Fala Produtor - Mensagem

  • Telmo Heinen Formosa - GO 10/11/2008 23:00

    Para desfazer um tremendo equívoco brasileiro, pergunto: por que o etanol brasileiro ganharia com a eleição de Obama, (ou até mesmo se tivesse sido McCain)?

    Parte-se do principio de que haveria uma redução da produção de etanol de milho, substituindo-o por etanol da cana-de-açúcar! Balela, pura balela...

    Primeiro, a sobretaxa de US$ 0.54/galão (de 3,785 litros) imposta às nossas exportações de etanol, ao ser supostamente retirada, beneficiaria o consumidor americano? É falso, uma vez que o mesmo valor seria GASTO para transportar álcool de dentro do Mato Grosso do Sul para o Estado amerciano do Illinois.

    Mas o pior é o seguinte: uma redução de 20 milhões de t de milho nos EUA, geraria um excedente de 20 milhões de t de milho no mercado mundial. Por quê nenhum jornalista analisa a consequência disto? Haveria enorme prejuizo para os plantadores brasileiros, e duplamente: Primeiro, aviltamento dos preços e, em segundo lugar, uma produção maior de frangos e suinos fora do Brasil, prejudicando nossos criadores destes animais.

    Então, cadê a vantagem da retirada da sobretaxa americana ao álcool importado?

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    DIÁRIO DE MARINGÁ - PR

    Assunto:

    AGRONEGÓCIOS - Informação: EUA consomem cerca de 500 bilhões de litros de gasolina por ano. O MUNDO: 1,5 trilhão.

    Durante a disputa pela presidência dos Estados Unidos da América (EUA), tanto o democrata Barack Obama quanto o republicando John McCain mencionaram, nos discursos, o Brasil como parceiro estratégico no fornecimento de biocombustíveis.

    Os dois candidatos se referiam principalmente ao etanol brasileiro, extraído da cana-de-açúcar, que é até três vezes mais barato que o etanol produzido em solo norte-americano, à base de milho.

    No duelo entre os senadores, venceu aquele que mais agrada ao setor sucroalcooleiro brasileiro.

    De acordo com o presidente da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar), Anísio Tormena, com Obama na Casa Branca as barreiras alfandegárias e o protecionismo contra o álcool combustível do Brasil devem diminuir.

    Fato que tende a resultar no aumento gradativo das exportações para os EUA.

    Obama já anunciou que quer misturar álcool à gasolina utilizada pelos americanos, o que o Brasil já faz há mais de uma década. Para isso, diz Tormena, ele sabe que precisará do etanol brasileiro.

    Em 2007, o Paraná produziu 1,8 bilhão de litros de álcool e, para este ano, espera-se 2,2 bilhões de litros. Pelo interesse dos EUA, apostaTormena, o crescimento da produção deve ser mantido nos próximos anos.

    O Diário: A eleição de Barack Obama vem acompanhada de uma expectativa de mudanças na matriz energética dos Estados Unidos.

    Pode-se dizer que o momento aponta para o aumento gradativo dos biocombustíveis em detrimento do petróleo?

    Anísio Tormena: Acreditamos que sim, apoiados na premissa de que o petróleo tende a ficar mais escasso e cada vez mais caro. Como o mundo não pode parar, é preciso que haja um combustível alternativo que atenda aos interesses de ordem ambiental. Os Estados Unidos já são um dos maiores produtores de etanol do mundo, produzem hoje 34 bilhões de litros contra 27 bilhões de litros do Brasil. A previsão inicial, para 2022, era de uma produção de 136 bilhões de litros de etanol. Obama, em um dos discursos, sugeriu uma proposta de 225 bilhões de litros de etanol para até 2022.

    O Diário: Os EUA mantêm subsídios para o etanol produzido a partir do milho. Esse protecionismo contra o álcool brasileiro, com Obama na presidência, vai continuar?

    Anísio Tormena: O protecionismo deve diminuir porque os EUA já estão desacelerando a produção de etanol a partir do milho. Eles produziram, em 2007, algo em torno de 300 milhões de toneladas de milho, 30% disso foi destinado para o etanol. É óbvio que esse milho começou a fazer falta no mercado de lá, para o consumo humano e para a ração animal. Então, para atingir as metas de produção de etanol que Obama propõe, eles teriam de ampliar em muito essa produção de milho, logo teriam mais problemas. E agora, em função dessa crise, não sabemos se os EUA vão continuar subsidiando o produtor de milho para a produção de etanol, que custa três vezes mais que o álcool obtido da cana-de-açúcar.

    O Diário: O setor sucroalcooleiro ganha ou perde com a eleição de Barack Obama?

    Anísio Tormena: Não sou expert em matéria de política internacional, mas entendo que as propostas do Obama são mais condizentes com a realidade do mundo, em relação ao presidente George W. Bush. Acredito até na possibilidade de redução das tarifas alfandegárias, para que possamos colocar nosso produto lá com mais facilidade. Hoje, os EUA são o maior importador do etanol brasileiro.

    O Diário: Então o senhor prevê um aumento das exportações de etanol para os EUA...

    Anísio Tormena: Há uma possibilidade concreta de crescimento das exportações, já que haverá a desaceleração do uso do milho para a produção do etanol americano. E o Brasil, que tem o etanol mais barato do mundo, deve aumentar significativamente as exportações para lá.

    O Diário: Fala-se na adição do álcool brasileiro no combustível norte-americano. É uma proposta possível no curto prazo?

    Anísio Tormena: É possível e está acontecendo em alguns estados norte-americanos onde já é mandatória a adição de etanol na gasolina. Até 2022, por lei, todos os Estados Unidos terão a obrigatoriedade de adicionar um porcentual entre 5% e 6% de álcool na gasolina.

    O Diário: O aumento das exportações para os EUA não encareceria o preço do álcool combustível no mercado interno?

    Anísio Tormena: Penso que não, até porque não podemos entregar no mercado um produto sem competitividade. Hoje somos viáveis porque ofertamos ao mercado um produto que é ecologicamente correto, economicamente viável e tecnicamente melhor que a gasolina. Não abandonaremos o mercado interno, até porque a indústria do carro flex veio para ficar.

    O Diário: O senhor citou que nosso etanol, à base de cana-de-açúcar, leva vantagem em relação ao etanol dos EUA, extraído do milho. Por que há essa diferença?

    Anísio Tormena: Temos aqui todos os requisitos para a produção da cana-de-açúcar, que me parece a matéria-prima que nasceu para a produção de biocombustível. Isso a Europa e os EUA, por questões climáticas, não têm. Na produção de etanol somos campeões mundiais em regime de chuvas, tecnologia, mão-de-obra e logística. Temos todos os atributos para o desenvolvimento dessa cultura.

    O Diário: A União Européia já afirmou que nosso álcool é fruto de desmatamento. Como o senhor avalia essa crítica?

    Anísio Tormena: Vejo com muita maldade por parte dos membros da UE, porque eles não têm o devido conhecimento sobre o Brasil. Para ampliarmos nossa produção de etanol não é preciso derrubar nem uma árvore, até porque na Amazônia não há clima favorável para produzir cana-de-açúcar. Queremos aproveitar as áreas degradadas do Brasil, mais notadamente no Centro-Oeste. Só em Goiás há disponível, para a plantação de cana, 15 milhões de hectares. E isso se daria na área da pecuária, porque de uns anos para cá começamos a fazer o uso racional da terra (confinando o gado). Com o avanço tecnológico, estamos produzindo, em uma mesma área, quantidades mais expressivas de açúcar e álcool.

    O Diário: O Paraná se destaca como o maior produtor de grãos no País. Qual a situação do Estado quando se trata do setor sucroalcooleiro?

    Anísio Tormena: Não vamos impedir o crescimento da área de grãos, mas a produção de etanol, apesar da crise, tem ainda muitas áreas no noroeste e no norte pioneiro do Paraná para se expandir. Na produção de cana, fala-se muito em zoneamento, definindo quais áreas são propícias para essa cultura. Aqui, o zoneamento é perfeito. Jamais teremos cana-de-açúcar no litoral, nos campos gerais, no sudoeste, onde o clima não permite, e no oeste, que é a região destinada à produção de grãos.

    O Diário: De que forma esse crescimento vai contribuir com a economia maringaense?

    Anísio Tormena: No Paraná, o setor sucroalcooleiro gera 80 mil empregos diretos e 500 mil indiretos. E nesse contexto, Maringá pode se considerar privilegiada porque, assim como Ribeirão Preto e Araçatuba, em São Paulo, pode ser considerada um pólo na produção de açúcar e álcool. Maringá é a capital do etanol no Paraná porque tem uma logística excelente e, futuramente, teremos o "alcoolduto", que vai reduzir os custos para levar nossa produção até o porto.

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