamente as perdas vistas em janeiro para encerrar o mês com avanço, em reação a declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicando que não há intenção do governo de manter a moeda brasileira valorizada artificialmente.
O dólar avançou 2,96 por cento, a 2,6894 reais na venda, após chegar a 2,6919 reais na máxima da sessão (+3,06 por cento). Em janeiro, a divisa acumulou alta de 1,15 por cento.
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1 bilhão de dólares.
O movimento desta sessão também refletiu o crescimento decepcionante dos Estados Unidos no quarto trimestre e fluxos de saída de investidores estrangeiros, após a agência de classificação de risco Moody's rebaixar os ratings da Petrobras.
Levy sugeriu em palestra a empresários e investidores nesta manhã que ainda via o câmbio atual como sobrevalorizado e que não há intenção de manter o real valorizado artificialmente. Mais tarde, a assessoria de imprensa do ministro procurou a imprensa para afirmar que o ministro estava falando sobre o câmbio no mundo.
"O governo está revertendo medidas de intervenção em vários campos. Se o Levy menciona o dólar, dá a entender que o governo também vai ser mais passivo em relação ao câmbio", disse mais cedo o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.
O BC vem atuando diariamente no câmbio desde agosto de 2013 para limitar a volatilidade e oferecer proteção cambial. Na avaliação de alguns analistas, a intervenção gerou distorções na taxa de câmbio, com economistas do Bank of America Merrill Lynch estimando o "valor justo" do dólar em 3,1 reais em relatório divulgado nesta manhã.
A autoridade monetária reduziu o ímpeto das intervenções duas vezes, a mais recente no fim do ano passado. Sob o atual formato, o programa durará pelo menos até 31 de março com ofertas de 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares.
Segundo analistas, apesar das declarações de Levy, o dólar deve se assentar na próxima semana, uma vez que a perspectiva de liquidez abundante nos mercados globais e rigor fiscal no Brasil ainda pintam um quadro favorável ao real no curto prazo.
"Mas, agora, o mercado está com a pulga atrás da orelha. O assunto dos swaps voltou à pauta", disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater.
Nesta manhã, o BC vendeu integralmente a ração diária, colocando o equivalente a 99,0 milhões de dólares em swaps. Todos os contratos vendidos vencem em 1º de setembro. A autoridade monetária também ofertou contratos para 1º de dezembro, mas não vendeu nenhum.
Mas a autoridade monetária ainda não anunciou o início da rolagem de swaps que vencem em 2 de março, que equivalem a 10,438 bilhões de dólares. O BC vem fazendo rolagens praticamente integrais nos últimos quatro meses.
"Não bastassem as declarações do Levy e a questão da Petrobras, o humor azedou bastante lá fora depois que o crescimento dos Estados Unidos veio abaixo do esperado", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
A economia norte-americana desacelerou com força no quarto trimestre de 2014, crescendo 2,6 por cento, em ritmo anualizado, no período. Economistas consultados em pesquisa da Reuters esperavam expansão de 3,0 por cento.
O dólar avançou desde o início dos negócios, após a Moody's rebaixar todos os ratings da Petrobras na noite de quinta-feira, mantendo-os em revisão para rebaixamento adicional, o que pode afugentar investidores estrangeiros.
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