Fala Produtor - Mensagem

  • Paulo Duarte do Valle Presidente Prudente - SP 06/11/2008 23:00

    A ARMADILHA DO BOI A TERMO

    A classe produtora rural, tanto na agricultura como na pecuária, vem sendo desde há muito tempo, um exemplo de denodo, tenacidade e crença naquilo que faz, nunca deixando de sempre dar mais um passo à frente em busca de uma melhor tecnologia, principalmente após o Plano Real, em que os produtos agropecuários foram os principais responsáveis pela sua viabilidade, sustentação e também pela manutenção da inflação em índices compatíveis com a expectativa governamental.

    Na agricultura temos as novas técnicas de adubação e plantio e o advento das sementes transgênicas das mais diversas culturas, aumentando significamente a produtividade no campo e melhorando em muito a qualidade dos produtos agropecuários que chegam à mesa do consumidor final.

    Na pecuária, nos animais, investe-se em melhoramento genético, usando-se inseminação artificial, transferência de embriões, rastreabilidade, técnicas veterinárias. Nunca tivemos um contrôle fito-sanitário como se faz nos dias de hoje e temos um rebanho bovino com uma qualidade superior, tanto que o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo.

    Nos pastos, investe-se em adubação, divisão de pastagens, pastos rotacionados, infra-estrutura de manejo, confinamentos, tudo para se obter uma carne bovina da melhor qualidade, por isso ela é a mais vendida no mundo.

    E para que fazemos tudo isto? É claro, para termos a certeza de que quanto melhor fizermos, mais e melhor seremos remunerados pela industria frigorífica.

    Porém, não é isto o que vem acontecendo. Os frigoríficos exportadores (os grandes) estão cada vez mais organizados, fazendo de tudo para que o preço da arroba (@) não atinja o valor justo a ser pago ao produtor rural, mas sim o valor que lhes for conveniente. Quanto mais baixo melhor.

    É quando chega a entressafra, que o pecuarista, especialmente o que faz confinamento (ou semi) tem a oportunidade de recuperar os investimentos do ano todo, vendendo melhor o boi acabado. Aí no afã de garantir um preço futuro melhor, ele cai na armadilha do boi a termo. Porque não tem ninguém, por mais expert que seja, que possa adivinhar a que preço vai estar a @ nos mêses futuros, ou seja, de agosto até novembro.

    E fazendo-se a venda do boi a termo, dá-se aos frigoríficos a certeza de escalas de abates futuras, embora isto não represente nem 20% de suas necessidades, dando-lhes uma arma muito forte para manipulação do mercado. Quanto mais baixo melhor.

    Como exemplo, os grandes frigoríficos compram de grandes ou médios confinamentos em SP ou outro Estado, em torno 20.000 bois gordos ao preço do índice CEPEA-ESALQ + 1 ou 2% por @, o que equivaleria no dia 05/11/2008 a R$ 90,00/@ bruto, no prazo de 30 dias. Então todos estes bois, equivalentes a no máximo 5 dias de escala, são usados como argumento de que as escalas se alongaram e com isso derrubam as cotações. Essa venda só beneficiou o grande produtor (ou industrial agregado à pecuária), prejudicando como um todo o setor produtivo pecuário. Em síntese essa negociação foi um desastre para a pecuária de corte brasileira.

    Esta é a cilada que os grandes frigoríficos nos preparam a cada ano. Não vamos mais cair nela. Devemos vender nosso gado ao preço de mercado do dia, ou pior das hipóteses, na cotação do dia do índice ESALQ-BM&F, nunca com preço pré-fixado. Agindo assim estaremos valorizando nosso BOI. São os EXTERMINADORES DO FUTURO. Simplesmente querem nos aniquilar. Não nos querem mais como fornecedores. Não caia nesta armadilha. “companheiro”.

    O boiadeiro está virando, ou já virou canavieiro. Não por vocação, mas por obrigação. Uma questão de sobrevivência.

    PAULO DO VALLE

    Agropecuarista

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