BC diz que avanços no combate à inflação ainda não são suficientes
Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - Os avanços no combate à inflação ainda não foram suficientes, apesar de o cenário de convergência da inflação para o centro da meta em 2016 ter se fortalecido, avaliou o Banco Central nesta quinta-feira, ao mesmo tempo em que piorou sua visão sobre o aumento de preços neste ano.
Por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC elevou muito sua estimativa da alta dos preços administrados em 2015, para 9,3 por cento ante os 6 por cento calculados antes, um dos principais fatores de pressão da inflação.
"O Copom avalia que o cenário de convergência da inflação para 4,5 por cento em 2016 tem se fortalecido", trouxe a ata. "Contudo, os avanços alcançados no combate à inflação --a exemplo de sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo-- ainda não se mostram suficientes."
Na semana passada, o Copom manteve o ritmo e elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 12,25 por cento ao ano, para tentar domar a inflação e deixou a porta aberta sobre o ritmo de aperto que adotaria dali para frente.
No fim de outubro, o Copom deu início ao atual ciclo de aperto monetário ao subir a Selic em 0,25 ponto percentual, em decisão surpreendente e que não contou com o apoio de todos os membros do comitê. No encontro de dezembro, acelerou o passo e puxou a taxa em 0,5 ponto percentual.
"Vai ter novo aumento (da Selic)? Vai. Agora, a magnitude do novo aumento vai depender do cenário de cada economista", disse o tesoureiro-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, para quem o juros será elevado em 0,25 ponto percentual em março, quando o Copom reúne-se novamente.
"Ele (BC) fez questão de alternar entre algumas sinalizações mais 'dovish' e outras mais 'hawkish'", completou, referindo-se à menção, entre outros, feita pelo BC de que houve avanços no combate à inflação mas não suficientes.
De modo geral, parte dos especialistas ainda acredita que o BC deixou a porta aberta sobre seus próximos passos na condução da política monetária. No mercado de juros futuros, esse também era o sentimento nesta sessão.
O BC vinha prometendo fazer "o que for necessário" para diminuir a alta dos preços, diante de uma inflação que continua elevada e rondando o teto da meta oficial --de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
Pela última pesquisa Focus do BC com economistas, a mediana das expectativas era de que a Selic iria a 12,50 por cento neste ano, mas o Top 5 --com instituições financeiras que mais acertam as projeções-- via a taxa de juros indo a 13 por cento.
Na ata, a autoridade monetária voltou a repetir que a inflação encontra-se em patamares elevados, em parte, por conta dos preços administrados e do câmbio. E, desde a última reunião do Copom, em dezembro, "a intensificação desses ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável".
Por isso, o BC reafirmou que não descarta aumento da inflação no curto prazo, com tendência de ela permanecer elevada em 2015. "Porém, ainda este ano entra em longo período de declínio", disse o BC, repetindo que a política monetária deve continuar "especialmente vigilante".
O BC piorou, sem mostrar projeções numéricas, sua expectativa de inflação neste ano pelo cenário de referência (Selic a 11,75 por cento e dólar a 2,65 reais), permanecendo acima do centro da meta. Para 2016, ela permaneceu "relativamente estável", também acima da meta.
Neste contexto, o BC elevou em muito suas contas sobre a alta dos preços administrados neste ano, levando em consideração a hipótese de elevação de 8 por cento no preço da gasolina --sobretudo pela incidência da Cide e do PIS/COFINS-- e de 27,6 por cento nos preços da energia elétrica, "devido ao repasse às tarifas do custo de operações de financiamento, contratadas em 2014, da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE)".
Sobre a recente queda nos preços do petróleo, o BC informou que "independentemente do comportamento dos preços domésticos da gasolina", a evolução dos preços internacionais tende a se refletir no país por meio das cadeias produtivas e das expectativas de inflação.
FISCAL
As medidas tributárias recentemente anunciadas pela nova equipe econômica devem pressionar ainda mais os preços no curto prazo, com analistas prevendo agora que, em 2015, a inflação vai estourar o teto da meta.
Mas, mesmo assim, essas ações estão sendo bem recebidas porque buscam arrumar as contas públicas do país e resgatar a confiança dos agentes econômicos. A expectativa do mercado é que se o governo cumprir a meta de superávit primário de 1,2 por cento do PIB neste ano, a necessidade de alta de juros para controlar a inflação será menor.
Pela ata do Copom, o BC voltou a informar que, "no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade, e não descarta a hipótese de migração para a zona de contenção".
(Reportagem adicional de Bruno Federowski)
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