Atenção... Vejam essa notícia: Varejo de alimentos faz hedge contra altas. (Isto não se chama de hedge, são contratos a termo....)
A disparada dos preços dos alimentos leva o varejo a rever seus contratos e buscar novas fórmulas com os fornecedores. Assim como algumas companhias aéreas fazem "hedge" para comprar combustível - contratam por um longo período a um preço fixo -, varejistas tentam "travar" preços, alongar prazos e até mesmo estocar mercadorias.
Com 330 lojas espalhadas em todo o país, a rede de fast-food Habibs fechou, em agosto do ano passado, um contrato com a Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, a compra de 1 milhão de quilos de gordura vegetal para fritura. Devido ao grande volume, o Habibs impôs como condição uma cláusula estabelecendo um preço fixo durante 12 meses. A Cargill, por sua vez, replicou a operação junto aos seus fornecedores de soja e algodão para fornecer ao Habibs. O contrato, muito usado por multinacionais como a Cargill, foi o primeiro do gênero feito pela brasileira Habibs e gerou a esta uma economia de R$ 2 milhões.
"Entre agosto de 2007 até hoje a diferença de preço já atinge 45%. Já nos primeiros três meses de contrato, economizamos 13%", diz Roberto Muniz, gerente de compras do Habibs, que está negociando com a Cargill a renovação do contrato. "Essa foi a nossa primeira parceria e provavelmente será difícil outro acordo de um ano. Estamos pleiteando seis meses, mas eles querem três", diz Muniz.
Além da Cargill, o Habibs está conversando com Sadia, Perdigão e outros fornecedores de carnes para fechar contratos de cerca de três meses. Atualmente, a compra de carne do Habibs é feita semanalmente, quando são compradas 150 toneladas. "Queremos mudar essa periodicidade porque é uma batalha toda semana", diz o executivo da rede que vende 7,5 milhões de esfihas por semana.
Para os hortifrutis, uma das soluções encontradas foi ir direto à plantação. A rede firmou uma parceria com dois grandes agricultores de tomate e cebola, do interior de São Paulo. O Habibs ajuda o agricultor com fertilizantes ou outros insumos e em contrapartida compra semanalmente 200 toneladas de tomate e cebola com 15% de desconto. "Para o agricultor essa parceria também é vantajosa porque o ganho dele ao vender para nós é o dobro em relação ao valor que ele consegue vendendo a um intermediário", afirma Muniz. Outra operação do Habibs para escapar da alta das commodities foi uma compra de farinha da Argentina, há quatro meses, com custo entre 15% e 18% inferior ao do mercado interno.
Mesmo com essas operações de "blindagem" contra a disparada de preços dos alimentos, o Habibs deixou o seu cardápio de 5% a 7% mais caro. "Estamos absorvendo a maior parte do impacto da alta dos alimentos. Não dá para repassar tudo porque corremos o risco de perder clientes. Na primeira semana de reajuste, chegamos a ter uma retração de 2% a 3% nas vendas, mas já recuperamos", disse Mauro Saraiva, diretor de produção e logística do Habibs, cujo faturamento este ano deve chegar a cerca de R$ 650 milhões.
A rede Giraffas, especializada em pratos executivos e lanches e com 270 unidades no país, exige de seus novos fornecedores um preço fixo durante seis meses.
Na área de varejo alimentar, o McDonalds é uma das redes que trabalham há algum tempo com contratos de "hedge" junto a fornecedores como a FSB Foods, que produz pão para hambúrguer. Mas o McDonalds não detalhou como funciona a sua operação.
Conhecida pelos pratos recheados com muita carne, a rede americana de restaurantes Outback está negociando contratos de prazos mais estendidos, de três e seis meses. "Com compras trimestrais e semestrais, estabilizamos os preços e ajudamos, por outro lado, a estruturar a cadeia fornecedoras com contratos garantidos", diz Salim Maroun, vice-presidente da rede.
Em 2007, o Outback serviu 170 toneladas de carne bovina nos seus 19 restaurantes no Brasil. Em outra frente, a rede está fazendo uma espécie de "engenharia de cardápio", dando destaque a outros tipos de carnes mais baratas. "Não são todas as proteínas que aumentam e, dessa forma, podemos ampliar a participação das carnes suínas e de frango e dos pescados para contrabalançar a elevação dos preços da carne bovina", afirma Maroun.
Em Porto Alegre, a Churrascaria Barranco, uma das mais tradicionais da cidade, mantém acordo com o frigorífico Mercosul não para "travar" preços, mas para garantir o fornecimento de carne bovina mesmo no período de entressafra do setor, durante o inverno. Segundo o sócio-proprietário Élson Furini, o consumo mensal de carne no restaurante é de oito toneladas.
A alta dos alimentos não está batendo só na porta dos restaurantes. Ao ver a disparada dos preços, a rede de supermercados maranhense Mateus está estocando mercadoria para driblar a alta.
"Já voltei a trabalhar com o pensamento dos tempos de inflação alta. Estou fazendo estoques", diz Ilson Mateus, dono do grupo com 12 lojas no Maranhão. Ele está comprando mensalmente mercadorias em dobro, para estocar. Os principais produtos armazenados são açúcar, óleo, arroz e feijão. Segundo ele, os fornecedores não têm sido receptivos às contrapropostas de preços dos varejistas.
"O duro dessa história é que preciso usar todo meu dinheiro para fazer estoque, enquanto podia usar para expansão das lojas", reclama Mateus. Ele diz que, em alguns casos, tem sido vantajoso até mesmo tomar dinheiro emprestado para antecipar as compras. "Os juros que vou pagar são menores do que os aumentos de preços de alguns alimentos." Além disso, segundo ele, a estratégia tem sido necessária para manter a clientela. "Se os preços sobem muito, as pessoas vão comprar menos porque não vão ter dinheiro para tudo."
Beth Koike, Carolina Mandl, Danilo Jorge e Sérgio Bueno, De São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre
Atenção... Vejam essa notícia: Varejo de alimentos faz hedge contra altas. (Isto não se chama de hedge, são contratos a termo....)
A disparada dos preços dos alimentos leva o varejo a rever seus contratos e buscar novas fórmulas com os fornecedores. Assim como algumas companhias aéreas fazem "hedge" para comprar combustível - contratam por um longo período a um preço fixo -, varejistas tentam "travar" preços, alongar prazos e até mesmo estocar mercadorias.
Com 330 lojas espalhadas em todo o país, a rede de fast-food Habibs fechou, em agosto do ano passado, um contrato com a Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, a compra de 1 milhão de quilos de gordura vegetal para fritura. Devido ao grande volume, o Habibs impôs como condição uma cláusula estabelecendo um preço fixo durante 12 meses. A Cargill, por sua vez, replicou a operação junto aos seus fornecedores de soja e algodão para fornecer ao Habibs. O contrato, muito usado por multinacionais como a Cargill, foi o primeiro do gênero feito pela brasileira Habibs e gerou a esta uma economia de R$ 2 milhões.
"Entre agosto de 2007 até hoje a diferença de preço já atinge 45%. Já nos primeiros três meses de contrato, economizamos 13%", diz Roberto Muniz, gerente de compras do Habibs, que está negociando com a Cargill a renovação do contrato. "Essa foi a nossa primeira parceria e provavelmente será difícil outro acordo de um ano. Estamos pleiteando seis meses, mas eles querem três", diz Muniz.
Além da Cargill, o Habibs está conversando com Sadia, Perdigão e outros fornecedores de carnes para fechar contratos de cerca de três meses. Atualmente, a compra de carne do Habibs é feita semanalmente, quando são compradas 150 toneladas. "Queremos mudar essa periodicidade porque é uma batalha toda semana", diz o executivo da rede que vende 7,5 milhões de esfihas por semana.
Para os hortifrutis, uma das soluções encontradas foi ir direto à plantação. A rede firmou uma parceria com dois grandes agricultores de tomate e cebola, do interior de São Paulo. O Habibs ajuda o agricultor com fertilizantes ou outros insumos e em contrapartida compra semanalmente 200 toneladas de tomate e cebola com 15% de desconto. "Para o agricultor essa parceria também é vantajosa porque o ganho dele ao vender para nós é o dobro em relação ao valor que ele consegue vendendo a um intermediário", afirma Muniz. Outra operação do Habibs para escapar da alta das commodities foi uma compra de farinha da Argentina, há quatro meses, com custo entre 15% e 18% inferior ao do mercado interno.
Mesmo com essas operações de "blindagem" contra a disparada de preços dos alimentos, o Habibs deixou o seu cardápio de 5% a 7% mais caro. "Estamos absorvendo a maior parte do impacto da alta dos alimentos. Não dá para repassar tudo porque corremos o risco de perder clientes. Na primeira semana de reajuste, chegamos a ter uma retração de 2% a 3% nas vendas, mas já recuperamos", disse Mauro Saraiva, diretor de produção e logística do Habibs, cujo faturamento este ano deve chegar a cerca de R$ 650 milhões.
A rede Giraffas, especializada em pratos executivos e lanches e com 270 unidades no país, exige de seus novos fornecedores um preço fixo durante seis meses.
Na área de varejo alimentar, o McDonalds é uma das redes que trabalham há algum tempo com contratos de "hedge" junto a fornecedores como a FSB Foods, que produz pão para hambúrguer. Mas o McDonalds não detalhou como funciona a sua operação.
Conhecida pelos pratos recheados com muita carne, a rede americana de restaurantes Outback está negociando contratos de prazos mais estendidos, de três e seis meses. "Com compras trimestrais e semestrais, estabilizamos os preços e ajudamos, por outro lado, a estruturar a cadeia fornecedoras com contratos garantidos", diz Salim Maroun, vice-presidente da rede.
Em 2007, o Outback serviu 170 toneladas de carne bovina nos seus 19 restaurantes no Brasil. Em outra frente, a rede está fazendo uma espécie de "engenharia de cardápio", dando destaque a outros tipos de carnes mais baratas. "Não são todas as proteínas que aumentam e, dessa forma, podemos ampliar a participação das carnes suínas e de frango e dos pescados para contrabalançar a elevação dos preços da carne bovina", afirma Maroun.
Em Porto Alegre, a Churrascaria Barranco, uma das mais tradicionais da cidade, mantém acordo com o frigorífico Mercosul não para "travar" preços, mas para garantir o fornecimento de carne bovina mesmo no período de entressafra do setor, durante o inverno. Segundo o sócio-proprietário Élson Furini, o consumo mensal de carne no restaurante é de oito toneladas.
A alta dos alimentos não está batendo só na porta dos restaurantes. Ao ver a disparada dos preços, a rede de supermercados maranhense Mateus está estocando mercadoria para driblar a alta.
"Já voltei a trabalhar com o pensamento dos tempos de inflação alta. Estou fazendo estoques", diz Ilson Mateus, dono do grupo com 12 lojas no Maranhão. Ele está comprando mensalmente mercadorias em dobro, para estocar. Os principais produtos armazenados são açúcar, óleo, arroz e feijão. Segundo ele, os fornecedores não têm sido receptivos às contrapropostas de preços dos varejistas.
"O duro dessa história é que preciso usar todo meu dinheiro para fazer estoque, enquanto podia usar para expansão das lojas", reclama Mateus. Ele diz que, em alguns casos, tem sido vantajoso até mesmo tomar dinheiro emprestado para antecipar as compras. "Os juros que vou pagar são menores do que os aumentos de preços de alguns alimentos." Além disso, segundo ele, a estratégia tem sido necessária para manter a clientela. "Se os preços sobem muito, as pessoas vão comprar menos porque não vão ter dinheiro para tudo."
Beth Koike, Carolina Mandl, Danilo Jorge e Sérgio Bueno, De São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre
14/07/2008
Marisa Cauduro/Valor Econômico