Conservação do Solo: Ações e práticas conservacionistas, por Valdir Fries
A relevância em se tratar deste assunto, é dada a importância da RETOMADA de todo trabalho de difusão de tecnologia e investimentos necessários na implementação das praticas de conservação e correção do solo associada a demais praticas que venham garantir o aumento da produção agropecuária.
Muito já foi executado, porém se observarmos o que acontece hoje em determinadas áreas agrícolas, diríamos, nada foi realizado no passado.
Pelas imagens poderíamos acreditar que sejam estas áreas agrícolas que possam estar dando motivo e direito de qualquer ativista, cantor de cabaré, artistas ou quem quer que for, estarem condenando o AGRO como sendo os destruidores do meio ambiente.
QUAL A ATITUDE DO ESTADO PERANTE CASOS COMO ESTE?
Conservação de solo e água é uma matéria, conhecida no meio agronômico, tanto para a pesquisa como para a extensão rural.
Tanto a EMBRAPA, Secretarias de Estado da Agricultura do Paraná, do Rio Grande do Sul e do Estado de São Paulo, entre outros, através de seus Institutos de Pesquisa, das EMATER, COOPERATIVAS e empresas e associações correlacionadas, desde o inicio do processo de mecanização agrícola passaram a dedicar tempo e investimento para se combater o processo de erosão.
As diretrizes do Manual de Crédito Rural de 1965 já determinam inúmeras normativas em relação as obrigatoriedades exigidas em termos de conservação do solo para se obter a concessão do Crédito Agrícola. Diante da exigibilidade, qual o profissional da área agronômica que por ventura possa estar assinando um plano de custeio para um produtor rural obter financiamento do crédito agrícola a ser aplicado em uma área de lavoura nestas condições?
Áreas agrícolas com solo degradado, certamente devem apresentar índices de perdas significativos a qualquer intempérie climática que venha ocorrer entre o plantio e a colheita .
Sabemos que riscos climáticos extremos acontecem, e perdas de produtividade são extensivos…
Porém entre uma lavoura cultivada em solo bem conservado e estruturado, e uma lavoura implantada em um solo erodido e degradado, os índices de perdas são diferenciados quando da ocorrência de um mesmo evento de intempérie climática.
Maiores perdas, maiores custos. Aí fica a pergunta: NÃO serão estas áreas cultivadas em solos degradados que podem estar provocando aumento dos custos das apólices e inviabilizando a politica de seguro agrícola?
Precisamos sim de Programas de Governo, Não só de Programas Estaduais, mas também de um grande Programa do Governo Federal para proporcionar a difusão das práticas conservacionistas e condições técnicas e financeiras para recuperar as áreas degradadas.
O Brasil precisa investir para aumentar a capacidade de produção, e para viabilizar este aumento de produção que o mundo nos cobra, o Governo Federal tem que ir além do ABC.
Além do mais, para que tenhamos sucesso e resultado, precisamos também que o Estado e a União sejam firme na aplicação das restrições e penalidades em cima de quem NÃO aderir as boas praticas conservacionistas e ou provoquem degradação e depredação das praticas executas, seja na adequação das estradas, seja na recuperação e conservação do solo, no caso do Paraná, a Secretaria de Agricultura dispõe da Lei 8.014/84 que trata da preservação do solo agrícola.
https://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/PDF/lei_preserv_solo.pdf
Em muitos casos a aplicação da Lei se faz necessário, do contrário, sem fiscalização, os investimentos que se possa fazer na recuperação e conservação do solo, infelizmente, os riscos de perdas são iminentes e podem ocorrer, como já ocorreu em partes do que havia sido executado nas estradas de determinados municípios e em muitas áreas agrícolas.
Valdir Fries na época Extensionista da EMATER PARANÁ – Situação das estradas vicinais antes de executar a adequação, que aconteceu no anos de 1986 no município de Floresta, noroeste do Estado – Pr.
Toda soma de esforços foram fundamentais para desenvolver os trabalhos de conservação, tanto de pesquisa como de difusão e execução das práticas conservacionistas.
Mais especificamente na década de 1980, o Estado do Paraná investiu valorosos recursos do tesouro do Estado no fomento da implantação do projeto de microbacias integradas, realizando a adequação das estradas rurais e a implantação do sistema de terraceamento no interior das propriedades.
Adequação de todas as estradas municipais de Itambé foram realizadas entre os anos de 1987 a 1994 com recursos do Governo do Estado do Paraná em parceria com a Prefeitura Municipal.
Adequação de todas as estradas entre os anos de 1985 a 1986 no município de Floresta Paraná – Convenio Governo do Estado e Prefeitura. Coordenação técnica da EMATER – PR.
Muito foi realizado, e muito foi investido no Paraná, porém nem todos os produtores rurais, nem todas as administração de cada município beneficiado, deram o devido valor ao que deveria se dar.
Grande parte dos trabalhos executado no interior das propriedades foi destruído, partes pelo abandono dos serviços de manutenção dos sistema de terraceamento, e partes destruído por iniciativa dos próprios produtores rurais.
Também os leitos das estradas acabaram sendo degradados, neste caso grande parte da destruição foi provocada pelos operadores das maquinas dos serviços de obras das Prefeituras Municipais, quando da realização dos serviços de motoniveladora, acabavam patrolando o sistema de contenção das águas do leito das estradas.
Vinte e cinco anos após adequada, por falta de manutenção e ou destruição do sistema de contenção da água do leito das estradas, a erosão já vinha tomado conta do trecho.
Toda esta degradação, (verdadeira depredação do patrimônio), acabou comprometendo parte do sistema de conservação das microbacias hidrográficas que havia sido executado.
Ao longo do tempo tanto nas estradas como nas propriedades rurais, o processo de erosão voltou a provocar danos. Vimos solo erodido no leito das estradas, córregos e ribeirões sendo assoreados, transbordando e provocando enchentes e destruição em suas margens.
O Estado do Rio Grande do Sul também foi pioneiro na pesquisa e na difusão das praticas de conservação de solo, disponibilizando profissionais técnicos e recursos públicos, através da EMATER, com a participação do CLUBE AMIGOS DA TERRA, das Universidades Estaduais e Federais.
O Estado de São Paulo através da Secretaria de Agricultura, é mais um dos Estados da Federação que adotou politicas e vem avançando cada vez mais na implementação de Programas de Conservação do solo .
Sabemos que muito já foi feito pelos Governos destes três Estados, mas acredito que muito deve-se fazer nestes próximos anos.
Acredito que estes investimentos venham a acontecer, até porque observamos o interesse do Secretário de agricultura Arnaldo Jardim, sempre participando ativamente de eventos que tratam deste assunto, e tem priorizado projetos desta natureza (https://www.agricultura.sp.gov.br/noticias/boletim-tecnico-e-grupo-de-trabalho-sobre-conservacao-do-solo-na-cultura-de-cana-de-acucar-sao-lancados/). O que não é diferente no Paraná com o nosso Secretário de Agricultura Norberto Ortigara que tem retomado todo trabalho no sentido de revitalizar as praticas conservacionistas nas microbacias hidrográficas, e também o Secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, que mesmo diante de toda crise econômica que o Estado do RS atravessa, tem conseguido implementar as políticas do Programa de Conservação de Solo.
Os Governos precisam disponibilizar mais recursos para Programas desta natureza?
Sim. Dotação orçamentária é uma questão de prioridade.
Definir prioridade de investimentos nesta área é questão de Governo, e isto cabe a nós produtores rurais mostrar a importância dos investimentos em Conservação do solo e água para o aumento da produção.
O Brasil sofre com problemas de erosão nas áreas de produção de grãos e nas áreas de pastagens, porém, o que tem me chamado a atenção e me preocupa ainda mais (e fica um alerta aos Exmos Secretários), tanto para o Estado do Paraná como também para o Estado de São Paulo e demais Estados, é quanto a erosão e a degradação do solo nas áreas canavieiras uma vez que a situação de grande parte das lavouras são desastrosas.
Frente a crise do setor instalada nos últimos anos, produtores e alguns dos usineiros, deixaram de realizar investimentos em fertilização, e pior ainda, deixaram de realizar operações mecânicas de descompactação do solo no pós colheita da cana de açúcar.
Com a implantação da colheita mecanizada da cana de açúcar, os índices de compactação do solo são visíveis e aumentam a cada ano, isto tem provocado a degradação do solo e um aumento significativo do volume de solo erodido.
Este volume de solo e água escoado, tem causado enchentes nos fundos de vale, tem provocado destruição de pontes e bueiros, inclusive chegando a provocar o rompimento e interdição de rodovias, sem falar na deterioração da pavimentação da malha viária.
AS PRATICAS DE CONSERVAÇÃO DE SOLO E ÁGUA É DEVER DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E PRINCIPALMENTE DOS PRODUTORES RURAIS.
Investir em praticas conservacionistas é uma questão de prioridade, tanto por parte do produtor rural como também por parte dos Governos, sejam eles Governos municipais, estaduais ou federal. A retomada de todo trabalho de difusão que vinha se fazendo deve se multiplicar, antes que o processo erosivo se agrave ainda mais.
TECNOLOGIA E AGRICULTURA DE PRECISÃO?
Com a chegada das novas tecnologias mecânicas, se viabilizou a implantação do PLANTIO DIRETO, e tudo tem ficado mais fácil para o produtor rural com a chamada AGRICULTURA DE PRECISÃO.
Mas esta facilidade levou ao desleixo de muitos produtores, produtores que em nome da “AGRICULTURA DE PRECISÃO” acabaram por abandonar as boas práticas conservacionistas, superdimensionando suas maquinas diante da topografia da sua propriedade. Em muitos casos para ganhar tempo na execução das operações de plantio, tratos culturais e colheita, muitos dos produtores rurais vem colocando em risco toda camada de solo, simplesmente por estar praticando a mais “PRECISA” das imprecisões.
Com o sistema de terraceamento instalado e o plantio em nível, mesmo assim, quando se desafia a natureza, realizando os tratos culturais em terrenos com declividade acentuada, certamente o produtor estará abrindo caminhos verticais para o escoamento de água facilitando a formação de sulcos de erosão.
Áreas de cultivo nestas condições podemos visualizar ao longo dos caminhos que percorremos. Pelo riscado que ficou no solo, tanto da operação de plantio, dos tratos culturais e resíduos da colheita, a degradação do solo é acentuada… Por acaso, isto que é a tal da AGRICULTURA DE PRECISÃO?
Muitos dos Produtores passaram a realizar as operações desrespeitando a natureza, sem levar em conta a topografia do terreno, seguem plantando moro a baixo, cultivando na vertical e colhendo moro a acima.
Desta forma o volume de erosão compromete todas as praticas. Onde tem produtor rural direcionando as águas para as estradas, certamente lá nas baixadas, as estradas acabam direcionando as águas para as áreas de lavoura.
Problemas existem, e continuarão a existir nos casos que o produtor rural não realizar a construção e manutenção do sistema de terraceamento.
Lembrando sempre, a responsabilidade “dentro da porteira” é do produtor. Portanto é o produtor rural que deve preservar seu patrimônio e valorizar as praticas conservacionistas executadas com recursos próprios, e principalmente os investimentos subsidiado através dos Programas de conservação de solo e água, financiadas com recursos públicos, seja do Governo do Estado, do seu Município, e ou da União.
A GARANTIA DE ALTAS PRODUTIVIDADES E O ESCOAMENTO DA SAFRA SÓ ACONTECE COM A SOMA DAS PRATICAS CONSERVACIONISTAS
Se muitos produtores andam na contra mão, outra maioria continua mantendo o sistema de terraceamento em nível, com a base de terraço adequada ao declive do terreno e ao tamanho de suas maquinas e equipamentos, assim é possível continuar mantendo a propriedade integrada ao sistema de microbacias.
Ninguém vai realizar 100% dos serviços de manutenção de terraços a cada ano, mas todo ano o produtor tem que se preocupar em recuperar partes das áreas mais criticas que por ventura seja necessário, mesmo que seja através de uma simples subsolagem na bacia do terraço para aumentar a capacidade de infiltração da água armazenada.
Adubação com material orgânico (cama de frango e ou chorume dos dejetos de suínos e confinamentos) melhora a estrutura biológica do solo, além do uso do calcário que deve ser aplicado em conformidade com a analise de solo.
Com os cuidados necessários no manejo do solo, um sistema de terraços bem dimensionados pode durar 15 a 20 anos sem maiores problemas, e se feita a manutenção correta quando necessário, é um investimento que perdura para sempre.
Calcário e cama de frango sendo aplicado na lavoura para melhorar a estrutura química/física do solo.
Ao longo dos anos, mesmo com o plantio direto, vimos a necessidade de realizar a descompactação do solo em determinados talhões da propriedade, mesmo que de forma mecânica, mas necessária, dado à compactação, porém devemos fazer somente quando o solo apresentar condições de umidade favorável e com equipamento adequado para preservar a palhada na superfície.
A subsolagem deve ser realizada com equipamento adequado, e com o solo em condições favoráveis de umidade para que o solo seja descompactado e a palhada ficar preservada ao máximo na superfície da terra.
ESCOLHA DE CULTIVARES COM MAIOR CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE MASSA VERDE PARA SE TER UM BOM VOLUME DE PALHADA NA COBERTURA DO SOLO NO PÓS COLHEITA.
Produção de biomassa com a cultivo de cobertura e ou através de cultivares (principalmente de milho) com maior volume de massa verde, para se ter maior volume de palhada e assim aumentar os índices de matéria orgânica, cobertura de solo e a capacidade de infiltração de água no solo.
Adubação verde com o cultivo consorciado com aveia e nabo, é uma das solução mais adequada para formação de cobertura e aumento da matéria orgânica no solo – lavoura situada no Município de Itapejara D´Oeste – Paraná.
O Governo do Paraná já voltou a campo, e tem investido na revitalização dos projetos de microbacias:
Através do novo Programa de Conservação de Solo e Água, trechos das estradas rurais do Município de Itambé já foram recuperados em 2014/15 através de convenio entre a SECRETARIA DE AGRICULTURA DO PARANÁ e a Prefeitura Municipal de Itambé Pr, com acompanhamento técnico coordenado pela EMATER Local.
Também no Rio Grande do Sul, Governo do Estado lançou através de decreto publicado em 2015 dispõe a criação de um NOVO Programa de Conservação de Solo.
A Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo tem realizado investimentos e desenvolvido um grande trabalho por meio dos grupos gestores Estaduais, unindo o trabalho dos profissionais da Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada, do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, da Agencia paulista de tecnologia do agronegócio – Apta, e demais instituições do setor estão realizando todas as diretrizes das práticas e de investimentos em termos de conservação de solo.
Sabemos que outros Estados da federação tem algum tipo de investimentos em projetos desta natureza, e devem priorizar investimentos na CONSERVAÇÃO DE SOLO E ÁGUA.
Conservação do solo deve ser PRIORIDADE DE GOVERNO, e o próprio MINISTÉRIO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO já deveria de uma vez por todas criar um Programa Nacional de Conservação de solo e água, com dotação orçamentária o suficiente para se garantir todo sistema produtivo Brasileiro, para multiplicar o abastecimento de alimentos e o aumento das divisas para o País.
SAIBAMOS NÓS:
SOLO, ÁGUA, FERTILIDADE, TECNOLOGIA, SEMENTES CERTIFICADAS, TRATOS CULTURAIS E COLHEITA… SÃO OS ELEMENTOS, INSUMOS E PRATICAS NECESSÁRIAS PARA GARANTIA DE ALTAS PRODUTIVIDADES…
A OPERAÇÃO DO PLANTIO EM NÍVEL GARANTE VELOCIDADE CONSTANTE PROPORCIONANDO STAND DE PLANTAS UNIFORME…
SEGUINDO O SISTEMA DE TERRACEAMENTO O SULCO DE PLANTIO NA TRANSVERSAL PROPORCIONA MAIOR INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO…
SOLO BEM MANEJADO, USO DE SEMENTE CERTIFICADA COM TECNOLOGIA AGREGADA, NOS PROPORCIONA PERSPECTIVAS DE BOA PRODUTIVIDADE
Problemas existem em diversos Estados da Federação, felizmente os Estados acima mencionados já retomaram os investimentos, e nós produtores rurais, devemos estar junto com os Governantes cobrando das administrações Estaduais e municipais a implementação dos projetos de conservação de solo e água. Lembrando que conservação e recuperação de solo não se resumem em construção de terraços e adequação de estradas, e altas produtividades não acontecem simplesmente por uso de sementes com tecnologia agregada.
DEVEMOS PLANTAR, REALIZAR OS TRATOS CULTURAIS E COLHER SEGUINDO O TRAÇADO DOS TERRAÇOS, ACOMPANHANDO O NÍVEL DO TERRENO…
SOLO COMPACTADO, TERRACEAMENTO INADEQUADO… Podem ter certeza, MAIS DIA, MENOS DIA, tudo vai acabar indo água a baixo, e o prejuízo será todo seu.
Nós produtores rurais devemos ter nossas lavouras como uma constante área de pesquisa,
vistoriando e observando as plantas da lavoura em todo decorrer do ciclo da cultura, somando conhecimento a cada ano, buscando e aplicando novas tecnologia a cada safra, com objetivo de aumentar a produtividade, preservando cada vez mais o solo e a água de cada propriedade, para tirar proveito do potencial produtivo de cada planta, e consequentemente, obter os melhores resultados econômicos em cada colheita.
Aumentar a produtividade das lavouras a cada ano, esta é a nossa meta.
Edição e imagens do produtor rural Valdir Fries.
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