Fala Produtor - Mensagem

  • Rui Seiti Kamimura Jr Conceição das Alagoas - MG 07/02/2010 23:00

    Soja transgenica versus soja convencional - Sobre as importantes observações do Sr. Angelo Miquelão Filho de Apucarana- PR:

    Explicando o fato da soja RR ser mais sensível que a soja convencional:

    1- Toda planta produz uma quantidade "X" de energia por meio da fotossíntese que é divida essencialmente em produção (exportação de fotoassimilados), em defesa (barreiras físicas e químicas) e manutenção (estruturas e mecanismos diversos). É uma balança, de um lado a produtividade, de outro manutenção e defesa.

    2- O melhoramento genético da soja visando aumentar a produtividade pendeu essa balança para o lado da produtividade, logo o uso de insumos como fertilizantes e produtos fitossanitários (herbicidas, fungicidas e inseticidas) teve de ser intensificado.

    3- A soja RR possui um mecanismo a mais a ser mantido, uma vez que necessita sintetizar um outro tipo de enzima EPSPs, a que não é inibida pelo herbicida glifosate.

    4- Ao contrário do que se pensa, a soja RR não é 100% resistente ao herbicida glifosate, uma vez que produz tanto a enzima sensível como a resistente e até hoje não se sabe qual a proporção de cada uma na soja RR em geral e muito menos por cultivar.

    5- A enzima 5-enlpiruvilshikimato-3-fosfato sintase (EPSPs) possibilita o funcionamento da Rota do Ácido Chiquimico que é o principal sistema de defesa das plantas, assim como o nosso sistema imunológico. Nessa rota são produzidos três aminoácidos essenciais: o triptofano, a fenilanina e a tirosina que por sua vez são precursores de substâncias como a lignina que forma a parede celular (barreira física), substâncias fungicidas, bactericidas e anti-herbívoria como fitoalexinas e taninos (barreira química), além da produção de um hormônio vegetal chamado ácido indolácetico (AIA) responsável pelo crescimento da haste principal e do sistema radicular, especialmente as raízes mais finas (capilares) que muito ajudam em períodos de seca. Substâncias herbicidas também são produzidas pelas plantas e inibidas por alguns herbicidas, ou seja vira um ciclo vicioso, aplicar e aplicar cada vez mais... O glifosato então possui um mecanismo de ação que mata as plantas que poderia ser comparado ao do HIV em humanos, ou seja destrói o sistema de defesa.

    6- A maioria dos técnicos explica a necessidade de aplicação de fertilizante foliar na soja RR devido ao fato dessa soja ser ineficiente na absorção desse elemento o que em parte pode explicar tal fato. Porém, de maior relevância estão os seguintes fatos:

    - Não só o Mn, como também o Co, o Zn, o B e o Cu fazem parte dessa rota como catalizadores de diversas reações químicas na formação das substâncias citadas no ítem 5;

    - É sabido que o glifosato possui carga negativa predominante, o que o torna forte agente complexante de cátions como Mn, Zn, Cu, Fe, Mg, Ca e Ni. Por isso não se deve misturar o herbicida com foliares a base de sais no tanque, apenas foliares já complexados como os EDTAs podem ser misturados. No solo o glifosato é fortemente fixado pelos óxidos de Fe e Al muito presentes na nossa condição tropical o que dá sustentação a muitos técnicos e pesquisadores a dizer que no solo ele é inerte. Porém é preciso lembrar que a maior parte do processo de absorção e disponibilização de nutrientes ocorre numa camada muito fina de solo chamada rizosfera constituída de microorganismos, solo, matéria orgânica e água na qual os nutrientes, especialmente os micronutrientes de carga positiva estão sujeitos a serem complexados pelo herbicida.

    7- Alguns microorganismos possuem rotas químicas semelhantes às das plantas. É só lembrar que a EPSPs resistente veio de uma bactéria do solo chamada Agrobacterium sp. Vários trabalhos comprovam efeito negativo de herbicidas na fauna do solo, especialmente em bactérias fixadoras de N. Na rota do Chiquimico são produzidas também substâncias que estimulam a formação de nódulos fixadores de N na soja.

    A tecnologia RR não deve ser encarada como uma prática cômoda de apenas diminuir o número de aplicações ou o repertório de técnicas de manejo de plantas daninhas, uma vez que gera o surgimento de plantas daninhas resistentes e de plantas cultivadas mais doentes e praguejadas.

    Além do uso de herbicidas, práticas como a rotação, não apenas sucessão de culturas devem ser adotadas, usando-se inclusive adubação verde, não apenas cultivos comerciais a fim de reduzir o uso de adubos e outros insumos, especialmente os herbicidas e ainda assim aumentar a produtividade quando for NECESSÁRIO.

    A tecnologia RR deve ser utilizada especialmente com a finalidade de "limpar" áreas praguejadas, nas quais a flora de daninhas seja bem controlada pelo herbicida. De que adianta a tecnologia se tiver de misturar mais herbicidas com o glifosato. Além de pagar pelo herbicida e pelos Royalts ainda pagar outro correndo o risco de usar um material mais sensível?!!

    Ter sempre o histórico da área com relação de culturas implantadas, análises de solo e folha a fim de saber qual o nutriente deficiente, pois pode não ser apenas o Mn ou nem o mesmo como eu observei em algumas áreas nas quais a soja RR manifestou deficiência de boro (vide rota do ácido Chiquimico).

    Observar à coloração interna dos nódulos da soja. Nódulos funcionais são vermelhos ou róseos internamente (cuidado com a sujeira de terras argilosas que pode deixá-los vermelhos também), nódulos brancos e verdes não estão funcionando.

    Faça reinoculação todos os anos, se possível até em outras culturas como as da safrinha e adubo verde a fim de aumentar o inóculo de rizóbio.

    Se o sistema de plantio direto estiver sendo bem conduzido durante um bom tempo e com o o apóio das análise de solo e folha, caprichar no potássio (participa ajudando a planta a se defender e a perder menos água), podendo em alguns casos reduzir um pouco o fósforo para não encarecer os custos. Atenção também aos micronutrientes especialmente nas RRs (vide rota do Chiquimico), ao que me parece, além do Zn que naturalmente é deficiente no cerrado, B também vem sendo negligenciado.

    Com as plantas não é diferente, se não cuidamos da saúde delas só nos resta viver para pagar a farmácia, quando podíamos estar investindo no supermercado (Tsuioshi Yamada).

    E para finalizar...

    Produtor, procure um profissional técnico ou agrônomo de sua confiança e juntos desenvolvam suas próprias tecnologias, seja na região, na sua cidade ou propriedade, pois "cada caso é um caso", não existe receita. Desde que com suporte técnico, acredite nas suas próprias ferramentas, troque experiências e prefira aquilo que é mais sustentável, ou seja bom para o seu bolso, para o ambiente e para toda a nossa sociedade.

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