Balanço da Petrobras frustra analistas e dúvidas sobre empresa persistem
Por Priscila Jordão
SÃO PAULO (Reuters) - A ausência de baixas contábeis no balanço trimestral da Petrobras relacionadas às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato da Polícia Federal decepcionou analistas e investidores, que continuam sem uma orientação clara sobre o valor justo dos ativos da estatal.
A Guide Investimentos disse que o balanço do terceiro trimestre de 2014 divulgado pela Petrobras na madrugada desta quarta-feira foi "uma peça de ficção". Já a XP Investimentos questionou qual a utilidade do documento "se não tem baixa contábil".
Na Bovespa, as ações da Petrobras, que acumulam perda superior a 70 por cento em relação à máxima história atingida em 2008, desabavam nesta sessão cerca de 10 por cento perto das 14h.
Em relatórios, analistas apontaram que a companhia divulgou o balanço para atender as obrigações com credores, sem ter incluído a dimensão das perdas decorrentes do sobrepreço de contratos que beneficiou ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos, segundo investigação do Ministério Público Federal.
Os dados operacionais de receita e produção da Petrobras referentes ao terceiro trimestre do ano passado já eram conhecidos, mas a publicação do balanço completo que deveria ter ocorrido em novembro foi atrasada devido à Lava Jato e a não concordância de auditores de ratificar os números.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse no balanço que a empresa concluiu "ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia".
Ao mesmo tempo, a companhia disse que continua trabalhando para produzir demonstrações financeiras auditadas.
Embora não tenha efetivamente reduzido o valor de seus ativos, a Petrobras apresentou um cálculo indicando potenciais baixas contábeis de mais de 60 bilhões de reais.
As estimativas que circularam na imprensa para as baixas contábeis eram de 10 bilhões de reais a mais de 50 bilhões de reais.
Segundo a corretora Planner, o valor da baixa contábil sugerido no balanço de 60 bilhões de reais é equivalente a 17,5 por cento do patrimônio líquido da Petrobras no fim de setembro de 2014 ou 47,7 por cento do valor de mercado da empresa, considerando as cotações de terça-feira.
Para a equipe da Planner, a preocupação de investidores sobre a saúde financeira da empresa vai continuar, até que se divulgue qual será de fato o nível do ajuste nos ativos imobilizados.
Em outra frente, o analista Marcel Kussaba, da Quantitas Asset Management, cita o temor no mercado de que a delicada situação financeira da companhia possa ter impacto em sua política de dividendos, à medida em que a estatal busque preservar caixa.
PROJEÇÕES
Com a divulgação do balanço, a Petrobras também forneceu projeções para geração de caixa operacional, investimentos e produção de petróleo em 2015, estimando uma situação de "folga em relação aos valores que julgamos suficientes para manter nossas operações com a liquidez necessária ao longo do ano".
Na avaliação do Credit Suisse, o orçamento estimado pela empresa de 31 bilhões a 33 bilhões de dólares neste ano representa um corte de 20 por cento sobre o investimento anual recente.
"Com relativamente pouca disposição de investidores nos últimos dias para começar a comprar ações da Petrobras, um corte de 20 por cento nos investimentos poderia ser uma boa 'desculpa' para fazer isso", escreveram os analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu, do Credit.
Por outro lado, o Credit Suisse alertou que a Petrobras ainda está "um pouco longe de desalavancagem significativa e sem fluxo de caixa positivo no curto prazo, importante fonte de criação de valor e fundamental para trazer investidores de longo prazo" para as ações da companhia.
(Reportagem adicional de Marta Nogueira, no Rio de Janeiro)
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