O impacto do aumento nos juros dos EUA no agronegócio brasileiro
Prezados amigos. Nas últimas semanas cresceram as apostas de que o Federal Reserve (FED na sigla em inglês), o banco central norte-americano, vai começar a regularização da política monetária já a partir de dezembro, com o aumento da taxa básica de juros. E mesmo que não venha a acontecer exatamente no próximo mês, certamente virá logo em seguida. Em função disso e após receber algumas demandas de clientes, entendemos o momento como interessante para avaliarmos os impactos que essa medida pode trazer para a economia brasileira, e mais especificamente sobre o agronegócio do país.
Primeiramente vale a pena entendermos porque os EUA precisam aumentar a sua taxa de juros. É importante levar em conta que juros de 0% não são normais e nem exatamente saudáveis no longo prazo para uma economia, por desestimular o fornecimento privado de crédito. Durante o fatídico ano de 2008, uma das principais medidas adotadas pelo FED para combater a explosão da mais grave crise financeira e econômica desde 1929, foi colocar a sua taxa básica de juros próxima de 0%, buscando estimular os investimentos e contribuir para que o país pudesse sair da recessão o mais rapidamente possível. Mas no momento atual o país cresce de forma sustentável e deve ter um avanço em 2015 próximo de 3,0%, tornando a medida desnecessária neste aspecto.
A ideia de juros mais altos passa também pela questão do controle das taxas de inflação. É bem verdade que a inflação neste momento nos EUA, próxima de 2% ao ano, por si só não representa ainda uma ameaça e não exigiria aperto monetário. Mas na opinião de diversos diretores do FED, uma alta leve e gradual dos juros teria um efeito profilático sobre a economia, e psicológico sobre os agentes financeiros, ao mostrar clareza e firmeza no controle de qualquer ímpeto inflacionário mais forte que naturalmente irá surgir logo à frente. Teria também o aspecto igualmente psicológico de demonstrar que o ritmo da economia do país está normalizado. E por último, atuar no sentido de atrair investimentos de volta para economia norte-americana, depois de ter se espalhado pelo mundo a partir de 2008.
O impacto sobre os países emergentes de juros subindo nos EUA tende a ser diferente de um país para o outro. Mas no caso do Brasil, considerando o atual estágio vivenciado de degradação moral, política e econômica, os efeitos devem ser mais acentuados. Na sequência enumeramos os principais efeitos esperados:
» Valorização do dólar. Ao aumentar os juros, o FED diminuirá a oferta de dólares em sua economia, provocando valorização sobre as demais moedas. Notadamente as moedas dos países emergentes. No caso brasileiro, que já enfrenta grave crise cambial, mantendo a necessidade de mais reais para comprar o mesmo dólar.
» Fuga de capitais. O aumento dos juros deixará os títulos do governo dos EUA mais atraentes, tendendo a provocar a saída de parte dos capitais atualmente estacionados em economias de maior risco.
» Aumento da inflação. O avanço para cima na taxa de câmbio tende a trazer impactos inflacionários em função da elevação dos preços dos produtos importados.
» Manutenção de juros altos. Juros mais altos nos EUA tende a provocar a necessidade de juros altos nos países emergentes para evitar que a fuga de capitais seja muito acentuada.
» Pressão sobre o mercado de ações. A diminuição na disponibilidade de capitais no mundo tende a reduzir os investimentos nos mercados acionários dos países periféricos.
Especificamente em relação ao agronegócio brasileiro, entendemos que os impactos diretos e mais importantes tendem a acontecer nas seguintes direções: câmbio alto traz efeito na formação dos custos de produção, na parte que diz respeito aos insumos que são importados, engolindo parte da renda dos produtores; por outro lado mantém os preços em reais elevados nos produtos que tem a sua formação de preços ligada às paridades de exportação ou importação, mantendo o estímulo ao cultivo de produtos como a soja, milho e café; juros elevados aumentam os custos dos empréstimos para custeio, investimento ou comercialização, também apertando a renda do setor; e a fuga de capitais tende a diminuir ainda mais a já enfraquecida disponibilidade de crédito.
É preciso também destacar que o processo não deve ser o fim dos tempos para as economias emergentes e para o agronegócio brasileiro. Embora os impactos citados tenham a tendência de acontecer imediatamente, possivelmente a intensidade deve ser amortecida caso se confirme a expectativa de elevação gradual das taxas. É mais ou menos um consenso de que essa primeira elevação deve ser na ordem de 0,25% e o tempo para chegar a uma taxa na casa dos 3,00%, que é um ponto de equilíbrio imaginado para o longo prazo, vai depender do andamento da economia dos EUA, especialmente no balanço entre crescimento econômico e preços. Mesmo assim, não tem muito jeito: a notícia, especulada pelo mercado financeiro durante todo este ano, deve vir em péssima hora para o Brasil.
Um “AgroAbraço” a todos!!!
Flávio Roberto de França Junior
Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria
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