Unica: reajuste do diesel elimina possível benefício com aumento da gasolina
O aumento de 4% no preço da gasolina comercializada na refinaria, anunciado na sexta-feira (29/11) pela Petrobras após prolongadas discussões com o governo, poderia significar uma leve e pontual melhora na competitividade do etanol comparado com a gasolina, na avaliação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Mas a entidade destaca que o aumento de 8% no preço do óleo diesel, também anunciado na mesma data, elimina qualquer benefício em potencial para o etanol que o aumento da gasolina pudesse produzir.
“O impacto da alta do diesel no custo de produção do etanol é muito significativo. Devido ao grau de mecanização hoje na atividade agrícola, o diesel mais caro afeta plantio, colheita, carregamento e transporte. É um dos insumos mais importantes para a produção do biocombustível de cana,” explica o diretor Técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues. Ele lembra também que o aumento no custo do diesel provoca alta nos custos de outros insumos importantes para a produção do etanol.
“Além de tudo isso, a lei determina que a partir de 2014 as usinas terão que adquirir o S10, versão menos poluente do diesel e ainda mais cara. Assim, qualquer ganho de competitividade para o etanol com o aumento no preço da gasolina será praticamente neutralizado pelo aumento que o diesel vai gerar nos custos de produção.”
Os reajustes anunciados pela Petrobras também deixaram inalterado um dos maiores obstáculos para a ausência de investimentos na retomada do crescimento do setor sucroenergético brasileiro, que é a falta de previsibilidade na formação do preço da gasolina. A Petrobras informou que o Conselho de Administração da empresa aprovou a implementação de uma política de preços, mas por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação serão “estritamente internos à companhia.”
“Continuamos sem um sistema, uma fórmula com parâmetros claros e estáveis, que torne possível entender qual o embasamento para manter ou ajustar o preço da gasolina. Sem essa clareza e apenas com ajustes pontuais de forma aleatória, não é possível planejar um futuro com rentabilidade para o etanol,” explica o diretor da UNICA.
Segundo o executivo, a introdução de aumentos sem um critério claro e que não sofra alterações leva à falta de previsibilidade, o que mantém um grau elevado de insegurança e afugenta investimentos de longo prazo, principalmente na implantação de novas usinas: “O setor sucroenergético continua investindo em logística, infraestrutura, ampliação e renovação de canaviais e em novas tecnologias para melhorar a produtividade das usinas existentes. Isso tudo permite pequenos ganhos no volume de etanol produzido, mas não o suficiente para acompanhar a evolução da demanda projetada para os próximos anos.”
Para a UNICA, a pergunta que fica é a mesma que vem impedindo que o setor sucroenergético possa planejar ações futuras: afinal, quando acontecerá o próximo reajuste da gasolina? “É uma situação que afeta diretamente a rentabilidade da produção de etanol. Sem rentabilidade, não há como esperar que as empresas façam investimentos em novas unidades. Uma usina leva em média três anos para ficar pronta, e outros dois para operar a toda capacidade. Em cinco anos, a única perspectiva que existe hoje para quem se aventurar a construir uma nova usina é o prejuízo,” acrescentou Rodrigues, lembrando que neste momento, não há encomendas para novas usinas no Brasil. Entre 2002 e 2010, mais de 100 novas usinas foram inauguradas no país.
“A Petrobras enfrenta aumentos em seus custos de produção de gasolina da mesma forma que o setor sucroenergético, que paga mais por insumos, equipamentos, salários mais altos, encargos e terras. A diferença é que as perdas da Petrobras são acomodadas pelo governo com dinheiro público, enquanto as perdas do setor sucroenergético resultam em prejuízo para as empresas que produzem etanol, e perdas para toda a sociedade, como o aumento nos custos da saúde pública e a piora na qualidade do ar com o aumento no uso da gasolina e diminuição no uso do etanol, principalmente nas áreas urbanas,” concluiu Rodrigues.
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