Aditivos em rações, por Décio Luiz Gazzoni e Heber Luiz Pereira
Existem diversos aditivos que podem ser adicionados na formulação de rações para animais, ou para complementar a alimentação por pastoreio no campo. Podem ser uma substância, micro-organismo ou produto formulado, adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizado normalmente como ingrediente, que apresentam benefícios quando ingeridos pelos animais. Também servem para conservar, intensificar ou modificar as propriedades do alimento melhorando a nutrição, com desdobramentos na melhoria de sua saúde. Sua ação pode implicar no aumento do teor disponível ou na qualidade dos nutrientes, ou melhorar a eficiência de absorção e de seu aproveitamento pelos animais. Além desses benefícios, o uso de aditivos pode reduzir o custo da alimentação, devido ao melhor aproveitamento dos alimentos.
No caso dos animais ruminantes, a elevada eficiência de aproveitamento de pastagens é devida à microbiota presente em seu rúmen. São os microrganismos (bactérias, protozoários, fungos) que auxiliam na digestão, disponibilizando aos animais nutrientes básicos como carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos, sendo a principal fonte de proteína a de origem microbiana.
Para bem exercer essa função, os microrganismos necessitam de nutrientes diversos como vitaminas e sais minerais, e um ambiente favorável em termos de pH e oxigênio, a fim de atingir máxima eficiência na digestão do alimento ingerido pelo animal. Os aditivos são úteis na fermentação ruminal, propiciando melhoria da eficiência da digestão do alimento. Além de beneficiar as bactérias úteis, os aditivos também atuam desfavorecendo ou eliminando bactérias que são prejudiciais ao processo digestivo dos ruminantes.
Melhoria nutricional
Para serem usados na alimentação animal, os aditivos necessitam ter registro no MAPA. Conforme a Instrução Normativa 13/04 (alterada pela Instrução Normativa n° 44/15) os aditivos, de acordo com suas funções e propriedades, podem ser classificados como tecnológicos, sensoriais, nutricionais, ou zootécnicos. Cada aditivo cumpre uma função, razão pela qual são adicionados de acordo com as necessidades específicas de cada situação.
Na classe de aditivos zootécnicos estão os probióticos, melhoradores de desempenho e enzimáticos, que auxiliam no crescimento e equilíbrio do microbioma ruminal, inclusive eliminando substâncias tóxicas, como sais do ácido lático e micotoxinas. Ao melhorar a degradação de produtos complexos até nutrientes assimiláveis, podem aumentar o potencial produtivo e reprodutivo dos animais e mitigar o efeito do estresse calórico. O uso de óleos essenciais, como um aditivo tecnológico, melhora a digestão das fibras e reduz a produção de metano pela fermentação, o que diminui a emissão de gases de efeito estufa.
Diversas vitaminas são utilizadas como aditivos nutricionais, em especial biotina (B7 ou H), niacina (B3 ou PP) e colina (B8). Essas duas últimas tem utilidade na redução da ocorrência de lipidose hepática ou síndrome do fígado gorduroso, que é um distúrbio metabólico comum aos ruminantes, provocada pelo desequilíbrio entre a captação hepática dos ácidos graxos e sua utilização. Em vacas com peso acima do normal, ao parir, ocorre mobilização da gordura estocada para atender a demanda energética do parto, sobrecarregando o fígado, situação em que aditivos à base de niacina e colina são úteis, inclusive prevenindo a ocorrência de cetose. A biotina é normalmente produzida pelos microrganismos do rúmen, sendo indicado como aditivo apenas em caso de deficiência.
Saúde dos animais
Em algumas situações os aditivos são utilizados para melhoria da saúde animal. Por exemplo, podem ser adicionados antibióticos chamados de ionóforos, como a monensina, cuja função é eliminar apenas as bactérias cuja presença no rúmen é prejudicial. Como exemplo, pode-se eliminar as bactérias que produzem ácido lático, ácido fórmico, hidrogênio e metano, reduzindo a acidose ruminal e melhorando a eficiência energética da fermentação. A monensima também seleciona as bactérias produtoras de ácido succínico e propiônico, que são desejáveis no processo fermentativo.
Os aditivos à base de sais aniônicos facilitam a absorção de cálcio no intestino, melhorando o teor desse elemento no sangue. Sua utilização no mês anterior à data prevista para o parto previne a hipocalcemia e retenção da placenta.
Ao alimentar o gado com silagem ou grãos, pode ocorrer a presença de fungos que produzem micotoxinas (fumonisinas, aflatoxinas, zearalenona, don, zearalenona, tricotecenos e ocratoxina A, entre outras). As toxinas prejudicam o ganho de peso, a produção leiteira e a capacidade reprodutiva, e no limite, podem provocar a morte dos animais. Existem substâncias denominadas adsorventes de micotoxinas, que possuem a capacidade de imobilizar quimicamente e eliminar essas toxinas.
Existe um teor de acidez (pH) ótimo para atingir o máximo de eficiência da digestão dos alimentos, promovida pelos microrganismos do rúmen. Foi observado redução do pH do rúmen quando o animal é alimentado continuamente com alimentos concentrados ou forragens com alta trituração. Nesses casos, tem sido usado o bicarbonato de sódio como aditivo tecnológico, para adequar o pH, evitando a acidose e seus impactos negativos na eficiência da digestão.
Pelo exposto verifica-se a importância dos aditivos para alimentação de animais ruminantes, melhorando o processo nutritivo, a saúde animal e reduzindo custos. Seu uso deve ser limitado as quantidades recomendadas, pautado pela necessidade e prescrito por profissionais habilitados, de conformidade com os objetivos de cada situação.
Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.
Heber Luiz Pereira é zootecnista, pós doutorando da UEM/Embrapa.
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