Comida boa na mesa e liderança silenciosa, por Coriolano Xavier
Em meio a toda essa crise brasileira, o agronegócio tem ido bem. Ano que vem, pode colher uma safra de grãos superior a 210 milhões de toneladas – voltando ao patamar recorde do país – e vem de uma história de crescimento médio de 4,8% e 2,7% ao ano na produção grãos e na produtividade, respectivamente, nos últimos 15 anos. Garantiu a segurança alimentar da nossa população e viabilizou excedentes exportáveis que hoje salvam a balança comercial do Brasil e dão mais tranquilidade ao mundo, na provisão de comida para o planeta.
Também avançou muito em qualidade e segurança dos alimentos, como mostra o último relatório da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sobre resíduos de agrotóxicos¹, indicando que 99% dos alimentos analisados estavam seguros para consumo imediato, sem risco agudo para a saúde dos consumidores. Entre os produtos monitorados, vários não tinham nenhuma amostra com problema (risco agudo zero), entre estes estavam campeões de consumo – como tomate, batata, cebola, banana, cenoura, arroz, mandioca e fubá. O que significa avanço concreto, pois houve tempo em que a inadequação sanitária de alimentos era, às vezes, caso de polícia.
Liderança é quem mostra rumos, quem puxa as vontades individuais para uma direção que se revele evolutiva para a sociedade. Uma causa justa e socialmente assertiva. Algo que vale à pena buscar, mesmo com esforço, pelos benefícios que pode trazer até onde a vista alcança. E o agro vem representando esse perfil de liderança para o país, de um modo silencioso e coletivo. Mas especificamente o que fez o agro, organicamente, na última década? O que de essencial e estratégico podemos tirar de sua trajetória?
Primeiro, fez uma profissão de fé: tocou uma agenda de modernização intensiva e atualização tecnológica contínua, sem concessões, sem tréguas e sem esmorecer até mesmo quando drones e automação já fazem parte da paisagem do campo, como agora. Assim, o agro brasileiro tornou-se competitivo aos melhores padrões internacionais e conseguiu fazer isso desenvolvendo uma tecnologia de feições tropicais, que confere ao país uma vantagem comparativa única nessa faixa do planeta. Enfim, fez uma opção estratégica para mudar a história do setor.
Depois, buscou gerar ambientes institucionais para que os produtores encontrassem soluções para desafios estruturais – como logística, crédito, capitalização, recursos humanos. Há muito ainda o que se fazer nessas áreas, mas a coisa andou e vem andando, pelo menos no que dependia dos produtores. O setor não ficou esperando por “salvadores”; coletivamente arregaçou as mangas e foi buscar conhecimento, aproveitando inclusive a fase de “boom” das commodities. Fez da bonança passageira a alavanca para construir um agro inovador, com benefícios para todo mundo – desde a qualidade da comida na mesa até o fôlego extra que vem dando aos combalidos cofres da nação.
Talvez, a principal lição que se pode tirar desse irriquieto e bem sucedido agro é até bem simples: sem mexer nos paradigmas e sem lidar com a realidade, não dá para sair de onde se está. De um modo geral, o futuro será tão grande quanto se sonhar. Mas é bom lembrar que não basta olhar com entusiasmo para frente. É preciso fazer escolhas, fazer mudanças, defrontando o legado do passado.
1- Relatório do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), divulgado pela Anvisa em 25/11/16.
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