Infelizmente o presidente da agricultura familiar vetou o projeto de lei que permitiria a adição de fécula de mandioca à farinha de trigo. Perde o pequeno agricultor e perde o Brasil. O Brasil precisa importar cerca de 50% do trigo consumido no País e nunca vai chegar a auto-suficiência, muito mais por falta de politica do que por motivos tecnicos. A adição da fécula beneficiaria as empresas do setor mandioqueiro e os produtores de mandioca, que em sua grande maioria são pequenos e familiares.
Quanto à qualidade do produto resultante da mistura, na maioria das vezes vai demandar apenas uma adaptação na receita, não interferindo no sabor e até melhorando algumas caracteristicas do pão. Isso porque a fécula de mandioca tem um baixo poder de retrogradação. Os amidos quando são cozidos absorvem água em sua estrutura. Ao esfriar tendem a voltar à forma original, expulsando a água para o ambiente. O amido (fécula) de mandioca, por sua estrutura ramificada, tem uma menor tendência a retrogradação. No caso da panificação esta é uma caracteristica interessante pois não liberando àgua a textura original do pão vai se conservar por mais tempo, ou seja o pão vai ficar mais crocante por mais tempo. Ganha a padaria e ganha o consumidor. No caso das massas eu já presenciei experiências no tempo da faculdade em que se adicionou até 30% de fécula em macarrão instantaneo sem notar-se diferenças no paladar, tempo de cozimento (aliàs o tempo de cozimento até é menor devido ao ponto de gelatinização mais baixo da fécula).
Se o Brasil consome cerca de 12 milhões de toneladas de trigo, se adicionarmos 10% de fécula de mandioca, teríamos uma demanda de 1,20 milhões toneladas de fécula, que representam cerca de 3,60 milhões toneladas de mandioca, que por sua vez demandam cerca de 180 mil hectares de mandioca. Considerando a hipótese de que cada produtor de mandioca possui cerca de 25 hectares destinados a esta cultura, se o presidente Lula tivesse sancionado a lei, teríamos cerca de 7.200 pequenos produtores familiares beneficiados com o custo de apenas algumas miligramas de tinta de caneta.
Quanto aos outros beneficios da lei haveria a economia de 1,2 milhões de toneladas de trigo importado que representam mais de meio milhão de reais em divisas. Mas isso não importa para um país "sólido" e com "uma balança comercial superhiperavitária"!!!. É lógico que alguém sairia perdendo se a lei passasse pelo veto do presidente... talvez estes nem morem no Brasil, mas este nosso pais, caridoso como é, pode beneficiar todos no Mundo, mesmo quem não precise.
Rodrigo Antonio Tonet
Agricultor, engenheiro químico ex-atuante no setor de mandioca
Infelizmente o presidente da agricultura familiar vetou o projeto de lei que permitiria a adição de fécula de mandioca à farinha de trigo. Perde o pequeno agricultor e perde o Brasil. O Brasil precisa importar cerca de 50% do trigo consumido no País e nunca vai chegar a auto-suficiência, muito mais por falta de politica do que por motivos tecnicos. A adição da fécula beneficiaria as empresas do setor mandioqueiro e os produtores de mandioca, que em sua grande maioria são pequenos e familiares.
Quanto à qualidade do produto resultante da mistura, na maioria das vezes vai demandar apenas uma adaptação na receita, não interferindo no sabor e até melhorando algumas caracteristicas do pão. Isso porque a fécula de mandioca tem um baixo poder de retrogradação. Os amidos quando são cozidos absorvem água em sua estrutura. Ao esfriar tendem a voltar à forma original, expulsando a água para o ambiente. O amido (fécula) de mandioca, por sua estrutura ramificada, tem uma menor tendência a retrogradação. No caso da panificação esta é uma caracteristica interessante pois não liberando àgua a textura original do pão vai se conservar por mais tempo, ou seja o pão vai ficar mais crocante por mais tempo. Ganha a padaria e ganha o consumidor. No caso das massas eu já presenciei experiências no tempo da faculdade em que se adicionou até 30% de fécula em macarrão instantaneo sem notar-se diferenças no paladar, tempo de cozimento (aliàs o tempo de cozimento até é menor devido ao ponto de gelatinização mais baixo da fécula).
Se o Brasil consome cerca de 12 milhões de toneladas de trigo, se adicionarmos 10% de fécula de mandioca, teríamos uma demanda de 1,20 milhões toneladas de fécula, que representam cerca de 3,60 milhões toneladas de mandioca, que por sua vez demandam cerca de 180 mil hectares de mandioca. Considerando a hipótese de que cada produtor de mandioca possui cerca de 25 hectares destinados a esta cultura, se o presidente Lula tivesse sancionado a lei, teríamos cerca de 7.200 pequenos produtores familiares beneficiados com o custo de apenas algumas miligramas de tinta de caneta.
Quanto aos outros beneficios da lei haveria a economia de 1,2 milhões de toneladas de trigo importado que representam mais de meio milhão de reais em divisas. Mas isso não importa para um país "sólido" e com "uma balança comercial superhiperavitária"!!!. É lógico que alguém sairia perdendo se a lei passasse pelo veto do presidente... talvez estes nem morem no Brasil, mas este nosso pais, caridoso como é, pode beneficiar todos no Mundo, mesmo quem não precise.
Rodrigo Antonio Tonet
Agricultor, engenheiro químico ex-atuante no setor de mandioca