Fala Produtor - Mensagem

  • Polan Lacki Curitiba - PR 26/02/2007 00:00

    Agricultores, abram os olhos: n&atilde;o se dediquem apenas &agrave; etapa POBRE do agroneg&oacute;cio.<br />Durante anos e d&eacute;cadas os produtores rurais est&atilde;o assistindo, com passividade, fatalismo e at&eacute; resigna&ccedil;&atilde;o, &agrave; reitera&ccedil;&atilde;o das seguintes distor&ccedil;&otilde;es que ocorrem nas cadeias agroalimentares:<br />-sobem os pre&ccedil;os dos insumos agr&iacute;colas e, conseq&uuml;entemente, os custos de produ&ccedil;&atilde;o das suas culturas, mas os pre&ccedil;os que os agricultores recebem pela venda das suas colheitas n&atilde;o aumentam na mesma propor&ccedil;&atilde;o; algo similar ocorre na produ&ccedil;&atilde;o pecu&aacute;ria<br />-quando as suas colheitas s&atilde;o abundantes, baixam os pre&ccedil;os que os agricultores recebem pelos seus produtos, por&eacute;m tal redu&ccedil;&atilde;o n&atilde;o necessariamente determina uma diminui&ccedil;&atilde;o nos pre&ccedil;os que os consumidores finais pagam nos supermercados<br />-os pre&ccedil;os dos fertilizantes e pesticidas aumentam supostamente, porque subiu o pre&ccedil;o do petr&oacute;leo e o valor do d&oacute;lar, mas quando quando estes dois &uacute;ltimos voltam aos seus n&iacute;veis normais, os pre&ccedil;os dos mencionados insumos agr&iacute;colas n&atilde;o diminuem<br />-baixam os pre&ccedil;os que os intermedi&aacute;rios lhes pagam pelo trigo, pela soja, pelo leite, pelo su&iacute;no vivo, mas eles nunca viram que os supermercados tenham baixado os pre&ccedil;os da farinha de trigo e do p&atilde;o, do azeite e da margarina, do queijo e do yogurt ou do presunto e das salsichas. Algu&eacute;m est&aacute; se apropriando destes lucros e esse algu&eacute;m nunca &eacute; o produtor rural.<br /><br /> Como conseq&uuml;&ecirc;ncia destas desfavor&aacute;veis rela&ccedil;&otilde;es de interc&acirc;mbio, os agricultores se v&ecirc;em obrigados a entregar uma crescente quantidade das suas colheitas, para poder adquirir uma mesma quantidade de insumos e de servi&ccedil;os. Nestas condi&ccedil;&otilde;es o poder de compra das suas &quot;commodities&quot; &eacute; cada vez menor. Aqu&iacute; reside uma important&iacute;ssima causa do empobrecimento dos produtores rurais, que &eacute; necess&aacute;rio corrigir e que, felizmente, eles mesmos podem faz&ecirc;-lo.<br /><br />Os agricultores est&atilde;o se defendendo, mas ainda lhes falta fazer...o mais importante.<br /><br /> Para compensar a &quot;eros&atilde;o&quot; da sua renda, causada por esta expropria&ccedil;&atilde;o dos seus lucros, os agricultores est&atilde;o aumentando a escala de produ&ccedil;&atilde;o, incrementando os rendimientos por unidade de terra e de animal e reduzindo os custos por quilo produzido. Isto significa que est&atilde;o adotando v&aacute;rias medidas que deveriam incrementar a sua renda. No entanto, o premio por esta maior efici&ecirc;ncia, em vez de beneficiar a quem realmente o merece (os produtores rurais), &eacute; absorvido pelos crescentes elos das cadeias agroalimentares. Isto acontece porque, desde que os insumos saem das f&aacute;bricas, at&eacute; que os alimentos cheguem &agrave;s prateleiras dos supermercados, existem cada vez mais e mais intermedi&aacute;rios: fabricantes de novos insumos, prestadores de novos servi&ccedil;os, processadores de mat&eacute;rias primas agr&iacute;colas, consultores de mercado e agentes de comercializa&ccedil;&atilde;o, empresas de publicidade, etc. Quase todos estes integrantes das cadeias agroalimentares, vivem das riquezas produzidas pelos agricultores. Como existem cada vez mais agentes intermedi&aacute;rios &quot;chupando&quot; o sangue do produtor rural &eacute; evidente que ele fica economicamente cada vez mais &quot;an&ecirc;mico&quot;.<br />Lamentavelmente, esta crescente expropria&ccedil;&atilde;o j&aacute; &eacute; t&atilde;o familiar aos agricultores em suas rela&ccedil;&otilde;es de interc&acirc;mbio, que eles pensam que est&atilde;o condenados a conviver con ela e que n&atilde;o podem fazer nada para elimin&aacute;-la. Nem sequer se d&atilde;o conta que &eacute; exatamente este processo expropiat&oacute;rio a principal causa da falta de rentabilidad e do generalizado endividamento dos produtores rurais. Eles j&aacute; cairam numa esp&eacute;cie de conformismo fatalista. As poucas vezes que protestam &eacute; para mendigar, sem &ecirc;xito, que os comerciantes e industriais les ofere&ccedil;am melhores pre&ccedil;os, ou para reivindicar, tamb&eacute;m sem &ecirc;xito, que os governos suavizem o seu empobrecimento concedendo-lhes cr&eacute;ditos subsidiados, refinanciando e finalmente perdoando as suas d&iacute;vidas.<br />E por que acontece tudo isto? Entre outras raz&otilde;es, porque os produtores rurais se encarregam apenas da etapa pobre e mais arriscada do agroneg&oacute;cio ( produ&ccedil;&atilde;o ) e delegam a terceiros a etapa rica (processamento e comercializa&ccedil;&atilde;o). Isto &eacute;, presenteiam ao setor agroindustrial, comercial e de servi&ccedil;os, a nata do agroneg&oacute;cio. Eles o fazem sem perceber que, antes do plant&iacute;o, durante el ciclo produtivo y depois da colheita, existe uma excesiva e crescente quantidade de institui&ccedil;&otilde;es e pessoas que lhes proporcionam servi&ccedil;os e produtos, alguns necess&aacute;rios e outros simplesmente prescind&iacute;veis ou substitu&iacute;veis. Tamb&eacute;m n&atilde;o se d&atilde;o conta de que alguns desses servi&ccedil;os e produtos que s&atilde;o realmente necess&aacute;rios, poderiam ser produzidos e/ou executados por eles mesmos, seja em forma individual ou grupal. Infelizmente os agricultores n&atilde;o o fazem, porque pensam que n&atilde;o s&atilde;o capazes de assumir como sua a execu&ccedil;&atilde;o de algumas das atividades da etapa rica do agroneg&oacute;cio. Se o fizessem se apropriariam de um percentual mais elevado e mais justo do pre&ccedil;o final que os consumidores pagam pelos alimentos.<br />Um eficiente produtor de aves, su&iacute;nos e leite deve ser, en primeir&iacute;ssimo lugar, um muito eficiente produtor (n&atilde;o comprador) de forragens/alimentos para seus animales.<br />O exemplo mais evidente desta excessiva e desnecess&aacute;ria depend&ecirc;ncia que os agricultores t&ecirc;m dos agroindustriais e comerciantes, &eacute; o caso das ra&ccedil;&otilde;es balanceadas. Na pecu&aacute;ria leiteira, em boa medida, tais ra&ccedil;&otilde;es poderiam ser suprimidas se os produtores de leite soubessem como cultivar pastagens de alto rendimento, se soubessem &quot;colh&ecirc;-las&quot; racionalmente atrav&eacute;s de um correcto pastoreio rotativo e se soubessem armazenar os excedentes para utiliz&aacute;-los nos per&iacute;odos de escassez. Muitos produtores rurais, al&eacute;m de dedicar-se &agrave; avicultura, &agrave; suinocultura e &agrave; pecu&aacute;ria de leite produzem, ou poderiam produzir, nas suas pr&oacute;prias terras ou em terras arrendadas, quase todos os ingredientes que coincidentemente as grandes empresas industriais utilizam na fabrica&ccedil;&atilde;o das ra&ccedil;&otilde;es (milho, sorgo, soja, alfafa, leucaena, gliricidia, mandioca, batata-doce, gr&atilde;os de girassol e algod&atilde;o, ram&iacute;, etc.). Infelizmente, em vez de produzir/fabricar eles mesmos as suas pr&oacute;prias ra&ccedil;&otilde;es, vendem estas mat&eacute;rias primas ao primeiro intermedi&aacute;rio que aparece en suas propriedades, o qual, posteriormente, as vende para a ind&uacute;stria fabricante de ra&ccedil;&otilde;es. Esta ind&uacute;stria depois de processar as mat&eacute;rias primas, agregar-lhes os componentes do n&uacute;cleo vitam&iacute;nico-mineral e de empacot&aacute;-las em atrativas embalagens, as vende a um segundo intermedi&aacute;rio que as transporta de volta, muitas vezes ao mesmo munic&iacute;pio do qual sairam tais commodities. Ao retornar ao munic&iacute;pio de origem, um terceiro intermedi&aacute;rio vende as ra&ccedil;&otilde;es, em muitos casos, aos mesmos agricultores que produziram os ingredientes com os quais foram fabricadas as ra&ccedil;&otilde;es que agora regressam &agrave;s suas propriedades de origem. Esta distor&ccedil;&atilde;o &eacute; simplesmente inaceit&aacute;vel e &eacute; &quot;corrig&iacute;vel/elimin&aacute;vel&quot; pelos pr&oacute;prios produtores rurais.<br /><br />Os agricultores est&atilde;o pagando os alt&iacute;ssimos custos dos &quot;passeios&quot; das colheitas que vendem e das ra&ccedil;&otilde;es que compram<br /><br />&Eacute; quase redundante afirmar que neste longo trajeto, de ida e de volta, que em muitos casos &eacute; de centenas e at&eacute; de milhares de quil&ocirc;metros, de fato s&atilde;o os produtores rurais que est&atilde;o pagando os fretes e ped&aacute;gios, os impostos em cada uma das v&aacute;rias transa&ccedil;&otilde;es, os ganhos de todos estes intermedi&aacute;rios, agroindustriais e comerciantes, a cara publicidade que os fabricantes de ra&ccedil;&otilde;es difundem atrav&eacute;s dos meios de comunica&ccedil;&atilde;o e os generosos sal&aacute;rios dos executivos das transnacionais que fabricam as ra&ccedil;&otilde;es. Em boa medida, estas despesas simplesmente poderiam ser evitadas/eliminadas, pois mais de 90% dos ingredientes das ra&ccedil;&otilde;es, nem sequer necessitariam sair das porteiras das propriedades nas quais foram produzidos. Tais ingredientes poderiam ir dos campos de colheita diretamente aos avi&aacute;rios, &agrave;s pocilgas e aos est&aacute;bulos, pertencentes aos mesmos agricultores que produziram estas mat&eacute;rias primas. Se adicionalmente considerarmos que o componente alimenta&ccedil;&atilde;o reponde por 80% do custo de produ&ccedil;&atilde;o na avicultura e na suinocultura e por 50% pecu&aacute;ria leiteira, fica muito claro o &quot;porque&quot; da falta de rentabilidade nestes tr&ecirc;s ramos da produ&ccedil;&atilde;o animal; o que n&atilde;o ganha cada produtor rural, ganham algumas dezenas de n&atilde;o produtores rurais. Reitero, esta irracionalidade deve e pode ser extirpada dos procedimentos dos agricultores.<br /><br />Ent&atilde;o, qual &eacute; a solu&ccedil;&atilde;o para diminuir esta &quot;sangria&quot;? Reduzir a depend&ecirc;ncia que os agricultores t&ecirc;m dos outros integrantes das cadeias; ou quando isto n&atilde;o for poss&iacute;vel, torn&aacute;-los menos vulner&aacute;veis &agrave; excessiva expropria&ccedil;&atilde;o dos mencionados elos. Como faz&ecirc;-lo? Organizando-se com prop&oacute;sitos empresariais de modo que eles mesmos, assumam de forma gradual, a execu&ccedil;&atilde;o de algumas atividades da etapa rica do agroneg&oacute;cio. Ali&aacute;s &eacute; o que j&aacute; est&atilde;o fazendo com muito &ecirc;xito, v&aacute;rias cooperativas especialmente no sul do Brasil; s&atilde;o cooperativas agr&iacute;colas que est&atilde;o se transformando em cooperativas agroindustriais. Inclusive os agricultores que n&atilde;o pertencem a nenhuma cooperativa, poderiam organizar-se en pequenos grupos para produzir, eles mesmos, alguns insumos ou pelo menos adquir&iacute;-los de forma grupal. Estes grupos de agricultores poderiam constituir seus pr&oacute;prios servi&ccedil;os ( de vacina&ccedil;&atilde;o e insemina&ccedil;&atilde;o artificial, de plantio, pulveriza&ccedil;&atilde;o e colheita, de assist&ecirc;ncia agron&ocirc;mica e veterin&aacute;ria, etc.). Tamb&eacute;m poderiam realizar em conjunto os investimentos de maior custo, efetuar a pr&eacute;-industrializa&ccedil;&atilde;o/processamiento inicial e comercializar os seus excedentes com menor intermedia&ccedil;&atilde;o, etc. A prop&oacute;sito, sugere-se ler o livro &quot;Desenvolvimento agropecu&aacute;rio: da depend&ecirc;ncia ao protagonismo do agricultor&quot; que est&aacute; dispon&iacute;vel na nova P&aacute;gina Web http://www.polanlacki.com.br/agrobr (especialmente os cap&iacute;tulos 5 e 11). L&aacute; est&atilde;o descritas v&aacute;rias medidas, de f&aacute;cil ado&ccedil;&atilde;o e baixo custo, por&eacute;m altamente eficazes, para incrementar a renda dos agricultores.<br /><br />E para concluir:<br /><br />1. Uma reflex&atilde;o em forma de pergunta: Por que nenhum fabricante de insumos, comprador de commodities agr&iacute;colas, agroindustrial ou intermedi&aacute;rio, se dedica &agrave; etapa de produ&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola e pecu&aacute;ria propriamente dita? A resposta &eacute; &oacute;bvia e elementar: porque &eacute; muito mais rent&aacute;vel, mais c&ocirc;modo y menos arriscado dedicar-se &agrave; etapa rica do agroneg&oacute;cio; todos os integrantes das cadeias agroalimentares j&aacute; se convenceram desta verdade, menos os agricultores <br /><br />2. Uma advert&ecirc;ncia: Embora seja importante, n&atilde;o &eacute; suficiente que os produtores rurais se integren &agrave;s cadeias agroalimentares. Eles devem ter como objetivos de curto, m&eacute;dio e/ou longo prazo, o prop&oacute;sito de tornarem-se os &quot;donos&quot; de alguns dos elos das referidas cadeias, como por exemplo: fabricar as suas pr&oacute;prias ra&ccedil;&otilde;es, comprar insumos, comercializar as colheitas em conjunto, incorporar-lhes valor e at&eacute; exportar em conjunto.<br /><br />3. Uma sugest&atilde;o aos produtores rurais que se dedicam apenas &agrave; etapa pobre del agroneg&oacute;cio e que executam todas as suas atividades em forma individual (comprar insumos, fazer investimentos de alto custo e comercializar os seus excedentes): abram os olhos antes que seja muito tarde. <br /><br />Cr&iacute;ticas e contribui&ccedil;&otilde;es ao artigo ser&atilde;o bem-vindas atrav&eacute;s dos E-Mails: [email protected] e [email protected]

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